
A Auster Nutrição Animal está em busca de uma marca importante: perto de celebrar 18 anos em 2026, a empresa projeta ampliar em quase 30% seu faturamento e passar de meio bilhão neste ano pela primeira vez — o guideline mira algo entre R$ 520 e R$ 530 milhões. Em 2024, a receita foi de R$ 415 milhões.
A empresa atua no ramo de desenvolvimento, produção e distribuição de insumos para nutrição animal, com foco em suínos e aves, segmentos que respondem por 90% da atuação.
Em 2023, esses insumos foram utilizados em 12 milhões de toneladas de rações para suínos, aves e bovinos de leite. Em 2024, geraram 14 milhões de toneladas de rações. E, em 2025, a projeção é chegar a 16 milhões de toneladas, com um esforço em diversificação. Recentemente, a Auster passou a fornecer insumos também para as cadeias de aquacultura e pet food.
As expectativas têm amparo no histórico recente da empresa, que diz investir em média US$ 2 milhões ao ano em pesquisa e desenvolvimento. E se conectam à recente ampliação e qualificação da fábrica em Hortolândia, na região de Campinas (SP), que consumiu R$ 15 milhões. A cidade foi escolhida pela localização, com disponibilidade de mão de obra e próxima de rodovias, ferrovias, universidades e centros de pesquisa.
“Nosso termômetro de sucesso e competência comercial e técnica é quanta ração é produzida com nossos insumos. Temos gerado crescimento ano a ano de entre 25% e 30% no volume de carne produzida”, contextualiza Paulo Portilho, CEO e dono de 50% da empresa limitada — a outra metade é de um investidor.
Na nutrição animal, a empresa tem rivais como o brasileiro Grupo Matsuda (com atuação concentrada em bovinos) e multinacionais como Cargill, De Heus, Trouw Nutrition e dsm-firmenich.
A ração é o celular, e o insumo é o chip
Formado em agronomia na Esalq-USP, Portilho vem de uma família com tradição na produção animal. Em 2007, após décadas trabalhando em empresas do setor, como a Láctea Brasil e a Nutriad, ele decidiu montar o próprio negócio.
Em sua analogia, se a ração fosse um celular, a Auster seria a fornecedora do chip.
“A produção animal no Brasil tem quatro configurações. A primeira é a integração fechada, quando uma empresa tem o frigorífico, a marca, a fábrica de ração, é dona dos animais e faz parcerias com granjeiros. Nesse caso, o cliente recebe nossos premixes e aditivos e mistura com milho ou soja para fazer sua ração”, explica.
O segundo molde é parecido, só que o produtor é independente e vende seus animais vivos: “Para esse, é mais ou menos a mesma coisa: vendemos um ingrediente que vai para a ração que ele produz”, diz. Esses modelos são aplicados em 95% da produção de frango e em 60% da produção de suínos, segundo Portilho.
Existem ainda clientes que compram a ração pronta da Auster, “mas isso hoje é muito pequeno e pulverizado”.
Seja qual for a estrutura, o diferencial, segundo o CEO, é o serviço de pós-venda para ajudar a medir os ganhos de produtividade — como mortalidade dos animais e volume e qualidade da carne, entre outros atributos.
“Nosso foco é a parte mais complexa da nutrição, de inteligência, aquilo que é mais transformador do ponto de vista de tecnologia. Somos uma empresa de consultoria técnica que vende produtos a partir de um diagnóstico da necessidade do cliente”.
O objetivo final é melhorar a conversão alimentar, a razão de quantos quilos de ração são necessários para produzir um quilo de carne.
“Uma produção eficiente de frango de corte tem uma conversão de 1,30 a 1,35. Ou seja, usa 1,3 kg a 1,35 kg de ração para fazer 1 kg de carne. Uma cultura suína precisa de 2,10 kg a 2,15 kg de ração para 1 kg de carne.”
O CEO salienta ainda que cada redução nos índices de conversão representa, além de ganho econômico, um benefício ambiental: quanto menor o índice, menor o impacto da produção de insumos e dejetos.
A Auster trabalha com uma estimativa interna, ainda não certificada, de economia de 350 mil toneladas de carbono por ano junto aos mais de 500 clientes graças ao aumento de produtividade.
Diversificação
A empresa vem diversificando sua atuação, passando a fornecer insumos também para as cadeias de aquacultura e pet food.
“Pet food é um mercado em desenvolvimento. E aquacultura é bem sólida no Brasil. As tecnologias que fazem um bom produto para frango e suíno — rastreabilidade, qualidade, segurança — são as mesmas para pet e aqua”, afirma Portilho.
E embora venda apenas para clientes no mercado nacional por enquanto, a Auster não passa ilesa das turbulências macroeconômicas em âmbito global, diz seu CEO.
“A globalização, que mudou o agronegócio do Brasil e trouxe o maior ciclo de riqueza sem inflação na história, está sendo desafiada. Ela andar para trás não é boa notícia para nós. Nunca imaginei que a fonte de instabilidade no mundo seriam os Estados Unidos. Com Trump, cai a confiança e aumenta o custo.”