
Os preços da soja para a próxima safra podem sofrer uma forte compressão graças a um fator incerto, mas iminente: o acordo entre Estados Unidos e China. “Não é mais uma questão de ‘se’ mas de ‘quando’. O que eles têm a oferecer aos chineses? Produtos agrícolas, como foi no Trump 1”, diz o consultor Carlos Cogo.
Caso isso realmente se confirme, Cogo aponta que a cadeia da soja deve ter uma reversão do cenário atual — atípico — de prêmios nos portos brasileiros. Hoje, a soja brasileira tem um prêmio de US$ 2 no porto, o que faz com que os preços, somados à cotação atual, fiquem em US$ 12,50 por tonelada.
Os prêmios estão elevados desde o início do governo Trump, refletindo o volume maior de compra de soja brasileira por parte da China, num movimento que tem mantido os prêmios presentes e futuros elevados.
Para referência, tipicamente, nessa época do ano o prêmio é positivo em cerca de US$ 0,80, chegando até a US$ 1, segundo dados históricos apresentados pelo especialista durante palestra nesta terça-feira durante o Congresso Andav. Na colheita, o prêmio normalmente fica negativo ao redor de US$ 1,50, chegando até a US$ 2.
Por enquanto, os prêmios para o primeiro semestre do ano que vem estão positivos, ainda refletindo esse compasso de espera do mercado em relação às compras da China em relação aos Estados Unidos.
Com um acordo, afirma Cogo, a situação tem tudo para mudar. E, em meio aos preços ainda mais acomodados da soja, pode ter efeitos bastante sensíveis para o produtor brasileiro.
“Se a gente voltar para os patamares anteriores, são US$ 2 para baixo lá em maio do ano que vem, por exemplo. Isso significa que o preço da soja brasileira pode ir para um patamar de US$ 10,50 ou até US$ 10. É sair do lucro para o prejuízo, simples assim”, afirmou Cogo ao The AgriBiz.
Em cálculos feitos em parceria com a Farm Talk de Illinois, e com consultorias parceiras da Argentina e Paraguai, os preços para o próximo ano, de US$ 10,47 por bushel, deixam o produtor brasileiro bastante próximo do breakeven — de US$ 9,07 por bushel, considerando o Cerrado, e de US$ 8,66 no sul do Brasil.
Em reais, hoje, a soja do Mato Grosso para a próxima safra está precificada em torno de R$ 110 a R$ 120. Caso o acordo saia, com os prêmios voltando aos patamares normais, o preço vai para perto de R$ 90.
Nos patamares atuais de preço, o produtor no Cerrado tem uma margem de 1,3% considerando o custo total de produção da soja. Caso as perspectivas atuais sejam mantidas, esse percentual deve subir para 2,4% no próximo ano — mas, de novo, pode ficar ameaçado com a confirmação do acordo.