Plínio Nastari, fundador da Datagro | Crédito: Divulgação

A pujança do etanol de milho ganhou números atualizados: até a safra 2034/35, a oferta do biocombustível feito a partir do cereal vai igualar o patamar atual da produção de etanol a partir da cana.

A previsão é de Plinio Nastari, presidente e fundador da consultoria agrícola Datagro. Em sua tradicional estimativa pré-safra, Nastari apresentou projeções atualizadas sobre a produção de etanol de milho. Segundo ele, há atualmente 25 plantas em operação, 18 em construção e 19 em fase de projeto — números semelhantes aos antecipados por The AgriBiz no início do mês.

A capacidade de produção dessas usinas é estimada em 11,14 bilhões de litros, com a produção efetiva na safra 2025/26 projetada em 10,2 bilhões de litros.

Nesse pipeline, incluindo os prazos até que as novas usinas estejam operando em 100% de seus potenciais, a capacidade de produção de etanol de milho vai aumentar entre 3 bilhões e 3,5 bilhões de litros até o fim de 2026. E deve saltar para 24,72 bilhões de litros até 2034, de acordo com a Datagro.

Com isso, a produção de etanol de milho atingirá patamar equivalente ao da atual produção baseada na cana, projetada pela consultoria em 25,99 bilhões de litros na safra 2025/26.

“A rápida expansão do etanol de milho está mudando a escala de produção. Ele está indo para outros estados, o que significa que vamos ter etanol disponível localmente nessas regiões, abrindo uma perspectiva de aumento de consumo”, disse Nastari.

Em sua apresentação — ponto alto da 25ª edição da Conferência do Açúcar e do Etanol da Datagro, que neste ano celebrou também os 50 anos do Proálcool —, Nastari destacou a expansão das usinas no Nordeste.

O movimento, afirmou, deve reduzir o déficit regional de etanol e, por reflexo, fazer sobrar biocombustível no Centro-Sul que deixará de ser transportado.

Nos números da Datagro, o déficit no Nordeste deve cair mais de 400 milhões de litros na safra 2025/26 na comparação com 2024/25, o equivalente a 10%. Até 2030, a estimativa é que caia 85%.

Etanol de milho segue competitivo

Nastari salientou ainda a manutenção da competitividade do etanol de milho. Segundo a Datagro, o custo do litro de álcool etílico hidratado deve oscilar entre R$ 2,02 e R$ 2,30 na próxima safra, ante um custo por litro de etanol a partir da cana estimado em R$ 2,86.

Esse patamar deve ser suficiente para suplantar o crescimento recente no preço do DDG, puxado por um aumento de quase 20% na demanda chinesa.

O custo baixo de produção deve ser capaz também de compensar um aumento no custo da biomassa a partir do eucalipto, a principal fonte de energia nas usinas, hoje estimado em R$ 7,71 por saca de milho.

“Seis anos atrás, o cavaco de madeira custava R$ 120 a tonelada. Hoje, está custando R$ 240, e tem usinas mais distantes pagando R$ 500 a tonelada”, disse Nastari.

De acordo com o presidente da Datagro, nas usinas flex que alternam milho e cana, o benefício de usar o bagaço como biomassa pode ser um diferencial — embora fique sujeito a uma arbitragem com o custo da energia elétrica a partir da matéria-prima.

A pressão sobre o etanol

Nastari afirmou que os EUA ampliaram seu excedente exportável de etanol neste ano, graças a um aumento na produção de milho e a uma redução no consumo de gasolina.

Esta é puxada pelo aumento na venda de veículos eletrificados, que em 2025 vão representar 21,6% das vendas de automóveis no país, contra 18,4% em 2024, e pela redução na quantidade de quilômetros dirigidos — a quilometragem dos americanos caiu na pandemia e não retornou aos níveis anteriores.

Nesse contexto, o Brasil ainda deve importar etanol na janela entre dezembro de 2025 e março de 2026, entressafra da cana. Segundo Nastari, alguns navios já foram nomeados nos EUA para endereçar etanol para o País.

No mundo, a venda de veículos eletrificados deve seguir em alta, segundo a Datagro, com destaque para a China, onde 51,3% dos veículos vendidos em 2025 devem ser elétricos — ante 41,3% em 2024.

Na Europa, a proporção de eletrificados também deve crescer, de 50,9% em 2024 para 61,2% em 2025. No Brasil, os eletrificados devem responder por 10,2% das vendas, ante 7,4% em 2024.

Além da eletrificação, outro fator que pode pressionar o etanol brasileiro é a redução nos preços da gasolina promovida pela Petrobras a partir desta terça-feira (21) em suas refinarias, equivalente a R$ 0,14 por litro (queda de 4,9%).

Safra 2025/26 deve ser heterogênea

Para a próxima safra, Nastari apresentou um cenário heterogêneo, puxado pela seca e pelas queimadas de 2024.

A produção de cana deve ficar em 607,38 milhões de toneladas, uma queda de 2,3% frente à safra 2024/25. O ATR deve cair 2,6%, e o mix açúcar-etanol deve ficar em 52,1% para o açúcar, um aumento de 4% na base anual.

Com isso, a produção de açúcar deve subir 3,1%, para 41,42 milhões de toneladas, em paralelo com um aumento de 1 milhão a 1,8 milhão de toneladas na demanda global pela commodity.

Já a produção de etanol deve cair 4,9%, para 33,23 bilhões de litros.

O presidente da Datagro dividiu a safra em três recortes. No primeiro terço, impactado pelos eventos climáticos de 2024, o desenvolvimento das plantas foi afetado, resultando em TCH (tonelada de cana por hectare) e ATR ruins.

No segundo terço, de áreas afetadas apenas por uma geada moderada, o TCH e o ATR sinalizam níveis regulares e em recuperação. Já no terceiro terço, TCH e ATR apresentam níveis bons, disse Nastari.

A produção de açúcar por hectare deve se manter em ritmo elevado na comparação com os anos-safra anteriores. E mesmo o ATR, que na média se manteve abaixo do nível dos anos anteriores, surpreendeu positivamente na segunda quinzena de setembro, disse Nastari.