Estratégia

Depois de Nova York, JBS caminha para fazer US$ 100 bi de receita

Se continuar crescendo entre 5% a 6% ao ano, em termos reais, faturamento da companhia brasileira vai se aproximar de impressionantes R$ 600 bi em 2030

JBS José Batista Sobrinho Wesley Batista

NOVA YORK – “Quando será a listagem? Agora, vocês perderam essa pergunta”. A fala bem-humorada de Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, aos analistas reunidos na bolsa de Nova York sintetiza uma mudança de era para a companhia dos irmãos Batista.

Depois de um périplo de oito anos, a maior empresa de proteína animal do planeta chegou à bolsa americana com direito ao toque do icônico sino de Wall Street pelo patriarca Zé Mineiro — aos 91 anos, o fundador protagonizou a festa da JBS na manhã desta quarta-feira, em uma cerimônia na sede da NYSE.

À frente da JBS desde dezembro de 2018, quando a chegada à Nova York parecia um sonho bem mais distante, Tomazoni agora não precisa mais responder à frequente pergunta de analistas sobre a listagem de ações, é verdade. Mas isso não significa que ele está livre dos temas insistentes.

Em um encontro que reuniu mais de 100 convidados na bolsa de Nova York, a JBS apresentou os planos para os próximos cinco anos, o que inclui mais de US$ 10 bilhões entre M&As e investimentos orgânicos — em média, cerca de US$ 1 bilhão por ano em aquisições e um montante semelhante em expansões.

Os números parecem superlativos, mas apenas replicam a média do que a própria JBS fez na última década. Quem conhece a JBS não tem dúvidas de que o crescimento será ainda maior, tamanha a oportunidade para financiar M&As que foi aberta pela estrutura de dupla classe de ações.

Não à toa, os analistas fustigaram Tomazoni para obter mais detalhes das dimensões do que pode estar pela frente. “Por que não estamos falando de algo mais ambicioso em alimentos preparados, para levá-los a um novo nível?”, indagou Thiago Duarte, analista do BTG Pactual.

Ricardo Alves (Morgan Stanley) e Isabella Simonato (Bank of America) também quiseram saber mais sobre a estratégia de M&As, questionando a participação aparentemente estagnada dos alimentos processados na receita total — em torno de 15% — e as possibilidades de aquisições mesmo fora do universo das proteínas.

Nas respostas, Tomazoni preferiu uma abordagem conversadora, mas deixou uma pista quando interagiu com Duarte. “Para responder sua pergunta, talvez o passado responda”, disse o CEO da JBS, em alusão indireta à americana Swift, mencionada pelo analista do BTG na pergunta.

Em 2007, a companhia dos irmãos Batista chegou aos Estados Unidos com a aquisição da Swift, que estavam em crise financeira, mas era um negócio bem maior que a brasileira. Repetir um M&A dessa envergadura não é impossível, mas cravar algo do gênero não é simples. A oportunidade precisa aparecer.

Enquanto isso não ocorre, a JBS prefere apresentar os cenários a partir do crescimento médio que costuma entregar, o que não é pouco. Se continuar expandindo entre 5% a 6% ao ano, em termos reais, a receita líquida da companhia saltará de US$ 78 bilhões para US$ 100 bilhões em 2030. O Ebitda, por sua vez, passará de US$ 7,5 bilhões a aproximadamente US$ 10 bilhões.

Os alvos na expansão

Para seguir essa trajetória, a companhia quer investir sobretudo em alimentos preparados, nos Estados Unidos e no Brasil, trazendo produtos de maior valor agregado e margem nas principais unidades de negócio (Pilgrim’s Pride, JBS USA, Seara e JBS Austrália).

A visão para os próximos cinco anos inclui a expansão de gráfica e de escala de dois negócios ainda incipientes na JBS: salmão e ovos. 

Segundo Tomazoni, a companhia ainda tem espaço para aumentar a produção de salmão na Tasmânia, onde é dona da Huon. Mas a Oceania é apenas parte do crescimento do negócio de aquicultura. O grupo vislumbra oportunidades de M&As em duas outras potências desse mercado: Chile e Noruega.

Nos ovos, a expansão será intensa. Depois de comprar 50% da Mantiqueira, uma das maiores fabricantes de ovos de mesa do Brasil, no início deste ano, a JBS se prepara para ingressar nos Estados Unidos, o que pode ocorrer por meio de M&As ou investimentos orgânicos.

O objetivo é estar entre as maiores players do mundo em salmão e ovos, emulando a posição de liderança que possui em carne bovina, frango e suínos.

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O jornalista viajou a Nova York a convite da JBS.