Trigo

Com recursos do BNDES, Be8 vai tornar o Brasil autossuficiente em glúten

Quando a fábrica estiver pronta, a empresa gaúcha será capaz de produzir 25,6 mil toneladas de glúten vital por ano

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A gaúcha Be8 vai instalar a primeira fábrica de glúten vital do País, mudando a forma como o Brasil garante o suprimento da matéria-prima. Quando a fábrica estiver pronta, no final de 2026, a ideia é não só atender toda a demanda interna — até aqui suprida com importações — como também ir além e fazer do Brasil um exportador.

Líder em biodiesel no País, a Be8 anunciou nesta segunda-feira a aprovação de um financiamento de R$ 290,2 milhões do BNDES para estruturar suas operações com etanol à base de trigo e outros cereais em Passo Fundo (RS).

O glúten vital é uma proteína extraída da farinha de trigo com propriedades aglutinantes, usada para melhorar a textura e elasticidade de massas e produtos de panificação. Além disso, está presente em medicamentos e em itens de higiene pessoal, como cremes dentais e enxaguantes bucais.

O Brasil foi tradicionalmente 100% dependente de importações do ingrediente. Foram 22,1 mil toneladas em 2024, compradas de países como Áustria, China, Bélgica e Alemanha, segundo dados compilados pela Associação Brasileira de Indústria de Trigo.

Com os R$ 290,2 milhões da linha BNDES Mais Inovação, a Be8 almeja produzir 25,6 mil toneladas de glúten vital por ano. A ideia é suprir toda a demanda da indústria alimentícia no País e exportar o excedente — segundo a empresa, há possível demanda do Chile.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, celebrou a potencial redução de um gargalo histórico: “O Brasil deixa de ser 100% dependente da importação de glúten vital e passa a ocupar um novo espaço estratégico na cadeia de trigo”.

José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, citou a potencial geração de empregos — a estimativa do banco é de que o projeto gere 29 empregos diretos e cerca de 500 indiretos.

Integração “food and fuel”

Nos planos da Be8, alimentos e biocombustíveis caminharão lado a lado. A nova unidade será implantada junto a uma biorrefinaria que está em construção desde o ano passado, também com recursos do BNDES, na qual a Be8 vai produzir etanol de cereais — principalmente trigo e milho — para combustíveis automotivos.

Segundo a empresa, a integração das instalações e operações “permitirá o aproveitamento direto do farelo da moagem de glúten no processo de hidrólise e posterior fermentação para etanol”, possibilitando produzir 209 mil metros cúbicos de etanol anidro por ano.

A operação deve gerar subprodutos, como estimadas 153 mil toneladas de farelo DDGS, usado na indústria de ração animal.

A Be8 lista ainda ganhos ao ecossistema do trigo na região — em um raio de 200 quilômetros a partir da nova planta se situa mais da metade do cultivo de trigo no Rio Grande do Sul. A empresa projeta processar 525 mil toneladas de cereais ao ano e, com isso, fomentar a produção de culturas de inverno.

Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8, destacou como o projeto integra geração de energia e produção de alimento, “confirmando que esses dois desafios podem ser superados de forma conjunta”.