
Para continuar reduzindo as dívidas, a Minerva estuda a venda de alguns ativos imobiliários não operacionais. A companhia dos Vilela de Queiroz contratou um terceiro para fazer o inventário desses imóveis — que devem ser vendidos em curto e médio prazo.
“Não vou dar ordem de grandeza, mas esse negócio pode ficar entre R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões ao longo de todo o processo de desinvestimento”, calculou Edison Ticle, CFO da Minerva, durante um encontro com investidores realizado nesta manhã.
Os imóveis, explicou o CFO, vieram das 20 aquisições realizadas pela companhia ao longo das últimas duas décadas. São imóveis que não estão relacionados diretamente à produção, e que serão divididos em três categorias: os mais rápidos de monetização, os mais lentos e os que precisam de algum projeto de desenvolvimento.
Além dos ativos não operacionais, a Minerva também avalia a venda de sua planta de biodiesel, que processa tanto sebo bovino quanto grãos (soja, especialmente). “Podemos olhar um desinvestimento se fizer sentido, se for accretive para a companhia”, disse o CFO.
A decisão sobre a planta, entretanto, é menos óbvia. Ao mesmo tempo em que se trata de um ativo não-core para os negócios, trata-se de uma unidade de negócio com retorno sobre capital interessante para a companhia — que não entrou em detalhes sobre esses números.
Soft guidance
Do lado operacional, o CFO voltou a ressaltar a expectativa de fechar o ano com uma receita de R$ 58 bilhões (o que seria um salto de 80%), com um Ebitda no intervalo de R$ 4,7 bilhões a R$ 5,2 bilhões, bem acima dos R$ 3,1 bilhões do ano passado.
Em relação ao fluxo de caixa livre, os cálculos dele mostram uma reversão do consumo de caixa de R$ 600 milhões para uma geração de caixa de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão em 2025.
A chave para isso está na premissa de liquidação dos estoques de carne bovina montados nos Estados Unidos, uma estratégia comercial montada antes do tarifaço — o que se revelou um acerto.
No início do ano, quando já se esperava que os preços da carne bovina nos Estados Unidos explodiriam, a Minerva montou estoques muito maiores do que o habitual, o que exigiu R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões em capital de giro.
Agora, no segundo semestre, a perspectiva é liquidar esse estoque, liberando capital de giro. Nos cálculos mais conservadores, Ticle espera uma liquidação de 40% desse estoque. Caso a companhia liquide de 75% a 80% dos estoques, teria uma geração de caixa de R$ 1,5 bilhão neste ano.
“O ponto médio disso, ao redor de R$ 1 bilhão, era a nossa expectativa inicial no primeiro trimestre. Como isso impacta nossa alavancagem? Nesse cenário, a gente fecha o ano abaixo de 2,8 vezes”, projetou o CFO.
Em uma visão de médio prazo, Ticle ressaltou que a companhia deve ter um crescimento orgânico ao longo dos próximos três a quatro anos, focado em um ciclo de desalavancagem e pagamento de dividendos.
Para 2026, a meta é crescer 10% em volume, de olho principalmente na melhoria operacional das plantas adquiridas.
Os percalços da integração
Durante o encontro com investidores, os executivos da Minerva voltaram a destacar os resultados dos frigoríficos adquiridos da Marfrig, apesar de reconhecerem os percalços desse processo.
“Perdemos algumas lideranças, pegamos as fábricas em um estado pior do que a gente esperava. No primeiro trimestre o nosso ramp-up foi mais lento do que esperávamos, mas depois começamos a acelerar”, destacou Luís Luz, COO da Minerva.
Com isso, os resultados estão melhorando, segundo eles. “Se a gente pegar, por exemplo, o resultado do mês de setembro só das novas plantas e ‘trimestralizar’, a gente chega a um Ebitda entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões. A performance das plantas adquiridas é superior ao que a gente tinha comunicado para o mercado na aquisição”, pontuou Ticle.
Na época do anúncio, segundo o CFO, a companhia olhava o pacote todo, com Uruguai, com Ebitda de R$ 1,5 bilhão e um múltiplo de mais ou menos cinco vezes.
“Provavelmente no ano que vem a gente vai revisitar esses números, revisitar o múltiplo de aquisição e mostrar que, dada a integração, a gente conseguiu um múltiplo provavelmente menor do que quatro vezes e meio, portanto, uma aquisição que foi bastante accretive para a companhia”, disse.
Se isso se provar, Ticle responderá a uma das grandes críticas do mercado nos últimos anos: o preço pago à Marfrig para ficar com os frigoríficos, seria excessivo, segundo os analistas.
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Em 2025, as ações da Minerva sobem quase 30%, uma valorização que começou a ganhar corpo diante do cenário favorável para a indústria de carne bovina no Brasil e, claro, do aumento de capital privado que ajudou a reduzir as dívidas.
A valorização deste ano, no entanto, ainda está longe de compensar as perdas desde a aquisição dos ativos da Marfrig. Em dois anos, os papéis ainda acumulam uma queda de 40%. Na B3, a Minerva está avaliada em R$ 6,4 bilhões.