ANÁLISE

Na fusão BRF-Marfrig, um rastro de desconforto para a Minerva

Com a fusão, sauditas terão posição em duas concorrentes no mercado de carne bovina, uma possibilidade que nunca agradou aos Vilela de Queiroz

Arábia Saudita Salic

A recém anunciada fusão entre Marfrig e BRF vai provocar uma saia-justa na rival Minerva Foods, causando ainda mais desconforto na relação entre a família Vilela de Queiroz e a saudita Salic.

Com a fusão, a firma saudita será ao mesmo tempo sócia relevante da nova Marfrig — rebatizada como MBRF — e da Minerva, mantendo a posição em duas concorrentes no mercado de carne bovina.

Quem conhece os bastidores da carne sabe: Marfrig e Minerva sempre foram como água e óleo. Mesmo quando fizeram negócios juntas, como no M&A de R$ 7,5 bilhões, a convivência nunca foi amistosa.

O bilionário M&A, aliás, só ocorreu depois de muita discórdia envolvendo a aproximação da Salic com a companhia de Marcos Molina, que ocorreu por meio da BRF — os sauditas participaram do follow-on da dona da Sadia em 2023.

De fato, Minerva nunca aceitou bem o investimento que os sauditas fizeram na BRF. Nos bastidores, emissários da Minerva chegaram a aventar a possibilidade de questionar a entrada da Salic na BRF, alegando que ela feria o acordo de acionistas firmado entre os sauditas e a família Vilela de Queiroz.

Antevendo uma fusão entre BRF e Marfrig, uma possibilidade que sempre foi considerada no mercado, fontes próximas à Minerva argumentavam que a Salic acabaria se tornando sócia de uma concorrente direta e, nessa hipótese, teria os direitos políticos cassados.

Para contornar  o incômodo dos Vilela de Queiroz, coube à Salic costurar um armistício temporário. A partir de uma intervenção dos sauditas, Marcos Molina e Fernando Galletti de Queiroz entabularam as conversas que resultaram no acordo de R$ 7,5 bilhões.

Agora, a relação da Salic com ambos entrou em um novo momento. Apesar de ainda ser a maior acionista da companhia dos Vilela de Queiroz, com mais de 30% do capital, a Salic será diluída no aumento de capital privado que a Minerva está fazendo porque abriu mão de acompanhar a transação proporcionalmente.

No mercado, a diluição aceita pela Salic chegou a alimentar dúvidas sobre um desembarque dos sauditas. Questionado sobre o tema por Leonardo Alencar, da XP Investimentos, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, argumentou que nada mudava no acordo com a Salic.

“A composição dentro do bloco de controle é uma negociação entre os sócios e, mesmo com a diluição da Salic, não há mudança relevante dentro do bloco”, disse o executivo em uma teleconferência.