Semente de soja royalties

A cautela impera na Boa Safra. Para atravessar a tempestade perfeita que atingiu as sementeiras brasileiras, a companhia dos irmãos Colpo acaba de anunciar uma reorganização na estrutura corporativa para enxugar custos, uma forma de ganhar eficiência para competir em um mercado mais sensível a preços.

Nessa reorganização, a Boa Safra extinguiu duas posições de diretoria. Andréia Cocka de Oliveira, que atuava como diretora de marketing, e Maurício Pagotto, diretor de novos negócios, deixam a empresa. As funções de ambos serão absorvidas pelos demais diretores.

A saída da dupla é a face mais visível de um movimento deflagrado pela Boa Safra para reduzir o SG&A — sigla em inglês para despesas com vendas, gerais e administrativas. “Precisamos de mais eficiência. Estamos de olho em todo o SG&A”, resumiu Marino Colpo, CEO da Boa Safra, em entrevista ao The AgriBiz.

As mudanças incluem uma redução de 5% do quadro de funcionários de diversos níveis gerenciais, o que significa um corte de pouco mais de 100 pessoas, considerando que a Boa Safra possuía 1,1 mil funcionários.

Com isso, a companhia quer deixar a estrutura mais leve e horizontal, ganhando velocidade na tomada de decisões, disse Felipe Marques, diretor financeiro e de relações com investidores da sementeira goiana.

As razões das medidas

Os cortes feitos pela Boa Safra são explicados por duas razões. A primeira delas, é claro, é a conjuntura de mercado. Segundo Colpo, as sementeiras brasileiras enfrentam a maior crise dos últimos anos, com um excesso de estoques de sementes de soja.

Nesse ambiente, os preços de sementes estão sob pressão — o que corrói as margens —, e há muitos casos de negócios fechados com descontos substanciais apenas pela necessidade de fazer algum caixa.

Diante desse cenário, o enxugamento de despesas vai ajudar a Boa Safra a reduzir o custo unitário de servir, uma medida necessária para manter a competividade, segundo Colpo.

Além disso, Colpo faz uma espécie de “mea culpa”. Ao triplicar de tamanho nos últimos cinco anos, a Boa Safra ficou com uma estrutura mais inchada do que o necessário, o que agora está sendo corrigido. “Quando cresce muito rápido, acaba tendo excessos. Podemos ser mais eficientes”, frisou.

Financeiramente, a Boa Safra está em posição privilegiada para enfrentar as turbulências. Em setembro, a sementeira possuía mais de R$ 1 bilhão em caixa, com uma dívida líquida de R$ 74 milhões e um índice de alavancagem de apenas 0,3 vez.

“Estamos na melhor posição possível do mercado. Vamos sair fortalecidos da crise, mas precisamos fazer a lição de casa”, resumiu o empresário.

Segundo ele, é preciso estar preparado para um ano que ainda promete ser desafiador em 2026. “Não me parece que vai ser fácil”.

A ideia da Boa Safra é ajustar a companhia para continuar crescendo mesmo em um cenário mais difícil. “O ritmo de crescimento pode ser diferente, mas vamos continuar crescendo”, assegurou Colpo.

Nos últimos doze meses encerrados em setembro, a receita líquida da Boa Safra cresceu 36%, batendo R$ 2,3 bilhões.

O crescimento, no entanto, precisa vir acompanhado da rentabilidade, o que também explica o chacoalhão feito pela sementeira goiana. “Não estamos satisfeitos com as margens”, reconheceu o CEO da Boa Safra.

Nos últimos doze meses encerrados em setembro, a margem líquida da Boa Safra ficou em apenas 4%, uma piora sensível em relação aos 10% de um ano antes. O trabalho agora é para recompor as margens.

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Listada na B3, as ações da Boa Safra (SOJA3) caem 7,8% no acumulado do ano. A sementeira está avaliada em R$ 1,26 bilhão.