Fertilizantes

O mercado de bioinsumos vai crescer dois dígitos. Falta regulamentar

Depois de estabilidade nos dois últimos anos, faturamento do setor deve crescer 13% ao ano até 2028/29 estimulado por nova regulamentação, que deve sair ainda em 2025

Biológicos foliar agro

O mercado de bioinsumos deve voltar ao crescimento de dois dígitos nos próximos anos, estimulado pela aguardada regulamentação do setor — o que deve ampliar a variedade e o valor agregado de produtos disponíveis aos agricultores.

O faturamento do setor com as vendas de produtos biológicos para nutrição (descontando os biodefensivos) deve chegar a R$ 6,1 bilhões na safra 2028/29, o que representaria um crescimento de 13% ao ano, segundo estimativa da consultoria Blink apresentada nesta quinta-feira durante evento da ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos).

Em 2024/25, esse mercado totalizou R$ 3,8 bilhões, com relativa estabilidade nos dois últimos anos.

Além da influência do comportamento dos fertilizantes tradicionais, que sofreram uma forte correção nos últimos anos devido ao processo de ajuste de estoques, a proliferação de empresas de bioinsumos e de produtos similares acabou derrubando os preços — apesar de a área tratada continuar crescendo.

Na safra 2024/25, foram 133,2 milhões de hectares tratados com bioinsumos no Brasil (também excluindo dessa conta os biodefensivos), um crescimento de 9% em relação à safra anterior — que deriva de um crescimento de 8% na safra anterior.

Nos próximos anos, essa média deve se manter, aponta a consultoria Blink. Daqui até a safra 2028/29, a área tratada deve crescer 9% anualmente, chegando a 190 milhões de hectares tratados, à medida que mais produtores passem a adotar os bioinsumos como um complemento aos fertilizantes químicos.

“Esse crescimento vem para trazer melhorias, uma complementação para os nutrientes químicos. Isso não significa que os outros vão deixar de ser usados, mas que a absorção deles pode melhorar”, afirmou Cárin Lausmann Juco, consultora de pesquisas de mercado da Blink, durante evento da ANDA.

A peça que falta

Mas, para que o faturamento do setor retome o ritmo visto no boom dos biológicos, falta uma peça importante no mercado: a regulamentação.

A lei que rege esse setor foi sancionada no final de 2024, mas o conjunto de normas mais específicas ainda não foi publicado. A expectativa no mercado é que o texto saia até dezembro, destravando investimentos e o lançamento de produtos.

“A regulamentação pode ser o acelerador ou o freio de mão para o setor. Estamos torcendo e conversando para que possamos avançar o mais rápido possível”, disse Ricardo Tortorella, diretor-executivo da ANDA.

Diante da complexidade que a regulamentação vai exigir, o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) montou um grupo de trabalho para cuidar do tema. 

A expectativa, explicou Tortorella, é que a formação desse grupo evolua para a realização de audiências públicas, ouvindo pesquisadores, empresas e a sociedade civil, de olho na construção desse texto até o fim do ano.

As prioridades em bioinsumos

Apesar de o tema ser complexo — e as discussões ainda terem muito para evoluir — alguns pontos já começam a emergir como prioridades a serem consideradas na regulamentação dos bioinsumos. Uma delas é a multifuncionalidade. Ou seja, reconhecer que um mesmo organismo pode ter diferentes ocasiões de uso. 

“Hoje, se eu registrar uma bactéria que tem uma ação ligada ao fósforo, mas ela também fixar nitrogênio, e for usar essa fixação de hidrogênio como argumento, eu sou multado porque ela pode, no registro, ter uma função só”, explicou Fernando Andreote, professor titular em Microbiologia do Solo na Esalq-USP.

Outro ponto aguardado com ansiedade é a perspectiva de o texto trazer mais clareza com relação à combinação dos biológicos com fertilizantes químicos, ainda que isso venha na forma de um primeiro passo nesse momento. Hoje, não existe autorização para misturar bioinsumos e fertilizantes — ao contrário do que é permitido com as sementes, por exemplo, que podem ser inoculadas.

“Nós vemos muitos benefícios nisso, porque os microrganismos possuem ácidos que ajudam na solubilização de alguns fertilizantes, potencializam a eficácia dos nutrientes”, explicou Fernanda Zanata, coordenadora do Grupo de Trabalho de Bioinsumos da ANDA. 

No caminho para fomentar as pesquisas, além da regulamentação, os biológicos contam com um chamariz também financeiro. Em média, as pesquisas para novos produtos levam metade do tempo de um produto químico, com 10% do investimento. A duração das pesquisas é de aproximadamente de cinco anos, com um investimento de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, pontua Andreote.