
Três anos após gastar mais de R$ 700 milhões para adquirir a Santa Vitória, a Jalles Machado ainda patina para destravar o potencial produtivo da usina mineira.
Com as dificuldades em dar tração à usina caçula, antes tida como uma avenida de crescimento, a Jalles se vê diante de um dilema: a Santa Vitória continuará sendo enxergada pelo mercado como um “diamante em lapidação”, ou passará a ser vista como uma “criança problemática”?
A pergunta foi colocada por Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, analistas do BTG Pactual, em um relatório divulgado nesta terça-feira.
Os analistas lembram que a aquisição ampliou a capacidade produtiva da Jalles em 46%, a maior expansão desde o IPO. “A Santa Vitória sempre se destacou pelo potencial inexplorado, associado à combinação de logística compacta, potencial de receitas e ganhos de escala”.
Apesar disso, a expectativa de aumento da produtividade até aqui não se confirmou, e a usina “vem ganhando uma reputação de criança problemática”, escreveram os analistas.
Potencial para ser o carro-chefe
Em uma tentativa de virar a página e afastar a pecha de usina problemática, a Jalles aproveitou o recente Investors Day — realizado em 26 de junho — para destacar iniciativas operacionais e reafirmar a crença no potencial da Santa Vitória.
O BTG Pactual lembra que a Jalles considera essa a sua usina potencialmente mais lucrativa, uma avaliação corroborada pelos analistas.
“Com capacidade de moagem de 2,7 milhões de toneladas, um raio de alcance pequeno, de 23 km, e rios próximos, o local é logisticamente eficiente e tem potencial de irrigação”, escreveram o analistas.
A meta de longo prazo da Jalles é produzir 90 toneladas por hectare, “em linha com as demais unidades”. Nas contas do BTG Pactual, reduzir o custo por tonelada para o nível das outras três usinas do grupo, localizadas em Goiás, adicionaria R$ 135 milhões ao lucro operacional da Jalles. Isso significaria um aumento de 32,2% em relação ao lucro operacional na safra 2024/25, que foi de R$ 419 milhões.
Os analistas lembram ainda que a unidade tem um contrato de exportação de energia de 270 GWh até 2045, que adiciona R$ 60 milhões ao ano em Ebitda recorrente. Na última safra (2024/25), a Jalles fez um Ebitda de R$ 1,4 bilhão.
Irrigação, genética e orgânicos
Segundo o BTG Pactual, as soluções para destravar o potencial produtivo da Santa Vitória passam por irrigação, pluralidade genética e açúcar orgânico.
A Santa Vitória tem 34 mil hectares plantados, dos quais 19 mil já têm irrigação: são 17,7 mil hectares sob sistemas suplementares e 1,6 mil hectare com pivôs.
“A Jalles planeja adicionar mais 7,3 mil hectares de pivôs de irrigação, aumentando a resiliência climática e destravando ganhos de produtividade”, descreve o relatório.
Outro vetor diz respeito ao front genético. Segundo o BTG Pactual, antes da aquisição pela Jalles, mais da metade da área plantada na Santa Vitória dependia de uma única variedade de cana, “o que aumentava o risco de pragas e reduzia a produtividade”.
Agora, com um ritmo de replantio de 14% da área por ano, os primeiros resultados com as novas cultivares são animadores, diz o banco.
A terceira aposta é na consolidação da produção de açúcar orgânico, cujos preços têm subido — ao contrário do açúcar refinado — no embalo de um aumento da demanda de 6% a 7% ao ano. Segundo o banco, a exposição a esse nicho “é um claro potencializador de margem, e um diferencial valioso em um mercado volátil”.
A necessidade de investimentos
Esses movimentos vão demandar um desembolso modesto de capex, segundo o BTG Pactual. Segundo o banco, o ciclo de investimentos na Santa Vitória está quase concluído, faltando uma última parcela de R$ 257 milhões, e a alavancagem segue sob controle.
“Embora isso signifique abandonar oportunidades de alto retorno, como o etanol de milho, vemos a lógica”, referendam os analistas.
Com base nas projeções atualizadas pela empresa, o BTG Pactual reviu as principais linhas do balanço. O faturamento agora é estimado em R$ 2,2 bilhões no ano fiscal de 2026, 13,2% abaixo da projeção anterior. O Ebitda para 2026 foi reestimado em R$ 1,4 bilhão, 14,6% a menos do que a estimativa anterior.
Para 2027, a projeção de receita foi cortada em 11,2%, para R$ 2,5 bilhões, e a de Ebitda foi diminuída em 10,2% para R$ 1,6 bilhão.
Embora tenha reiterado o ceticismo quanto à criação de valor por meio de fusões e aquisições no setor sucroenergético, o BTG Pactual ressaltou que a companhia “parece ter os alicerces para gerar o esperado aumento de produtividade”.
O banco manteve a recomendação de compra para as ações (JALL3), com preço estimado em R$ 6 (contra R$ 8 na projeção anterior).
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As ações (JALL3) da Jalles Machado caem 0,5% nesta terça-feira, cotadas a R$ 3,83 por volta das 16h. Nos últimos 12 meses, acumulam queda de 47,9%. A empresa é avaliada em R$ 1,2 bilhão na Bolsa.