Preços da soja caindo

A Boa Safra até voltou a crescer, mas ficou muito longe de convencer os investidores.

Em meio à frustração com as margens apertadas reportadas no terceiro trimestre e às perspectivas de faturamento aquém do esperado, a ação da sementeira dos irmãos Colpo desabou 15% nesta quarta-feira.

O desempenho insuficiente do terceiro trimestre colocou os analistas que cobrem o papel em modo de alerta, deflagrando um movimento de revisão para baixo nas estimativas para os resultados da Boa Safra.

Um dos pontos críticos apareceu na taxa de conversão entre a carteira de pedidos e o faturamento do segundo para o terceiro trimestre.

Usualmente, a conversão do trimestre ficava em 99%, com o ano passado parecendo ser uma exceção, em 62%. Neste terceiro trimestre, entretanto, a companhia converteu apenas 68% do que estava na carteira em junho.

Embora melhor que o terceiro trimestre de 2024, a número veio 14% abaixo do que estimava a equipe do analista Thiago Duarte, do BTG Pactual. Essa dinâmica ajuda a entender porque a receita recorde do trimestre, na casa de R$ 1 bilhão, mesmo refletindo um crescimento de 56% ano a ano, animou pouco.

Mais do que o resultado isolado do trimestre, o que preocupou o sell side foi a capacidade da Boa Safra entregar uma receita na linha com o que se projetava para 2025, de R$ 2,5 bilhões.

Ontem, em coletiva de imprensa, o CEO da Boa Safra, Marino Colpo, disse que a companhia costuma a entregar um faturamento 20% superior à carteira de pedidos ao longo do tempo.

Se extrapolarmos esses 20% para a carteira de R$ 862 milhões registrada em setembro, a Boa Safra encerraria o ano com um top line de R$ 2,3 bilhões — ante R$ 1,8 bilhão no ano passado. Ou seja, abaixo do esperado pelo consenso.

O problema das margens

Junto com os percalços do crescimento, o horizonte projetado de margem para a companhia também preocupa. No terceiro trimestre, a margem Ebitda encolheu, passando de 11% para 10%.

Em teleconferência nesta tarde, Colpo lembrou que a Boa Safra vem fazendo esforços para crescer em meio a um ambiente desafiador em preços para o setor, com o produtor optando por produtos de menor tecnologia em busca de eficiência, o que limitou a capacidade de a empresa gerar margem.

Além disso, a Boa Safra ainda teve perdas de qualidade em sementes na reta final, colhendo menos do que esperava — o que impactou o volume de vendas.

“A revenda briga mais por preço, tem mais oferta de semente hoje do que se tinha no passado. Esses são fatores que contribuem para a baixa. Mas não me parece que o patamar atual de margens vai durar para sempre”, frisou Colpo.

Apresentando o copo meio cheio da equação, o empresário lembrou que as vendas de sementes comercializadas no terceiro trimestre têm menos TSI, feitas principalmente para produtores no Mato Grosso (isso ocorre porque muitos têm as próprias estruturas de tratamento).

Agora, a Boa Safra começou a vender para regiões como Goiás, Minas Gerais e São Paulo, vendas que exigem sementes com mais tratamento e, portanto, margens melhores.

Além disso, a companhia espera liberar todo o estoque de sementes que possui. Em setembro, esse estoque somava R$ 625 milhões, um salto de 30% na comparação anual.

“Nós acreditamos num bom quarto trimestre. Pela cara que estamos vendo, o quarto trimestre deve ser melhor do que o do ano passado”, adiantou Colpo.

***

Durante a teleconferência, o empresário admitiu que a Boa Safra não deve atingir a capacidade instalada, de 280 mil big bags.

O cenário, entretanto, é menos dramático do que o de 2024. No ano passado, a empresa tinha uma capacidade de 240 mil big bags e entregou 200 mil.

“A gente teve uma quebra maior de qualidade esse ano, então dá para descontar uns 10 mil, 15 mil big bags da nossa conta de capacidade”, disse Colpo.