
Mesmo em um trimestre duríssimo para o negócio de carne bovina nos Estados Unidos, a JBS conseguiu bater o consenso dos analistas nos primeiros três meses do ano, preservando uma estrutura de capital para lá de confortável que permite conciliar a distribuição de dividendos com um orçamento de US$ 1 bilhão para investimentos em crescimento.
No balanço que acaba de divulgar, a JBS reportou um lucro líquido de R$ 2,9 bilhões entre janeiro e março, um salto de 77% na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado é ainda mais surpreendente quando se compara com o quarto trimestre, geralmente o período mais forte do ano para as companhias de proteína. O lucro do primeiro trimestre foi 2,1% maior.
Ao todo, a receita líquida da companhia aumentou 28%, chegando a R$ 114,1 bilhões no primeiro trimestre — o consenso dos analistas coletado pela Bloomberg esperava uma receita de R$ 107 bilhões.
“O primeiro trimestre não costuma ser dos melhores no nosso negócio, mas saímos de um ano bom e conseguimos fazer um trimestre ainda melhor”, comemorou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em entrevista ao The AgriBiz.
A situação favorável é mais uma demonstração da estratégia de diversificação geográfica e por proteínas da companhia dos irmãos Batista. Mesmo com o negócio de carne bovina dos EUA (responsável por um terço do faturamento) amargando uma margem Ebitda negativa de 1,6%, a JBS se beneficia das margens gordas dos negócios de carne frango.
No primeiro trimestre, a americana Pilgrim’s Pride e a brasileira Seara conseguiram melhorar as margens. A Pilgrim’s fez uma margem de 14,8%, um incremento de 3,3 pontos na comparação anual. A Seara, por sua vez, registrou uma margem Ebitda de 19,8%, uma expansão de 8,2 pontos em um ano.
“Vemos um aumento do consumo estrutural de proteína no mundo inteiro”, afirmou Tomazoni, lembrando que as proteínas estão ligadas a uma dieta mais saudável. A popularidade de medicamentos como o Ozempic, aliás, só intensifica essa tendência.
Com uma demanda firme e custos com grãos sob controle, as margens do frango são beneficiadas, até porque o crescimento da oferta enfrenta restrições. “O frango é a proteína em que a oferta poderia reagir mais rápido, mas existe um gargalo genético”, frisou Tomazoni, citando os problemas de fertilidade que atingem as novas linhagens de aves, como mostrou reportagem de The AgriBiz.
Nesse cenário, a JBS tende a gerar bastante caixa ao longo do ano — como foi em 2024 —, revertendo a queima registrada entre janeiro e março. No primeiro trimestre, a companhia consumiu R$ 5,4 bilhões de caixa por uma questão sazonal que envolve o pagamento de impostos nos EUA.
Mesmo com esse consumo de caixa, o índice de alavancagem em dólar da JBS ficou abaixo de 2 vezes. Não à toa, a JBS se programou para investir mais ao longo de 2025.
No ano passado, a companhia desembolsou US$ 1 bilhão em capex de manutenção e US$ 300 milhões em investimentos em crescimento. Neste ano, o orçamento será maior, com US$ 1 bilhão destinado a crescimento, disse Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS.
“A alavancagem permite que a gente continue pagando dividendos e investindo”, disse o executivo.
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Enquanto comemora os resultados, a JBS continua nos preparativos para concluir a listagem de ações na bolsa de Nova York. A assembleia de acionistas convocada para aprovar a dupla listagem vai ocorrer em 23 de maio. Se tudo correr como o programado, as ações começam a ser negociadas na bolsa americana em meados de junho.