
A BrasilAgro sabe o que quer: ativos sob estresse, incluindo aqueles que estão passando por recuperações judiciais.
Mas, apesar de ter sido muito cortejada no último ano, a companhia — uma das líderes no País em comprar, desenvolver e vender propriedades rurais — não encontrou nenhum par ideal. Por isso, completou seu primeiro ano-safra na história sem fazer uma aquisição de fazenda — realizou apenas um arrendamento, em Comodoro (MT).
“A gente entende que os preços e as taxas de retorno ainda não são atrativos. A gente tem que ser muito cauteloso nas aquisições, procurando sempre os momentos mais adequados para investir e desinvestir”, disse o CEO André Guillaumon durante o BrasilAgro Day, nesta sexta-feira, em São Paulo.
A companhia informou, em maio deste ano, que estava capitalizada em relação à concorrência e iria às compras. Esse apetite prossegue, mas foi postergado por questões cíclicas, como a Selic ainda nas alturas, gerando preocupação com a alavancagem, e o valor das propriedades ainda em patamar ainda elevado.
Segundo Guillaumon, o preço das terras subiu muito na época da soja a R$ 200 a saca, e ainda não caiu o suficiente para acionar o gatilho de compra da companhia.
“Estamos vendo o mercado superofertado neste momento. E com expectativa de dólar a R$ 5,60 em 2026, temos de ter uma alavancagem muito baixa”, completou.
O crescimento das RJs desacelerou em 2025 na comparação com 2024, segundo os dados da companhia. No ano passado, o aumento nos pedidos foi de 138%, e, neste ano, ficou em 40%.
Mas o ritmo de surgimento de novos ativos sob estresse ainda é forte, graças à Selic alta e ao nível de alavancagem de alguns produtores. Por isso, essa deve ser a via de crescimento do portifólio imobiliário, na avaliação da liderança da empresa.
Empresa recusou quase 400 fazendas
A ausência de aquisições em 2025 não foi por falta de ofertas: a BrasilAgro relatou ter analisado 369 oportunidades de negócios.
“Temos tido agendas recorrentes com a maioria dos bancos trazendo oportunidades de negócios para nós, algo que não acontecia no passado”, pontuou Ana Paula Zerbinati, gerente executiva de Relações com Investidores e Mercado de Capitais da BrasilAgro.
“Literalmente, a cada 15 dias um banco diferente aparece com um book de fazendas de clientes sob estresse para a gente avaliar”, disse.
Do total de ofertas apresentadas no ano-safra 2024/25, 337 foram declinadas com base nos critérios de avaliação da BrasilAgro.
Por exemplo, topografia, solo e chuva, com 42% das negativas; preço descasado (31%); tamanho, com propriedades muito pequenas ou grandes fora de contexto (18%); vegetação, evitando biomas desmatados, principalmente o amazônico (3%); e disponibilidade (4%).
A maioria se concentrou no Centro-Oeste e no Matopiba, a zona de confluência abrangendo partes de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O estado com mais ofertas declinadas pela BrasilAgro foi o Mato Grosso, com 116 propostas recusadas. Em seguida apareceram estados como Bahia (57 ofertas declinadas), Tocantins (41), Maranhão (32), Piauí (24) e Mato Grosso do Sul (22).
As cerca de 30 propostas que ainda não foram eliminadas com base nos critérios de avaliação continuam sobre a mesa, diz Guillaumon. “Não quer dizer que estejamos parados esperando a galinha morta chegar depenada. Pelo contrário, estamos atuando ativamente para os melhores negócios.”
“É como uma boutique de M&A, uma hora a gente acerta, ainda que no último ano não tenha saído nenhum negócio”, complementou Zerbinati.
R$ 2,8 bi em vendas
A BrasilAgro divulgou ainda que o total arrecadado em desinvestimentos chegou a R$ 2,8 bilhões em 2024/25. O saldo inclui duas vendas, as das fazendas Preferência e Alto Taquari — esta, anunciada em 2022, só teve os recursos contabilizados neste ano, quando ocorreu a transferência da posse.
O total gasto em aquisições e capex chegou a R$ 1,7 bilhão, e o portfólio é hoje avaliado em R$ 3,1 bilhões.
Guillaumon celebrou os números e lembrou que “o cheque inicial deste negócio foi de R$ 580 milhões”, salientando o ganho histórico nas operações.
A BrasilAgro informou ainda que vai voltar às raízes, de certa forma, priorizando as atividades de aquisição, desenvolvimento e venda de propriedades rurais em detrimento das receitas com as operações de trading da produção de suas fazendas — notadamente grãos, algodão, cana e pecuária, além de ativos florestais.
“A gente gostaria de recorrentemente vender 10% do nosso portfólio ao ano. Essa é a meta do conselho. Tem ano que vai vender 6%, e tem ano que vai vender 14%. Na média, a ideia é girar R$ 300 milhões ao ano.”
A frente imobiliária continua sendo a “cereja do bolo”, mas é preciso sangue frio para esperar o retorno das condições ideais, disse Zerbinati.
“Nesse cenário, temos que ter confiança e disciplina na nossa tese: comprar na hora que todo mundo quer vender, e vender na hora que todo mundo quer comprar.”
Ela ponderou ainda que independentemente dos ciclos, a BrasilAgro nunca deixou de pagar dividendos e entregar resultados recorrentes.