Energia

Na Raízen, a hora da colheita chegou — os investidores agradecem

Companhia reforça a investidores a disciplina na alocação de capital como o ponto principal para a estratégia do próximo ano-safra

Shell e Raízen

A mensagem do CEO da Raízen, Ricardo Mussa, para a safra que acaba de começar é clara. Depois de um longo ciclo de investimentos, a companhia espera começar a colher os frutos, otimizando a estrutura de capital.

Nos últimos anos, a controlada de Cosan e Shell dedicou recursos a iniciativas de capital intensivo, como a construção de uma refinaria na Argentina, o multibilionário plano de construção de usinas de etanol de segunda geração (E2G) e a recuperação de canaviais. Agora, é hora de entregar. 

Por enquanto, as ações responderam timidamente. Nesta terça-feira, subiram 0,67%. No ano, a desvalorização é de mais de 25%. Na bolsa, a Raízen está avaliada em pouco mais de R$ 30 bilhões.

Em teleconferência com analistas nesta terça-feira, Mussa reiterou a confiança no negócio. Para ele, há um belo upside para as ações, especialmente considerando a maior geração de caixa da companhia que vem pela frente.

Na próxima safra, o aumento no indicador deve vir de um combo de eficiência operacional (maior produtividade dos canaviais), aumento dos preços do açúcar, redução de taxas de juros e reciclagem de portfólio.

“Nossa conversão de fluxo de caixa em equity aumentou três vezes na comparação anual”, afirmou Carlos Moura, CFO da Raízen, na apresentação aos investidores.

Futuro

O argumento de melhorar o retorno da companhia ganhou contornos mais práticos com o guidance recém-divulgado pela companhia. Para o próximo ano-safra, a Raízen estima um Ebitda ajustado de R$ 14,5 bilhões a R$ 15,5 bilhões, refletindo um aumento de pelo menos 10% em relação ao resultado atual.

Ao mesmo tempo, a companhia vai diminuir investimentos — refletindo principalmente o fim do período mais intenso de renovação dos canaviais — passando para um intervalo de R$ 10,5 billhões a R$ 11,5 bilhões. Na safra passado, foram R$ 12,6 bilhões na safra 23/24.

“Fizemos uma colheita histórica, com recordes de moagem. A eficiência na colheita nos permitiu absorver os efeitos da inflação, uma vez que essa colheita foi impactada por mais dias de operação e aumento de preços”, disse Mussa.

Em uma análise que considera o ponto médio de ambos os indicadores, os analistas Thiago Duarte e Pedro Soares, do BTG Pactual, apontam que a Raízen vai conseguir chegar ao breakeven do fluxo de caixa recorrente na próxima safra. Na safra 23/24, a equipe aponta uma queima de caixa de R$ 5,2 bilhões.

A conta dos analistas considera a diferença da dívida líquida da Raízen em relação à última safra. Para compor o cálculo, os analistas incluem na dívida líquida os adiantamentos de clientes — partindo do racional de que se trata de um financiamento comercial, uma vez que o serviço será prestado no futuro sem recebimento — e o pagamento de dividendos.

A partir desse mesmo cálculo, a equipe considera uma alavancagem (medida pela relação entre dívida líquida/Ebitda) de 2,4 vezes para a Raízen (assumindo que a dívida líquida total é de R$ 30,9 bilhões, e não de R$ 19 bilhões). Contabilmente, a companhia reportou 1,3 vez.

Para onde vai o dinheiro?

No caminho para gerar mais resultados aos investidores, a Raízen deu pistas de que não deixará de lado os investimentos em etanol de segunda geração (ou E2G, no jargão).

Aos investidores, Mussa ressaltou os aprendizados com as plantas do combustível e o potencial de mercado a ser conquistado daqui para frente. Hoje, a Raízen tem em operação a maior usina desse tipo no mundo, a Bonfim, na cidade de Guariba (SP). Outras duas usinas devem entrar em operação no fim deste ano.

Com o preço spot do E2G em 1.000 euros por metro cúbico, a Raízen espera boas margens. “Ainda não há um mercado, somos os únicos produzindo. Recentemente, o Reino Unido anunciou uma mudança de olho em mais sustentabilidade e já existe demanda dos EUA para produzir SAF [combustível para aviação sustentável] a partir do nosso E2G”, afirmou o CEO no call desta terça-feira, ressaltando que o combustível deve gerar caixa.

A ambição de licenciar a tecnologia segue viva, com atuação da companhia principalmente nos Estados Unidos (na Louisiana e na Flórida) conversando com produtores de cana. O primeiro passo, segundo a empresa, é fazer o licenciamento da tecnologia no Brasil primeiro antes de ir para outros mercados — por causa de questões relacionadas à familiaridade da produção de etanol por aqui.

Para o ano, o CEO também vê boas perspectivas para a comercialização de etanol “tradicional”. Enquanto no ano passado a queda de demanda influenciou os resultados da companhia, neste início de 2024 Mussa mencionou um aumento de 70% na procura dos consumidores pelo combustível — o que também deve influenciar positivamente os resultados da companhia.

Há uma demanda a ser explorada no Norte e Nordeste do país, que a Raízen deve começar a atender de forma mais contundente a partir do Terminal de Santarém, construído no ano passado.