
A Tyson, maior produtora de carne bovina dos Estados Unidos, voltou a sofrer com o alto preço do gado no terceiro trimestre. É uma consequência da retração do rebanho, que está no menor nível em mais de 50 anos — e também prejudica players brasileiras como JBS e Marfrig, que detêm operações nos EUA.
Na avaliação de Donnie King, CEO da Tyson, a recuperação pode começar em 2026, num processo que deve continuar a ganhar força nos anos seguintes.
Para o executivo, a retenção de novilhas, que marca o início da reversão do ciclo pecuário, já começou. Segundo ele, o abate de vacas caiu 16% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, indicando o início do processo de retenção.
“Acreditamos que a recomposição do rebanho vai começar em 2026. Ao longo dos anos seguintes, veremos o rebanho se recuperar. Vamos dizer que em 2028 veremos essa recomposição ganhando força e os benefícios disso”, disse King em call com analistas nesta segunda-feira.
Outro indicador da retenção de fêmeas jovens, acrescentou o CEO, é que a companhia tem observado uma maior quantidade de novilhas (versus bezerros) sendo recebidas para engorda.
Por enquanto, o balanço ainda reflete o momento duro no setor.
No terceiro trimestre, as vendas de carne até aumentaram (cerca de 7%) somando US$ 5,6 bilhões, com os consumidores mostrando resiliência ao aumento de preços.
Mas o prejuízo operacional ficou ainda mais profundo do que no ano passado, saindo de US$ 69 milhões para US$ 151 milhões, considerando os números ajustados. A margem ficou negativa em 2,7%.
“A oferta de gado está muito mais apertada do que um ano atrás, o que comprimiu significativamente os spreads no trimestre, apesar de uma demanda resiliente. Seguimos disciplinados, controlando o que está ao nosso alcance de supply chain”, frisou King.
Nas dinâmicas de importação e exportação, o executivo ainda afirmou ver pouco impacto do tarifaço de Donald Trump, que exerce uma influência relevante sobre as importações feitas a partir do Brasil.
“As tarifas têm um componente de timing associado a elas. Há um atraso entre as medidas e os impactos na prateleira. Temos outros componentes de inflação dentro do setor, como o aumento de preço nas aparas acontecendo também”, ressaltou o CEO.
O frango compensa
Apesar de as perspectivas continuarem difíceis para o negócio de carne bovina no próximo trimestre, a Tyson revisou o seu guidance consolidado para cima. A companhia espera um aumento de vendas de 2% a 3% no consolidado do ano em relação a 2024, quando somaram US$ 53,3 bilhões.
A estimativa para o lucro operacional foi elevada para um intervalo entre US$ 2,1 bilhões e US$ 2,3 bilhões, um aumento de US$ 100 milhões considerando o ponto médio da faixa indicativa. Em 2024, esse indicador foi de US$ 1,4 bilhão.
O destaque é a divisão de frango, que deve entregar um lucro 33% maior do que o do ano passado, na ponta média do guidance. Já para a carne bovina, a Tyson agora estima um prejuízo entre US$ 475 milhões a US$ 375 milhões para o ano fiscal de 2025. Em 2024, o prejuízo da divisão foi de US$ 381 milhões.
As perspectivas agradaram os investidores. As ações da companhia chegaram a subir 4% na Bolsa de Nova York nesta segunda-feira. Em 12 meses, acumulam queda de 11%. A empresa está avaliada em US$ 19,4 bilhões.