
Em pouco mais de dois anos, uma nova rota de exportação para o algodão produzido no Matopiba ganhou expressão. Na safra 2024/25, o Tecon (Terminal de Contêineres) do porto de Salvador exportou 5,7 mil contêineres da pluma — na safra 2022/23, foram apenas 545.
Por trás do aumento, estão obras de expansão de capacidade de armazenagem no terminal operado pela Wilson Sons, mas principalmente a inauguração, em julho do ano passado, de uma rota direta de acesso à Ásia pelo porto.
“Até três anos atrás, quem atracava em Salvador, levava de 60 a 75 dias para chegar à Ásia ou ao Mediterrâneo. Hoje, existe uma rota de um navio da MSC que sai do porto e leva 40 dias para chegar à Ásia”, explica Luiz Antonio Pagot, consultor de logística e portos da AMPA (Associação Mato Grossense dos Produtores de Algodão).
Essa nova rota direta de acesso à Ásia, segundo o consultor, é um efeito colateral do aumento da demanda para importação de veículos e autopeças no Brasil, com a exportação de algodão passando a ser um frete de retorno.
“No caso do Tecon, essa nova rota de importação se somou à eficiência do porto e à possibilidade de volumes cada vez maiores serem exportados”, detalha o consultor.
Entre as obras realizadas pelo terminal, estão a criação de uma unidade de manipulação de algodão certificada pela Embrapa, há pouco mais de dois anos, além de um berço adicional, que aprofundou o calado para receber navios maiores — uma obra concluída em agosto do ano passado.
“A busca pelo serviço veio em um momento em que houve investimentos no porto de Salvador e no centro logístico da cidade, onde são manipulados os fardos de algodão dentro do contêiner, o que nos deu força para crescer”, explica Guilherme Dutra, diretor comercial do Tecon.
Escalada
A escalada aconteceu em pouco tempo. Em 2020, o porto embarcou cerca de 5% do algodão produzido no Matopiba. Com a nova rota (e obras de expansão) esse percentual deve chegar a 12% na safra 2024/25. Na Ásia, os principais destinos da pluma, a partir do porto, são: Paquistão, Bangladesh, China, Indonésia e Vietnã.
“Nossa meta é embarcar tudo que se produz de algodão nessa região, mas temos a expectativa de chegar lá de forma paulatina”, detalha Dutra.
De acordo com as estimativas mais recentes da Conab, a região deve produzir 925 mil toneladas da pluma na safra 2024/25, ou aproximadamente 23% do total nacional — que deve romper, pela primeira vez, a marca de 4 milhões de toneladas.
No caminho para se consolidar como um porto de referência na região, o Tecon tem a seu favor o fato de ser um porto menos congestionado do que Santos.
“Santos ainda é imbatível financeiramente, mas o gargalo faz com que, por vezes, se pague muita estadia de caminhão e demurrage [taxa cobrada quando um contêiner fica retido num terminal além do tempo acordado no contrato de frete]”, diz Pagot.
Ainda assim, existe uma diferença financeira significativa em relação ao maior porto do País. Nas estimativas do consultor, embarcar um contêiner via Salvador é, em média, US$ 375 mais caro do que por Santos — ainda assim, uma redução expressiva em relação aos US$ 750 de diferença de poucos anos atrás.
“O porto de Santos é muito competitivo porque é o principal porto importador brasileiro. Em Salvador, você tem uma, duas linhas que vão para a Ásia direto, em Santos você tem 30”, ressalta Pagot.