
Em um trimestre para espantar as desconfianças, a Boa Safra montou uma carteira de pedidos substancial, mostrando que pode crescer mudando radicalmente o perfil de clientes — saindo das grandes revendas agrícolas, mais endividadas, em direção às médias e pequenas.
“Será que a Boa Safra vai conseguir crescer em vendas reduzindo tanto as grandes contas? Acho que demos uma resposta a essa dúvida”, disse Felipe Marques, diretor financeiro da sementeira, em entrevista a jornalistas.
A revisão no portfólio de clientes da Boa Safra, tirando o pé de redes como Agrogalaxy e Lavoro, é mais um sinal de que o processo de consolidação das revendas estagnou em meio às dificuldades financeiras dos principais consolidadores, mas não apenas. Neste momento, há uma tendência de fragmentação.
“As grandes contas estão tendo menos acesso a mercado, diminuindo share. Ainda não sabemos qual vai ser o desfecho, mas vai ter uma mudança muito grande. Aparentemente, o mercado deu uma pulverizada”, avaliou Marques.
Por enquanto, as mudanças indicam que a sementeira dos irmãos Camila e Marino Colpo fez uma leitura correta do mercado, reduzindo o risco de clientes maiores que não só passaram por um aperto financeiro como também estão perdendo participação de mercado.
Com esse esforço de diversificação de clientes, a Boa Safra conseguiu acelerar a carteira de pedidos, indicou o diretor financeiro. No primeiro trimestre, essa carteira totalizou R$ 1,4 bilhão, um salto de 40% na comparação anual.
Para quem acompanha os bastidores das sementeiras, a reação da Boa Safra já era esperada. “Eles fizeram um movimento agressivo para fechar pedidos, às vezes com preços até 10% mais baixos”, disse um concorrente.
A estratégia de crescimento também inclui uma expansão rumo ao Sul do País, com o arrendamento de duas unidades de beneficiamento de sementes. Com esse movimento, a Boa Safra supre uma lacuna. Até então, a companhia praticamente só atuava no Cerrado, deixando de lado uma região que responde por um terço da área plantada de soja no País.
“Tínhamos uma atuação muito tímida no Sul. Agora, vamos começar a mostrar números mais robustos”, sinalizou Marques.
Otimismo
Os sinais de que a fase é de crescimento mudaram o tom da Boa Safra, que ficou mais otimista depois de muitos trimestres cautelosos — cuidando do crédito e até cancelando as vendas de sementes para revendas em dificuldades financeiras.
O diretor financeiro da Boa Safra traçou um panorama positivo para os recebimentos — os vencimentos estão concentrados entre 30 de abril e 20 de maio.
“Estamos tendo um ano de recebimentos dentro do histórico da nossa companhia. Isso é muito positivo. Não vamos ter um ano catastrófico como alguns imaginaram”, disse Marques, espantando a crise.
Segundo ele, a recuperação da produtividade de soja nesta safra 2024/25 ajuda a melhorar a liquidez dos produtores. “Há mais dinheiro disponível na agricultura para irrigar o sistema”, avaliou.
Nesse ambiente, o pior parece ter ficado para trás. A esperança é que, com isso, os investidores retomem a confiança na companhia. Neste ano, as ações sobem 3%, mas ainda acumulam uma desvalorização de 40% em doze meses.
A Boa Safra está avaliada em R$ 1,4 bilhão na Bolsa.