Governança

Enquanto Previ deixa BRF, Marfrig investe R$ 2,4 bi em ações

Ao zerar a posição, a Previ tira sentido da disputa societária e facilita o caminho para que a fusão seja aprovada

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Depois de 30 anos, a Previ deixou de ser acionista da BRF, encerrando uma trajetória iniciada em 1994, quando o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil assumiu uma posição na Perdigão, companhia catarinense de alimentos que enfrentava uma grave crise financeira.

A Previ sai do quadro societário da dona da Sadia enquanto ainda tentava melhorar a relação de troca de ações na fusão entre BRF e Marfrig, com ações judiciais e recursos na CVM. (A informação sobre a venda das ações da Previ foi antecipada pelos colegas do InvestNews).

Ao zerar a posição na BRF, a Previ tira sentido da disputa societária e facilita o caminho para que a transação seja aprovada, ainda mais porque a Marfrig e os controladores (Marcos Molina e a esposa Márcia) continuaram ampliando a participação nos últimos dias.

No sábado, a dona da Sadia informou que a posição dos controladores chegou a 58,9%, provavelmente ficando com parte das ações que a Previ decidiu vender a mercado.

Desde o anúncio da fusão, em meados de maio, a Marfrig e os controladores já investiram cerca de R$ 2,4 bilhões para aumentar a posição na BRF, apurou The AgriBiz.

Quem também montou uma posição na dona da Sadia foi o BTG Pactual, que chegou a pouco mais de 7% dos papéis. O banco de André Esteves deve apoiar a fusão, disse uma fonte.

Fim de uma história

Ao deixar a BRF, a Previ encerra um longo capítulo do capitalismo brasileiro. O fundo de pensão foi um dos protagonistas na transformação da companhia em uma das maiores indústrias de carne de frango do planeta, assumindo a liderança no mercado brasileiro nos anos 2000.

Ao lado da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, a Previ formou um bloco de referência que ditou os rumos da Perdigão por muitos anos, boa parte do tempo sob o comando de Nildemar Secches.

A fundação foi crucial na formação da BRF, nascida a partir da incorporação da Sadia pela Perdigão em 2009 em uma transação que contou com o apoio do BNDES e com o aporte de investidores privados para resgatar a companhia da família Fontana da crise dos derivativos cambiais.

Entre 2013 e 2018, a Previ aceitou ser uma coadjuvante no bloco acionário da BRF, deixando a liderança estratégica com a Tarpon e Abilio Diniz. O projeto, no entanto, fracassou, o que levou a fundação a retomar as rédeas ao lado da Petros, que articularam a destituição do empresário.

Nesse retorno, os fundos de pensão não tiveram o mesmo sucesso dos tempos de Perdigão. A BRF chegou a esboçar melhores resultados durante a epidemia de peste suína africana na China, mas a companhia não voltou aos melhores tempos e sofria com os custos da ração.

A situação só começaria a mudar mesmo em 2021, quando o empresário Marcos Molina montou uma posição de mais de 20% do capital da dona da Sadia por meio da Marfrig, iniciando uma trajetória que o levaria ao controle da BRF em 2022 (inicialmente, com a maioria no conselho de administração, e desde meados de 2023 com mais de 50%).

A Previ reduziu a participação ao longos dos anos, mas ainda indicava um membro no conselho de administração da BRF. Antes de zerar a posição, a fundação tinha pouco menos de 5% dos papéis.

Em nota, a Previ destacou o desempenho de longo prazo do investimento na BRF, superando o Ibovespa em 83,52% e a meta atuarial em 16,05%. “Esses números demonstram a eficácia da estratégia de investimento da Previ”, justificou a fundação.