Biológicos

De familiar a potencial campeã nacional: a aposta da Santa Clara nos biodefensivos

Com BNDES como sócio, empresa quer elevar fatia de biodefensivos no faturamento de 8% para até 40% até 2030 embalada pelos biológicos de terceira e quarta gerações

João Pedro Cury, CEO do grupo Santa Clara | Crédito: Divulgação
João Pedro Cury, CEO do grupo Santa Clara: biodefensivos podem representar 40% do faturamento até 2030 | Crédito: Divulgação

O DNA de inovação permeia a história do Grupo Santa Clara. A companhia surgiu embalada pelos fertilizantes especiais em 1997, pelas mãos de João Amaro e Adriana Cury. Sob a liderança da segunda geração, quer chegar ao primeiro bilhão apostando num nicho de biodefensivos ainda pouco explorado, agora com o BNDES como sócio.

Capitaneada por João Pedro Cury, engenheiro agrônomo e filho do casal fundador, a Santa Clara tem como prioridade o investimento em biodefensivos de terceira e quarta geração desde 2018, numa iniciativa em parceria da Embrapa. Como co-desenvolvedora, a empresa de pesquisa estatal terá participação nos royalties dessas novas tecnologias.

“Na safra 2026/27, nós devemos lançar ao mercado o primeiro produto de terceira geração”, disse Cury ao The AgriBiz. Em média, os biodefensivos levam de dois a três anos para obterem o registro no Brasil.

Ao contrário dos biodefensivos de primeira e segunda geração, que usam microrganismos vivos, os de terceira geração associam apenas componentes extraídos de plantas ou de outros microrganismos. Como vantagens, o produto final é mais estável, não precisa de tanta refrigeração e tem um impacto alto no controle de pragas e doenças. 

“Por mais que o Brasil seja o maior consumidor de biodefensivos, há um oceano enorme de adoção a ser explorado. Nós investimos em todas essas frentes. Inclusive, neste ano, devemos lançar um produto de segunda geração”, frisou Cury. 

A companhia também está de olho nos biodefensivos de quarta geração, que usam moléculas de RNAi. A tecnologia vem ganhando tração no mercado brasileiro — José Tomé, fundador do Agtech Garage, é um dos principais entusiastas da tese.

As expectativas são ambiciosas. “Os biodefensivos devem representar em torno de 30% a 40% do faturamento da empresa até 2030. Se somar com bioinsumos e inoculantes, isso pode chegar a 50%”, explica Cury.

O papel do BNDES

Para chegar até lá, o impulso do BNDES exerce um impacto fundamental. A BNDESPar, empresa de participações do banco de fomento, anunciou ontem a compra de 19,9% do grupo por R$ 114 milhões. O dinheiro será usado para financiar a construção de uma nova fábrica, além de dar um gás nas iniciativas de P&D da companhia. 

“A aproximação aconteceu no início do ano passado, num processo normal de captação de recursos para inovação com linhas de fomento. Naquele momento, se interessaram pela empresa e comentaram sobre a reestruturação da BNDESPar. Fomos discutindo sobre planejamento estratégico da empresa desde então, até a comunicação ao mercado”, conta Cury. 

O executivo deu os primeiros passos na Santa Clara em 2011, junto com a irmã, Talita, em uma iniciativa de sucessão. Em 2015, a passagem de bastão da área comercial — a menina dos olhos do pai deles — efetivamente aconteceu, dando mais poderes ao filho. 

Nos anos seguintes, os irmãos se dedicaram a melhorar a governança da companhia, trazendo a consultoria Marketstrat para dentro de casa e implantando iniciativas como um conselho de administração e auditoria externa. 

No caminho para atingir as metas propostas, a companhia não planeja aquisições, embora já tenha comprado duas empresas ao longo do percurso: a Linax, divisão que tem o laboratório de P&D da empresa, foi adquirida em 2023, e a Hidromol, fabricante de fertilizantes especiais para o público B2B, foi comprada há mais de dez anos. 

São ao todo quatro divisões no grupo. Além da produção de biodefensivos e das duas empresas adquiridas, há ainda a “empresa-mãe”, a Santa Clara Agrociência, que cuida da produção de fertilizantes especiais e venda para o público B2C. 

A maior parte da receita ainda remete ao negócio criado pelo casal fundador. Cerca de 80% do faturamento da companhia (de R$ 255 milhões na última safra)
veio dos fertilizantes especiais principalmente para a soja e o milho. Um negócio caracterizado por altas margens — e ainda subpenetrado. 

“A taxa de adoção ainda é muito baixa. No segmento, que fatura R$ 25 bilhões, nós temos uma participação de mercado de apenas 0,8%. Eu brinco que quanto mais empresas entrarem no setor, mais a tecnologia é difundida, o que é bom para a Santa Clara também”, ressalta Cury.