
A derrocada dos preços do arroz está castigando os produtores gaúchos, especialmente aqueles que aproveitaram o boom das cotações do ano passado para expandir as operações.
Um dos casos mais emblemáticos é o da SVP Agrícola, companhia de Fernando Stein que chegou a anunciar planos ambiciosos para chegar aos 80 mil hectares de área plantada.
Pressionados pela maior safra brasileira em oito anos, os preços do arroz caíram mais de 30% desde o início do ano, espremendo as margens dos arrozeiros.
Havia a expectativa de que as exportações pudessem escoar parte do excesso de produção, mas as importações — sobretudo do Paraguai — acabaram superando as exportações nos primeiros anos da safra, entre março e maio, segundo a consultoria agro do Itaú BBA.
A oferta global também é abundante. A produção mundial bateu recorde em 2025/26, restringindo as oportunidades para as exportações brasileiras.
“Estamos vendo que é uma crise muito sistêmica”, alegou Fernando Stein ao The AgriBiz, depois de sair de uma reunião com outros produtores no município de Pelotas, ao sul do Rio Grande do Sul.
A situação levou a um acúmulo de dívidas, com atrasos de pagamentos a bancos, revendas e fornecedores, admitiu Stein. Apesar disso, os credores demonstraram disposição para negociar.
“Todas as renegociações são duras, mas estamos conseguindo”, afirmou o empresário. Nas contas de Stein, em torno de 80% das dívidas já foram renegociadas.
Nesse processo, a SVP Agrícola consegue prazo para pagar, mas a juros mais altos. Em uma das repactuações, alongou a dívida para 2030 com um custo fixo de 18% ao ano.
O próximo passo é negociar com as revendas de insumos. “Os fornecedores querem fazer a próxima safra. Ninguém quer prejudicar a empresa”, argumentou Stein, demonstrando otimismo com o rumo das conversas.
Procura-se um sócio
Um efeito colateral da crise é acelerar a busca da SVP Agrícola por um sócio. Para isso, a companhia contratou uma butique de M&A para conduzir o processo, segundo Stein. O nome da assessor não foi revelado.
Originalmente, a plano da SVP Agrícola já era atrair um sócio, mas o objetivo principal do aporte era acelerar o crescimento da companhia, que se estruturou a partir de um modelo que aposta exclusivamente no arrendamento de terras.
Agora, a entrada de um investidor deve ajudar a reduzir o índice de alavancagem, que gira em torno de 4 vezes. “O ideal é estar perto de 2 vezes”, disse Stein.
Nesse processo de reorganização, a SVP Agrícola está cortando na carne. “Reduzimos gente no escritório, vendemos uma participação que tínhamos em um avião pequeno. Tem que se reinventar”, ressaltou Stein.
Além disso, a companhia vai devolver o arrendamento de duas fazendas pequenas que mantinha, ficando apenas com as duas maiores.
Como as áreas devolvidas eram menores, a expectativa é manter a área plantada com arroz na safra 2025/26 em 7,5 mil hectares, com um faturamento da ordem de R$ 100 milhões.
Stein reconhece que as perspectivas não são exatamente alvissareiras para a próxima temporada. Também por isso, atrair o investimento de um sócio ajudaria.
Diante dos fartos estoques de passagens — estimados pela Conab em 2,1 milhões de toneladas, o equivalente a 20% do consumo total —, os preços devem continuar sob pressão.