Recuperação judicial

Família Locks toma colheitadeiras e expõe caos do Grupo Safras

Revogação da recuperação judicial da cerealista controlada por Dilceu Rossatto e Pedro Moraes Filho pode abrir corrida por arresto de grãos

Ninguém disse que a recuperação judicial do Grupo Safras seria fácil, mas o caminho vem se provando bem mais tortuoso que o previsto, colocando em risco as chances de sobrevivência da cerealista controlada por Dilceu Rossatto (ex-prefeito de Sorriso) e Pedro Moraes Filho.

Na semana passada, a desembargadora Marilsen Andrade Addario, do TJ-MT (Tribunal de Justiça de Mato Grosso), revogou a recuperação judicial do Grupo Safras. Com isso, a companhia pode perder os ativos que lhe restam, frustrando a tentativa de negociar com os demais credores.

A decisão judicial atendeu a um pleito de ninguém menos que a família Locks. Credora do Grupo Safras, a companhia agropecuária tem como sócios o bilionário Itamar Locks e seu filho Samuel Maggi Locks — um dos herdeiros da Amaggi.

Junto do produtor Celso Izidoro Vigolo, que também é credor, a companhia acusa o Grupo Safras de cometer diversas irregularidades no processo de recuperação judicial, incluindo a ausência de documentos necessários para dar andamento ao mecanismo de proteção judicial.

Ao dar razão aos credores, a desembargadora abriu o caminho para um processo caótico de tomada dos ativos pelos credores.

Com R$ 6 milhões a receber do Grupo Safras, a Agropecuária Locks não perdeu tempo, foi até uma das propriedades rurais e tomou colheitadeiras avaliadas em R$ 15 milhões. Uma dessas máquinas, inclusive, estava em alienação fiduciária para o Banco da John Deere, apurou The AgriBiz.

O revés na Justiça surpreendeu os advogados do Grupo Safras e os negociadores que vinham tentando uma solução.

A companhia vinha costurando uma injeção de capital na Faria Lima por meio de um DIP — um tipo de financiamento que permite a empresas em recuperação judicial tomar crédito e continuar operando, em contrapartida à prioridade do pagamento aos financiadores.

Com esse DIP, a companhia pagaria adiantado aos produtores que depositassem grãos nos armazéns, numa tentativa de retomada gradual de suas operações. 

Agora, sem a recuperação judicial, bloqueios em conta e pedidos de arresto de grãos e de bens tendem a se multiplicar, refletindo a corrida dos credores para resolverem seus débitos. 

De olho em conter esse movimento, está em estudo um recurso para que o Grupo Safras consiga preservar seus bens — o foco é preservar as características de uma recuperação judicial. 

Ao todo, o Grupo safras possui  900 credores. A cerealista do Mato Grosso entrou na Justiça com uma dívida de R$ 2,2 bilhões, em abril deste ano, ratificada posteriormente para R$ 1,8 bilhão (desconsiderando créditos extraconcursais, ou seja, aqueles que não se sujeitam à RJ). 

Entre os credores, a paranaense Flowinvest possui a maior exposição, com mais de R$ 300 milhões em um FIDC. Em seguida, estão Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. 

Além disso, a companhia possui um passivo relevante no mercado de capitais. Quando assumiu a Copagri, levou um CRA de R$ 150 milhões, que tem como investidores Vectis e Itaú Asset.

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Procurados, Agropecuária Locks e Grupo Safras não comentaram.