
A marca não é nova, mas o apelo está mais atual do que nunca. Nos Estados Unidos, o Republican Coffee faz sucesso desde 2016 — ano da primeira campanha presidencial de Trump — com “roasts” inspirados no presidente americano e no conservadorismo.
São vários produtos listados no site, que alterna na página principal imagens do presidente Donald Trump com os grãos de café e a bebida pronta. Destacam-se o Make America Great Again, o Coffee Classic Roast e o Morning in America.
Tem espaço também para provocações, como o café denominado Leftist Tears (“lágrimas esquerdistas”, em inglês). E, claro, a estrela do portfólio: o Donald Trump Roast, que traz o rosto do presidente americano na embalagem.
“Nós prometemos que o sabor desse café é forte o suficiente para você se impor sobre seus amigos democratas”, brinca a descrição do produto.
A Republican Coffee faz na Flórida a torrefação dos grãos — importados de Honduras, é bom destacar, segundo o anúncio de um dos produtos na Amazon. A marca não é a única a mesclar o patriotismo conservador ao hábito de tomar café no país que ocupa a posição de maior consumidor do mundo da bebida, mas não produz os grãos.
Uma rápida busca em sites de varejo online mostra outras marcas de cafés igualmente inspiradas em Trump ou no conservadorismo. São exemplos a PatriotDepot, a Rojo Elephant (“elevante vermelho”, em inglês e espanhol, em referência ao animal-símbolo do partido Republicano) e a Black Rifle (“rifle negro”).
Todas dizem empregar grãos especiais de café arábica da América do Sul ou da Indonésia, e algumas vão mais longe e informam que a origem passa pelo Brasil e pela Colômbia.
Make Inflation Great Again
Em sua autodescrição, a Republican Coffee se orgulha de ser uma empresa “exclusivamente americana” e dispara mensagens-chave que ficaram famosas sob o rótulo do MAGA — o “make America Great Again” (“faça a América ser grande novamente”) que estampa o famoso boné vermelho de Trump.
São várias as menções aos ideais do “sonho americano” e ao potencial de liderança da América na seção “sobre nós” no site da empresa. “Nosso café é torrado na Florida, a poucos minutos do lindo Golfo da América”, diz o texto, adotando a polêmica terminologia imposta por Trump para renomear a região conhecida como Golfo do México.
Mas apesar do ufanismo, os preços, em torno de US$ 19 (R$ 106,5) a embalagem com 340 gramas, devem aumentar após a sobretaxa de 50% instituída pelo presidente dos EUA sobre produtos do Brasil, marcada para entrar em vigor em 6 de agosto.
Segundo especialistas, os americanos são altamente dependentes da produção de café do Brasil.
O País é o maior produtor e exportador de café arábica no mundo, o preferido do mercado americano. E é o maior fornecedor de café aos EUA, respondendo por cerca de um terço (34%) das importações americanas — o equivalente a cerca de 8 milhões de sacas, das quais cerca de 2 milhões são de cafés “especiais”, os mais visados.
Especialistas dizem que não é possível substituir o café brasileiro na dieta americana, por dois motivos: Primeiro, o produto do Brasil tem qualidades intrínsecas — com as quais o consumidor nos EUA já está habituado — que o diferenciam dos demais arábicas no mundo. Além disso, a produção global por demais ajustada em termos de oferta torna impossível comprar de outras origens o volume de arábica que os EUA consomem.
Por isso, segundo estimativa da própria National Coffee Association (NCA), se nada mudar até lá, os preços do café nos EUA devem subir — e o orgulho Trumpista vai ter de pôr a mão no bolso para manter o pique.