
O Brasil exportou 3,27 milhões de toneladas de carne bovina entre janeiro e novembro de 2025, um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. O número também já supera em 8,4% o volume consolidado de 2024, que foi recorde.
Considerando apenas a quarta semana de novembro, o volume semanal de carne bovina in natura embarcada ultrapassou o mesmo período do ano passado em 66,75%. No total foram enviadas 80,27 mil toneladas.

Fontes: Mdic, IBGE e Agrifatto
O movimento é, de fato, exuberante. Mas, o que o explica?
Primeiro, vamos ao cenário interno. O Brasil passa por um processo multifatorial de aumento de oferta, liderado por três vertentes principais:
- a tradicional fase de liquidação do ciclo pecuário, que tem como efeito o aumento da oferta e da produção de carne;
- a retenção de fêmeas mais intensa ocorrida entre 2020 e 2022, que inseriu 1,63 milhão de ventres livres ao rebanho de fêmeas aptas à reprodução; e
- o aumento da produtividade pecuária como consequência do aporte tecnológico na atividade. Essa terceira vertente tem como consequência o aumento do desfrute de fêmeas, inclusive de forma programada, para que não se mantenha animais improdutivos no rebanho.
Tudo isso contribuiu para um aumento de oferta substancial, que faz com que a produção de carne brasileira estimada para 2025 supere em quase 6% o pico atingido anteriormente, em 2024.
Períodos de liquidação, com aumento substancial da oferta de gado e de carne, são comumente acompanhados de preços em queda, mas há um fator importante que amenizou esse processo a partir da segunda metade de 2024: a situação dos concorrentes brasileiros.
Os Estados Unidos detêm o primeiro lugar do ranking de produção de carne bovina global, apesar de estarem às margens de perder essa posição para o Brasil. Dito isso, uma queda produtiva tem grande influência sobre os preços globais do produto.
Não bastasse, a Argentina também se encontra em fase de início de reconstrução de rebanho após uma liquidação recente, o que reforça a redução de oferta global.
A Austrália está em plena fase de liquidação, tal qual o Brasil.
Considerando que, juntos, Argentina, Austrália, Brasil e Estados Unidos respondem por aproximadamente 50% da produção mundial de carne bovina, não é de se estranhar que os preços estejam firmes para o mundo todo.
Frente a uma demanda global que buscava um parceiro confiável, com solidez de fornecimento, volume e preços competitivos, o mundo encontrou no Brasil o oásis de oferta de um produto bom, barato e seguro.

Fontes: Faxcarne, Mdic, Cepea e Agrifatto
A verdade é que o clima tropical, a abundância de recursos hídricos e a fortíssima aptidão brasileira para a produção agrícola (incluindo aí a produção de pastagens) fazem com que o gado do Brasil seja 14% mais barato do que a média ponderada global dos principais exportadores de carne bovina. Em 2025, essa relação atingiu seu ápice, e o Brasil apresentou preços 23% mais baratos do que a média global.

Fonte: Agrifatto
A forte competitividade do Brasil no mercado internacional equilibrou a disponibilidade interna de carne, que encolheu 3% mesmo com uma produção 2,4% maior. As exportações subiram 15% e absorveram o excedente produtivo.
Com o aumento das vendas ao exterior, os preços da carne bovina no Brasil passaram a trabalhar de forma quase lateral ao longo de 2025: começamos o ano com o boi cotado em R$ 320,00 por arroba e assim também terminaremos o ano.
Em outras palavras, os gringos levaram embora o que teria derrubado o preço interno diante de tanto boi disponível no mercado atualmente.
O ponto é que essa situação não será alterada tão cedo.
O Brasil deverá começar a sair da fase de liquidação em alguns meses, mas ainda partirá de um ponto de oferta alto. Isso quer dizer que a disponibilidade de carne em 2026 deverá encolher um pouco, mas ainda há um volume grande de produção para circular no mercado.
Os Estados Unidos continuarão sua trajetória em direção à fase de retenção, o que também encurtará sua oferta doméstica, enquanto o mesmo deverá ocorrer com a Argentina.
Com os concorrentes encarando restrições na produção, a competitividade brasileira continuará em destaque. Mesmo com uma oferta menor, o mundo ainda recorrerá ao bom volume, ao bom preço e à solidez de fornecimento que o Brasil tem para oferecer.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e diretora-executiva da Agrifatto.