
A tarifa adicional de 55% imposta pela China às importações de carne bovina, confirmada nesta quarta-feira (31), inviabiliza as exportações extracota e impõe um teto de 1,1 milhão de toneladas aos embarques do Brasil. Em 2025, o País enviou 1,7 milhão de toneladas ao gigante asiático, o equivalente a 55% do volume total exportado de carne bovina in natura.
Diante da relevância da China para o setor, “serão necessários ajustes ao longo de toda a cadeia, da produção à exportação, para evitar impactos mais amplos”, afirmou a Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina) em comunicado conjunto com a CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Os fluxos globais de exportação também vão precisar se adaptar. Todos os exportadores de carne bovina foram afetados por salvaguardas, impostas após uma investigação conduzida pela China para avaliar os impactos das importações na produção local.
Nesta quarta-feira, o Ministério de Comércio da China confirmou a aplicação de uma tarifa de 55% sobre o que exceder uma cota de 2,7 milhões de toneladas concedida a parceiros estratégicos, volume levemente abaixo das 2,9 milhões de toneladas importadas durante todo o ano de 2024. A medida passa a valer a partir de 1 de janeiro de 2026.
O Brasil ficará com a maior cota, de 1,1 milhão de toneladas. Exportar fora da cota será inviável. “Os chineses não têm dinheiro para comprar carne a este preço”, disse uma fonte da indústria.
Nos cálculos da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), a imposição de salvaguardas pode significar uma perda de até US$ 3 bilhões em receita ao Brasil em 2026. “A medida representa um risco material e imediato ao desempenho das exportações brasileiras e ao equilíbrio da cadeia produtiva nacional”, disse a entidade em nota.
Lygia Pimentel, diretora-executiva da Agrifatto consultoria, também avalia que as exportações brasileiras ficarão limitadas a 1,1 milhão de toneladas anuais. “Crescer muito a partir daí não vai dar, mesmo que indiretamente”, disse ao The AgriBiz.
“Estávamos muito acomodados na China. Agora vamos ter de sair da zona de conforto e trabalhar mais os parceiros comerciais que já temos”, acrescentou Pimentel, lembrando que o Brasil é o país que mais tem parceiros nesse mercado no mundo.
Além dos Estados Unidos, que voltaram a importar a carne do Brasil sem tarifa, ela cita como parceiros relevantes nesse mercado nações do sudeste asiático, como Vietnã, Filipinas e Indonésia.
Como as cotas vão funcionar
As cotas serão crescentes nos três primeiros anos. No caso do Brasil, ela começará em 1,106 milhão de toneladas em 2026 — o volume deverá crescer cerca de 2% nos anos seguintes. A tarifa será de 12% dentro da cota e haverá uma sobretaxa de 55% para os volumes excedentes. Fora da cota, portanto, a tarifa total será de 67%. “Fica muito puxado”, resumiu Lygia Pimentel.
A Argentina ficará com a segunda maior cota, de 510 mil toneladas, seguida pelo Uruguai, com 320 mil toneladas. Austrália e Nova Zelândia ficarão com 200 mil toneladas cada, enquanto os Estados Unidos foram contemplados com uma cota de 160 mil toneladas.
Como os volumes concedidos à Argentina e Uruguai são maiores do que as exportações desses países à China no ano passado, é possível que os frigoríficos brasileiros consigam ampliar os volumes enviados à China via arbitragem, disse Pimentel.
“Argentina e Uruguai importam do Brasil, abastecem o seu mercado doméstico e aumentam as suas exportações para a China em relação a este ano”, explicou. Para a CEO da Agrifatto, o Brasil pode enviar cerca de 150 mil toneladas para os vizinhos sul-americanos, possibilitando que eles ampliem os envios ao país asiático.
Nesse contexto, os frigoríficos brasileiros com operação na Argentina e Uruguai devem se beneficiar, pois poderão se beneficiar das cotas nos três países. É o caso da Minerva e da MBRF.
Ainda assim, o Brasil precisará arrumar novos destinos para pelo menos 200 mil toneladas — considerando como base a exportação de 1,5 milhão de toneladas à China em 2024.
“Os Estados Unidos vão entrar como um bom parceiro de novo, temos os parceiros asiáticos, a arbitragem na América do Sul ajuda… Isso tudo condicionado à nossa competitividade alta, que garante uma demanda forte e deve manter fortalecidas as exportações através de um mix maior em 2026”, afirmou a especialista.
A expectativa de uma menor produção de carne em 2026 também deve ajudar a manter o mercado mais equilibrado. “2026 ainda tende a ser um ano bom. A carne brasileira ainda está muito barata e deve continuar”, finalizou.