
Enquanto os casos de gripe aviária voltam a crescer no hemisfério norte, os produtores de frango no Brasil reforçam a biossegurança para evitar uma nova ocorrência do vírus H5N1. Mas, caso ocorra, o Brasil está mais preparado do que esteve neste ano, quando registrou o primeiro foco da doença em granja comercial.
“Continuamos trabalhando e estamos muito melhor preparados para 2026. Se vier a acontecer, os impactos devem ser menores do que foram em 2025”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) a jornalistas nesta quarta-feira.
Nos últimos meses, o Brasil fechou acordos com relevantes importadores para adotar o critério da regionalização no protocolo a ser seguido caso o País registre um foco de gripe aviária. É o caso de Japão, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Vietnã, Filipinas, Reino Unido e Argentina. México, Malásia e Peru também já concordaram, só falta oficializar a decisão.
Na prática, isso significa que o importador deixa de comprar a carne de frango apenas do município ou estado onde for registrado o foco da doença, e não do país todo, reduzindo o impacto comercial. Os dez países que concordaram em adotar a regionalização responderam por cerca de um terço 30% das exportações brasileiras de carne de frango entre janeiro e outubro deste ano.
Na última semana, quase 90 focos do vírus H5N1 foram registrados em 13 países europeus, somando 577 surtos em 23 nações ao longo deste ano — o número ultrapassa os valores de 2023 e 2024, segundo dados apresentados pela ABPA.
Os casos também têm aumentado nos Estados Unidos, contribuindo para uma disparada nos preços do peru nas proximidades do Dia de Ação de Graças, comemorado na semana passada, e para uma queda de 7% nas exportações até julho.
Desde o início deste ano, foram mais de 500 focos em granjas comerciais, aves silvestres e de subsistência nos Estados Unidos. Só em novembro, 97 focos foram reportados.
“Estamos reforçando o nosso trabalho em biosseguridade, levando a mensagem aos produtores de que todos os cuidados valeram a pena”, disse Santin.
Com o foco de influenza aviária restrito ao município de Montenegro (RS), o Brasil conseguiu se recuperar do baque da doença e deve fechar 2025 com os volumes embarcados em relativa estabilidade ou até uma pequena alta de 0,5%, segundo a ABPA.
Com o retorno da China ao mercado — o país asiático retirou o embargo à carne de frango brasileira há cerca de um mês —, a expectativa da ABPA é que o preço médio de exportação também apresente uma recuperação nos próximos meses.
Para 2026, a entidade projeta um crescimento de até 3,4% nas exportações, para 5,5 milhões de toneladas, e um crescimento de 2% na produção, que pode atingir 15,6 milhões de toneladas.
Oportunidades
Com a gripe aviária se espalhando por diferentes países europeus, o Brasil deve ser chamado para aumentar as exportações para aquele continente, avaliou Santin. Nesse sentido, o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, que deve ser assinado no dia 20 de dezembro, pode ajudar.
Atualmente, o Brasil tem uma cota de 346 mil toneladas para exportar para a União Europeia e outra de 96 mil toneladas para o Reino Unido. Volumes que excederem a cota pagam uma tarifa de 1.300 euros por tonelada.
O acordo UE-Mercosul cria uma tarifa adicional de 180 mil toneladas, que entrará em vigor em fases no período de cinco anos. Segundo Santin, o Brasil deve ficar com uma fatia de aproximadamente 80% dessa cota, a depender das negociações com os outros países do bloco.
“O mercado europeu é importante, mas hoje tem 4% das nossas exportações. O aumento vai acontecer, mas o impacto no volume total é pouco. O maior impacto será na rentabilidade”, observou.
Suínos
A ABPA também traçou um cenário positivo para as exportações de carne suína. Depois de um aumento de aproximadamente 10% neste ano, os embarques podem voltar a subir até 4% em 2026, atingindo 1,55 milhão de toneladas. A produção, por sua vez, deve avançar 2,7% no próximo ano, para 5,7 milhões de toneladas.