
Na Kepler Weber, a palavra de ordem continua sendo paciência.
Como a liderança vem sinalizando desde fevereiro, a esperança está toda depositada em uma recuperação no segundo semestre, após uma sequência de trimestres negativos no embalo de um cenário de juros altos e de queda nos preços da soja — o que fez produtores e empresas reverem seus investimentos em armazenagem.
“No segundo trimestre, começaremos a encostar nos patamares do ano passado”, disse em fevereiro o CEO da companhia, Bernardo Nogueira. Em maio, ele corrigiu essa projeção e passou a estimar uma melhora apenas a partir do terceiro trimestre.
Enquanto a data-alvo para voltar a respirar com folga não chega, a empresa amargou mais um período no vermelho nas principais linhas do balanço — mas se apega a sinais positivos de que a retomada está a caminho. Nogueira citou “sinais muito bons”. São três deles.
Primeiro, uma recuperação em junho — o último mês do segundo trimestre respondeu por 56% do Ebitda no período. “A geração de caixa em junho, com rentabilidade em nível maior, é o que a gente enxerga para os próximos meses”, afirmou Nogueira a jornalistas nesta quinta-feira.
O CFO da companhia, Renato Arroyo, detalhou: “Costumamos ter uma sazonalidade, com 40% da receita no primeiro semestre, e depois uma alavancagem. Em junho, começou essa adição de receitas que tende a diluir custos e gerar um Ebitda melhor [no segundo semestre]”.
Sob a ressalva de que não estavam dando um guidance formal, Nogueira e Arroyo anteciparam que o ritmo de recuperação visto em junho se manteve em julho, o primeiro mês do terceiro trimestre.
O outro sinal positivo foi o crescimento de 13,8% na carteira contratada no segundo trimestre em comparação com igual período de 2024. O principal impulsionador foi a vertical internacional, que, segundo fontes, deve dobrar de tamanho na receita neste ano em comparação com dois anos atrás. E os resultados, de acordo com Nogueira, devem chegar ao balanço no quarto trimestre deste ano e em 2026.
O destaque é a Argentina, que há dois anos não entregava receita à empresa e, hoje, responde por 30% da originação no primeiro semestre. Com um parque industrial maior, porém mais obsoleto que o brasileiro, os hermanos são hoje o segundo maior destino de exportação da Kepler em Reposição e Serviços, com destaque para peças e elevadores. E o país deve receber investimentos em ampliação da equipe local de vendas e relacionamento com clientes nos próximos meses.
Além disso, “a companhia fez o dever de casa”, diz o CEO, referindo-se à redução de despesas que resultou em uma queda de custos de 3% no período, na base anual.
E, mesmo em um cenário de constrição, a empresa não deixou de remunerar seus acionistas: foram R$ 70 milhões em dividendos em abril, e, em setembro, haverá nova distribuição de R$ 25 milhões, entre dividendos e juros sobre capital próprio.
“Todo mundo ganha dinheiro com o ciclo favorável. O que estamos mostrando é que mesmo no ciclo desfavorável, a Kepler gera caixa e paga dividendos”, disse Nogueira.
O segundo trimestre
A receita operacional líquida caiu 5,1% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 311,1 milhões. O Ebitda caiu 40% e ficou em R$ 37,9 milhões. Com isso, o lucro por ação recuou 60,3%, para R$ 0,0831.
“Estamos divulgando um resultado bastante duro que já era esperado, mas com sinais bons de recuperação, como também já se imaginava”, disse Nogueira.
“A gente definiu a expectativa de um primeiro semestre duro, e agora esperamos ver o gap comparativo com o ano passado fechando gradualmente no terceiro e no quarto trimestres”, completou.
A retração no segundo trimestre foi puxada pelas divisões de Portos & Terminais, cuja contribuição ao faturamento caiu 60,8% na base anual, e Fazendas, com queda de 7,5% na mesma comparação.
Segundo a companhia, os setores foram “influenciados por efeitos sazonais, base comparativa elevada e um ambiente de negócios mais desafiador”.
Em Fazendas, que há cinco anos era a maior parte do faturamento e hoje responde por pouco menos de um terço (30,7%), a base de clientes cresceu 32,9%, mas o ticket médio caiu, o que Nogueira credita ao ambiente de crédito exíguo: “O produtor está com pouco caixa, apertando os fornecedores, e isso impacta nossa margem”.
Em mais um detalhamento interessante sobre a vertical, Nogueira diz que o Brasil tem apenas 15% de sua capacidade de armazenagem instalada nas fazendas, contra 40% na Argentina e 60% na América do Norte, o que ele interpreta como um sinal de que há espaço para avançar.
“A agricultura brasileira é jovem. Os agricultores subiram para o Cerrado nesta geração. Só agora é que boa parte deles terminou de fazer os investimentos básicos na terra, e vai começar a investir em eficiência, com irrigação, armazenagem e logística própria”.
Sinais positivos
Por outro lado, os segmentos de Agroindústrias e de Reposição e Serviços tiveram altas no trimestre de 9,2% e de 8,4%, respectivamente, na base anual. Já o ramo de Negócios Internacionais se manteve estável, com alta de 2,9% no semestre, “mesmo diante de um cenário cambial desafiador”.
Além disso, a base de clientes faturados — negócios fechados, mas pelos quais a Kepler ainda não foi remunerada — cresceu 5,6% no segundo trimestre, com novos contratos estratégicos firmados em quatro países.
O total inclui o projeto de silos para trigo contratado pela Be8, o maior da Kepler Weber em cinco anos. A empresa não informou quanto receberá, mas especialistas ouvidos pelo The AgriBiz à época do anúncio estimavam que a obra deve somar ao menos R$ 100 milhões ao faturamento.
Menos Plano Safra, mais mercado de capitais
Há cinco anos responsável por 50% da receita da Kepler, a participação do Plano Safra neste ano deve repetir 2024 e responder por algo entre 12% e 13%. E a tendência é cair mais: “Foi preciso encontrar ferramentas no mercado de capitais, como CRAs e Fiagros, porque o agro cresceu muito e o Plano Safra não acompanhou”, afirmou Nogueira.
O CEO destacou ainda os primeiros ganhos da parceria com a XP e a Procer para oferecer soluções financeiras a produtores rurais. A empresa pertencente à Kepler monitora 2 mil unidades de armazenamento de grãos no País. “Vamos ter nesse ano o início da monetização de dados, e isso vai representar uma receita recorrente em nosso portfólio em 2026 e 2027”, disse.
A empresa informou ainda que o fundo imobiliário que estruturou recentemente com a gestora Jubarte para construir e alugar silos e armazéns para clientes do agronegócio concluiu sua primeira etapa de captação, de R$ 152 milhões, e está promovendo uma segunda rodada.