Estratégia

Listagem da JBS em Nova York fica para 2024

Expectativa inicial da companhia dos irmãos Batista para listar ações em Nova York ficou longe demais para ser atingida

Quando a JBS anunciou o processo de dupla listagem para chegar à bolsa de Nova York, um sonho perseguido desde 2016, a companhia dos irmãos Batista pretendia concluir a operação ainda neste ano. O prazo, no entanto, ficou apertado demais para ser alcançado.

A menos de dois meses do fim do ano, a JBS sequer convocou a assembleia de acionistas para votar sobre a operação. Como a AGE precisa de 45 dias para convocação, só isso praticamente inviabiliza que o processo seja concluído neste ano.

“Ficou apertado”, reconheceu o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista ao The Agribiz.

Segundo ele, o processo está demorando mais do que o imaginado porque a JBS decidiu alterar o desenho original para permitir com que os detentores de ADRs (recibos de ações negociados no mercado de balcão dos EUA) também possam votar.

Com isso, abre-se um procedimento na SEC, a xerife do mercado de capitais americano. Nesse processo, o regulador pode pedir novas informações e não há um prazo determinado para conclusão.

“Dificilmente consigo prever uma data, mas só estamos dependendo desse detalhe”, disse Tomazoni. A inclusão dos detentores de ADRs na votação foi um pedido deles. “Podendo dar o direito dos portadores de ADRs votarem, fica mais transparente”, argumentou o CEO da JBS.

No mercado, a inclusão dos ADRs levantou uma interpretação. Com a mudança, o quórum potencial de votantes aumenta, o que pode reduzir a dependência do BNDES na votação.

O peso do BNDES

Historicamente, o banco estatal se opôs às tentativas da JBS de listar as ações nos Estados Unidos. Em 2016, na gestão de Maria Silvia Bastos, o banco vetou a operação argumentando que a transação “desnacionalizaria” a gigante de carnes.

Agora, o banco estatal não tem mais poder de veto — o acordo de acionistas que mantinha com a família Batista venceu —, mas ainda tem uma posição acionária relevante (20,8%) para determinar os rumos da assembleia.

Como a J&F não pode votar, o BNDES, segundo maior acionista da empresa, já chegaria à assembleia com 40% do quórum. Considerando as ausências comuns às assembleias, entende-se o peso do banco na votação.

Questionado sobre o banco, Tomazoni respondeu que a JBS tem prestado informações a todos os acionistas sobre o processo, incluindo o BNDES. “O que temos até agora é que eles vão se manifestar no fórum adequado [ou seja, a assembleia]”, disse ele, minimizando as especulações.

Em meio à demora no processo de dupla listagem, o CEO da JBS ponderou que a operação não é uma necessidade financeira, mas de cunho estratégico. Com a estrutura de capital saudável, a companhia não está correndo contra o relógio.