Silos que fazem parte da estratégia de investimento do BTAL11
Silos que fazem parte da estratégia de investimento do BTAL11

Enquanto negocia a venda aos americanos da GSI, a Kepler Weber aproveitou o encontro anual com investidores e analistas para recalibrar as expectativas do mercado sobre a recuperação da demanda por armazéns.

Diante da escassez de crédito e das margens mais apertadas que atingem os produtores de grãos, a demanda dos agricultores por novos armazéns só deve voltar mesmo a partir de 2027, segundo a maior fabricante de silos agrícolas do País.

Em apresentação aos investidores, a companhia admitiu que o próximo ano deve ser “muito parecido com 2025”. Em outras palavras, o próximo ano deve ser marcado por faturamentos fracos, especialmente na vertical de fazendas — a mais importante da companhia.

Diante desse cenário, os principais executivos da Kepler Weber reiteram os esforços da companhia para aumentar as receitas recorrentes como uma estratégia para atravessar com o menor dano possível o momento de retração financeira dos produtores.

Previsões frustradas

Ao jogar a retomada para 2027, a Kepler mostrou a dificuldade de projetar o cenário para a agricultura. Nesse ambiente, a frustração das próprias previsões têm sido uma tônica.

No início do ano, a companhia projetava ver uma melhora no balanço a partir do terceiro trimestre. Depois, nos comentários ao balanço do segundo trimestre, a previsão de início da recuperação operacional foi ajustada para o quarto trimestre. Mais recentemente, a melhora foi empurrada para 2026.

“A perna do crédito deve seguir ineficaz, e a aversão ao risco, grande. O custo deve cair um pouco, mas favorecendo mais as compras do segundo semestre em diante, e, com isso, refletindo apenas em 2027”, resumiu Renato Arroyo, diretor financeiro e de relações com investidores da Kepler.

No lado positivo, Arroyo afirmou que a companhia prevê uma estabilidade no preço das commodities, e antecipou um acréscimo do volume vendido, embora com um ticket menor.

Ele também destacou o que chamou de “mais preparo para lidar com a crise”, mencionando a saúde dos indicadores financeiros da companhia, puxada por cortes de custos e diversificação de receitas.

“A Kepler Weber é hoje muito mais eficiente do que no ano passado. Em momentos ruins, não se pode desperdiçar oportunidades para identificar pontos de melhoria”, disse Arroyo.

E, mesmo em um cenário de produtores sufocados, o executivo salientou que a empresa segue com nível saudável de caixa e continua pagando bons dividendos — serão R$ 120 milhões em 2025.

Aluguel não decolou

No encontro, a empresa reforçou a ideia — destacada anteriormente — de um esforço para ampliar as receitas recorrentes. O objetivo é atenuar a ciclotimia que, segundo sua liderança, tem sido marca do agro brasileiro, e, assim, sofrer menos nos momentos em que o faturamento das principais operações derrapa.

Da intenção à prática, algumas tentativas têm se dado melhor do que outras.

De um lado, a ideia de criar uma vertical de aluguel de silos, incensada desde o ano passado, ainda não decolou, explicou Diego Wenningkamp, diretor de Implantação de Projetos. Segundo ele, as razões são os juros altos e a instabilidade macroeconômica global no contexto da guerra comercial promovida pelos Estados Unidos.

“Desde o Kepler Day do ano passado, tivemos mais de 50 contatos, dos quais mais de 30 viraram propostas. Não conseguimos fechar nenhum contrato ainda, mas continuamos acreditando na tese.”

Segundo Wenningkamp, o contrato anunciado nesta semana com a São Martinho, uma das líderes no setor sucroenergético, para uma unidade de armazenagem e beneficiamento de grãos em Montividiu (GO) com capacidade estática de 240 mil toneladas, começou com uma conversa sobre aluguel e evoluiu para venda.

A demanda da bioenergia

Na busca por receitas recorrentes, há, por outro lado, apostas dando resultado. Como a vertical de Negócios Internacionais e a de Manutenção e Serviços, puxada por demandas de automação, principalmente da indústria de biocombustíveis.

Para essa clientela, a Kepler anunciou recentemente duas inovações: o KW Biocav, um alimentador e secador automático de cavacos de madeira, e o CTF Carretel, para transporte interno de grãos.

“O crescimento da automação nas fazendas e agroindústrias é um dos grandes pilares do plano estratégico para 2030”, comentou o CEO da companhia, Bernardo Nogueira.

Para ele, os biocombustíveis também têm intensificado a integração entre cadeias, ampliando a demanda por armazenagem na pecuária.

“Uma coisa puxa a outra: a agenda de descarbonização fomenta a demanda pelos biocombustíveis, que trazem a pecuária para perto e geram necessidade de armazenar o DDG”, afirmou o CEO, citando o subproduto da fabricação de etanol de milho que serve para nutrição animal.

Nogueira destacou ainda o recente crescimento internacional da Kepler, com foco na América Latina. No balanço mais recente, as vendas para a Argentina cresceram 30% na comparação com o mesmo período em 2024.

“Temos projetos na Colômbia e na Bolívia. O Paraguai é nosso CDB, com demanda estável ao longo dos anos. O Uruguai tem uma produção de arroz importante. E a Argentina é uma oportunidade ímpar, com terras férteis, gás natural, logística portuária eficiente e déficit de tecnologia. Eles vão produzir mais, e isso vai demandar armazenagem.”

As “avenidas para crescer” se juntam a um cenário de saúde financeira — no terceiro trimestre, as despesas gerais e administrativas caíram pela terceira vez seguida na comparação anual.

Nogueira pontuou ainda a capilaridade da Kepler e a atuação “da primeira à última milha”, desde a armazenagem da produção no campo até a guarda nos portos.

Daí que o CEO da Kepler mantenha o otimismo. “A gente continua acreditando que o negócio de armazenagem no Brasil está apenas começando. A jornada foi incrível nos últimos 25 anos, e, nos próximos 25, teremos muitas oportunidades”.

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Antes do evento, a Kepler Weber informou em um fato relevante que não comentaria nem responderia perguntas sobre as negociações com a GSI em seu investor day.

Segundo a empresa, “todas as informações a esse respeito já foram devidamente divulgadas por meio dos fatos relevantes, nos termos da legislação aplicável”, e o KeplerDay se restringiria a “aspectos estratégicos, operacionais e de negócios”.