
O modelo de recuperação de créditos da RJ da Agrogalaxy está fazendo escola. No processo de recuperação extrajudicial da Belagrícola, gestoras também vão montar um fundo de recebíveis a partir de créditos vencidos da distribuidora de insumos paranaense.
A estratégia é liderada por Valora, JGP e Capitânia, gestoras que compartilham um mesmo CRA da cooperativa, uma emissão de R$ 500 milhões feita em 2022. O saldo devedor desse CRA, hoje, é de R$ 255,3 milhões.
A JGP hoje tem uma exposição de 6% do patrimônio líquido do fundo JGPX11 a esse título, e de 4,8% do fundo JGPT11. Somado, esse montante é de R$ 21 milhões. A Valora tem uma exposição de 3,9% do PL do VGIA11, e de 4,3% do PL do VHFA11, somando R$ 77 milhões, além de outros R$ 30 milhões em um FIDC Fiagro (equivalente a 6% do PL desse fundo). Na Capitânia, a exposição é de 1,2% do CPTR11 (R$ 58 milhões) e de 1,7% do fundo CPAC.
Além das três casas, o fundo GRWA11, da Greenwich Investimentos, também tem uma exposição a esse título, de 0,7% do fundo (que tem um PL de R$ 28 milhões).
No esforço para trazer uma melhor recuperação desse saldo devedor, as gestoras vão injetar R$ 15 milhões no caixa da cooperativa, o equivalente a 13% da carteira de recebíveis que vão comprar (a carteira é, portanto, de R$ 122 milhões). Cada gestora vai fazer aportes na proporção da exposição ao CRA da Belagrícola.
O dinheiro vai comprar recebíveis que estão em processo de renegociação, mas que não são créditos judicializados. Esses papéis serão colocados em um novo fundo de investimento — nos mesmos moldes, de novo, do que foi feito na Agrogalaxy.
A partir dessa injeção de capital no caixa da cooperativa, as gestoras vão trocar o papel atual que têm (o CRA emitido em 2022) por um novo papel, que terá remuneração de CDI+1% ao ano, enquanto o papel emitido há três anos tem uma remuneração de CDI+4,20%.
Também haverá uma extensão no prazo de pagamento, como é de praxe em processos de reestruturação. Os credores, originalmente, receberiam o montante devido ao longo dos próximos três anos. Agora, devem levar sete anos para receber (sendo dois anos de carência e cinco de pagamento).
O haircut implícito existe, é claro, na casa de 10% a 15%, segundo fontes ouvidas por The AgriBiz. Ainda assim, é menor do que a alternativa que restaria aos fundos sem essa engenhoca da compra de recebíveis — capaz de transformá-los em credores apoiadores da Belagrícola (chamados de “credores participantes”, no documento).
Caso não aderissem a essa opção, os credores ainda trocariam os papéis atuais por novos, com condições menos vantajosas. Receberiam 25% do montante devido, indexado ao IPCA, começando a ser pago daqui a sete anos, sendo quitado em quatro parcelas semestrais.
A Belagrícola ainda tem outro CRA de R$ 500 milhões, securitizado pela Vert, de 2023. Porém, esse papel, que está presente em fundos como o PAAG11, do Pátria, é um “true sale” de recebíveis de produtores ligados à cooperativa e, por isso, fica de fora do processo de recuperação extrajudicial. (Na prática, a cooperativa já vendeu esses recebíveis para o fundo, então não há triangulação entre credor e devedor).
FDICs seguem mesma rota
Ainda olhando para o mercado de capitais, os credores que têm FDICs da Belagrícola vão seguir a mesma lógica das gestoras que têm o CRA. Essa dívida com FDICs soma R$ 34,9 milhões, de acordo com o plano protocolado.
Para se tornarem credores participantes, os fundos de direitos creditórios terão de aportar R$ 34,9 milhões no caixa da Belagrícola. A condição de pagamento é a mesma: receber um novo papel, que tem juros de CDI+1% ao ano, com carência de 24 meses para a amortização e sendo quitado ao longo de sete anos.
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No plano protocolado nesta semana, a Belagrícola conseguiu a adesão de 35,8% dos créditos quirografários (sem garantia) sujeitos ao processo, ou R$ 788 milhões (de uma dívida total de R$ 2,1 bilhões). Agora, restam 90 dias para chegar a 50% e conseguir, enfim homologar o plano.
A maior parte da dívida está com fornecedores. Essa classe também terá direito a uma gama de opções de pagamento: a primeira opção considera o recebimento de 100% dos créditos, corrigido pelo IPCA, desde que seja feita uma operação de M&A primária. A segunda opção considera a conversão da dívida para o dólar, limitado a US$ 60 milhões e, a terceira opção considera a quitação de dívidas por R$ 5 mil.
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Atualizado às 19h33: No pregão desta quinta-feira, os fundos da JGP fecharam em estabilidade (alta sutil de 0,74%). O VGIA11 teve queda de 1,3% e o VHFA, de 1,4%. Na Capitânia, o CPTR11 fechou o dia praticamente estável (queda de 0,27%). O GRWA11 caiu 2%.