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Mercado de etanol pode ter o primeiro déficit em 14 anos

Expansão do etanol de milho não é suficiente para cobrir o buraco deixado pelo biocombustível de cana, cuja produção está abaixo do esperado, elevando preços

Posto de combustíveis; mistura de etanol na gasolina deve subir

O mercado brasileiro de etanol pode registrar o primeiro déficit em 14 anos — cenário que já começa a refletir nos preços, na demanda e até nas importações do biocombustível.

Segundo estimativa da Veeries, a diferença entre a produção e o consumo de etanol deve ficar negativa em 890 milhões de litros ao final da safra 2025/26 no País. No Centro-Sul, haverá um superávit de aproximadamente 2 bilhões de litros, o mais baixo desde 2016/17.

O déficit — o primeiro desde 2011, quando houve uma quebra grande na safra de cana — não significa que faltará etanol no mercado brasileiro, pondera Fabio Meneghin, sócio da Veeries. Embora estejam mais baixos, os estoques de etanol serão suficientes para suprir a demanda. Mas a oferta apertada deve manter os preços do biocombustível firmes até o início da próxima safra, segundo o especialista.

Em aproximadamente 30 dias, o preço do etanol hidratado ao consumidor subiu 3,7% em São Paulo, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis), resultando numa piora na relação de troca com a gasolina — mas ainda favorável ao consumo de etanol no maior estado produtor.

Já em outros grandes mercados consumidores, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais, a gasolina já ficou mais competitiva, o que tem resultado na redução da participação do hidratado no consumo dos combustíveis de ciclo Otto.

“O etanol perdeu competitividade ao longo de 2025 por causa do aumento de preço”, disse Meneghin ao The AgriBiz.

Enquanto o preço do etanol hidratado subiu 4% no Brasil em 2025, a gasolina variou apenas 0,6%. Resultado: o share do etanol hidratado caiu para 30,8% em setembro, segundo estimativa da Veeries, ante aproximadamente 32% no início deste ano e no mesmo período do ano passado.

A alta do etanol reflete principalmente sucessivas frustrações com a atual safra de cana-de-açúcar. A produção de combustível de cana deve terminar a temporada pelo menos 2 bilhões de litros abaixo do esperado no início da safra — o equivalente a um mês de consumo. Em relação à safra anterior, a produção deve ser 3 bilhões de litros menor.

Ao mesmo tempo, a produção de etanol de milho cresceu acima do esperado, superando o volume da safra passada em 1 bilhão de litros — nesta safra, a Veeries estima que ela chegue a 9,1 bilhões de litros. Mas esse crescimento não será suficiente para cobrir o buraco na oferta do biocombustível de cana.

Além do impacto da frustração na safra de cana, o consumo de etanol hidratado ganhou um estímulo em agosto deste ano, com a mistura obrigatória na gasolina passando de 27,5% para 30% — fator que contribuiu para a alta nos preços.

Com o balanço apertado entre oferta e demanda de etanol, a importação do biocombustível começou a ficar viável, disse Meneghin. De abril a agosto, elas somaram 150 milhões de litros, acima da média dos últimos cinco anos para este período. “O volume ainda é baixo, mas o balanço já sugere um pouco mais de importação este ano”, disse.

Reação

Diante da alta no preço do etanol, as usinas poderiam aumentar o mix alcooleiro neste final de safra, resultando em maior oferta? Para o sócio da Veeries, o espaço para esse tipo de manobra é muito limitado.

Os line-ups de açúcar para outubro continuam muito fortes, depois de um mês de embarques intensos em setembro, segundo Meneghin. Além disso, o Centro-Sul caminha para o seu terço final, período normalmente marcado por chuvas que afetam a quantidade de açúcar na cana e, consequentemente, resultam em um aumento na produção de etanol naturalmente. “Mas isso já está nas nossas projeções.”

Outra possibilidade que pode ser considerada é a antecipação da moagem da safra 2026/27, dependendo da atratividade dos preços do etanol, lembra Meneghin. Nesse caso, acrescenta, pode ser que o déficit, estimado para março de 2026, não se confirme.

2026/27

O aperto na oferta de etanol, no entanto, deve durar apenas até o início da próxima safra, quando é esperada uma recuperação. A produção total de etanol deve aumentar 15% em 2026/27, para 41,8 bilhões de litros, estima a Veeries.

A produção de cana deve recuperar os 2 bilhões de litros perdidos na safra atual e atingir 28,3 bilhões de litros (um crescimento de 8%). Já a oferta de etanol de milho deve subir 35%, para 13,2 bilhões de litros. Nesse cenário, haverá condições para o etanol hidratado retomar market share no consumo total, aproximando-se novamente dos 35% em todo o País.