Sem gripe aviária

Por que a China ainda está fechada para o frango brasileiro

Produção chinesa de carne de frango bate recorde, e oferta abundante pode estar influenciando na decisão de reabrir o mercado, reconhece ABPA

Por que a China ainda está fechada para o frango brasileiro | Crédito: Schutterstock

O Brasil passou no teste da gripe aviária. As exportações caíram apenas 1,7% até julho, um desempenho com sabor de vitória considerando quedas bem mais abruptas em outros produtores que enfrentaram o mesmo problema. Mas os exportadores ainda não puderam virar a página: China e União Europeia, dois dos principais destinos do frango brasileiro, continuam fechados para o País. E não há previsão para as reaberturas.

Depois de o Brasil ter reconquistado o status de país livre do vírus H5N1 e ter enviado toda a documentação solicitada pelas autoridades dos países importadores, agora só resta esperar, segundo Ricardo Santin, presidente da ABPA. Caso esses destinos permaneçam fechados, as exportações de carne de frango brasileiras podem cair até 2% no acumulado do ano. Mas, se eles reabrirem, pode haver até um crescimento, afirmou.

“Esperamos que a UE reabra agora após as férias, não tem razão para não reabrir”, disse Santin a jornalistas nesta quarta-feira. Já no caso da China, que ocupava a posição de principal importador antes do embargo, as perspectivas soam mais pessimistas em meio ao aumento da produção local de carnes.

“A China, de fato, está tranquila porque tinha bons estoques e teve aumento na oferta de suas proteínas. Isso pode ter influência no ritmo de definição da retomada [das importações] do Brasil”, reconheceu Santin.

No primeiro semestre, a produção chinesa de carne de frango cresceu 7,5%, para o recorde de 12,7 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura da China citados pela Datagro em relatório recente.

Para o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a produção chinesa deve ultrapassar a brasileira em 2025, atingindo 15,5 milhões de toneladas ante 15,25 milhões de toneladas do Brasil — a ABPA estima a produção nacional em 15,4 milhões de toneladas.

Embora em menor ritmo, a oferta de outras proteínas também cresce no gigante asiático, o que também complica o cenário para o frango. A produção de carne bovina subiu 4% no primeiro semestre, para 3,4 milhões de toneladas, e a de carne suína aumentou 1,3%, para impressionantes 30,2 milhões de toneladas, retornando ao patamar verificado antes da peste suína africana.

O aumento da produção local vem causando um desequilíbrio no mercado chinês. Mesmo sem importar do Brasil (por causa da gripe aviária) e dos Estados Unidos (por causa das tarifas retaliatórias), os preços do frango estão recuando na China, levando o governo a anunciar medidas para controlar a oferta, principalmente na suinocultura.

“O principal desafio talvez esteja centrado na indústria avícola da China, que também tem vivenciado baixas nos preços ao produtor local e foi o grande destaque de avanço na produção”, respondendo por 60% do aumento da oferta de proteínas no primeiro semestre, segundo a Datagro.

Mas o desafio para intervir no mercado de aves é muito maior em comparação com o de suínos devido à alta fragmentação do setor. Para a Datagro, a produção recorde, acompanhada da baixa de preços, sinaliza que o excesso de oferta de frango na China pode persistir “por mais algum tempo”.

“Esse quadro também pode ser parte da explicação da demora na retomada das importações de frango brasileiro”, acrescenta a consultoria. Outro sinal de excesso de oferta na China é o seu anúncio recente de suspender as importações de 17 plantas da Tailândia.

Uma hora volta

Mas o crescimento da produção local está longe de significar que os chineses não vão mais precisar da carne brasileira, defende Santin. A principal explicação está no perfil de consumo. Quase metade das importações da China é formada por pés e patas de frango.

“O crescimento necessário da produção chinesa para suprir a oferta de Brasil, Estados Unidos e Rússia, principalmente de pés e patas, resultaria num desequilíbrio do mercado chinês”, observou Santin. Para ele, quando a China reabrir, voltará a importar volumes semelhantes aos verificados antes da gripe aviária.

Esse é o cenário projetado para 2026. As exportações brasileiras devem crescer até 5,8% no próximo ano, para 5,5 milhões de toneladas. A previsão assume a retomada das compras de China e UE. “É o patamar que poderíamos ter chegado tranquilamente neste ano se não tivesse ocorrido o episódio da gripe aviária”, disse Santin.