Safra 2024/25

A exuberante safrinha de milho. Veeries crava recorde de 115,8 milhões de toneladas

Produtor investiu em sementes de alta tecnologia e adubação, levando a safra a atingir o seu "potencial máximo"; preços do grão já começaram a cair

Colheita de milho | Crédito: Schutterstock

A safrinha de milho precisa, definitivamente, de um rebranding. Superando as expectativas mais otimistas, a produção do cereal na segunda safra deve atingir 115,8 milhões de toneladas, um novo recorde, segundo estimativa da Veeries que acaba de ser divulgada. O crescimento será de impressionantes 17,6% em relação à temporada anterior.

Para se ter uma ideia da dimensão desse número, a Conab estimou, na semana passada, a colheita da safrinha em 99,8 milhões de toneladas. E o viés é de alta, segundo Marcos Rubin, CEO da Veeries.

Dependendo do peso dos grãos, o que será possível de averiguar durante a colheita, que começa no final de maio nas regiões mais precoces, a safrinha pode ser ainda maior, ao redor de 118 milhões de toneladas. Para a safra total, a projeção da Veeries é de 142,4 milhões de toneladas, também um recorde.

Uma conjunção de fatores criou uma “situação perfeita” para um aumento de 10% na produtividade da safrinha, explica Rubin. Para começar, o produtor investiu mais em tecnologia. Com a queda no preço das sementes em 2024, os agricultores aumentaram a parcela da área plantada com híbridos de alto potencial produtivo.

Em outras palavras, a decisão de manter as compras de insumos “da mão para a boca” teve um bom resultado. “Como a estratégia de retardar ao máximo a compra da semente no ano passado foi bem-sucedida, o produtor foi esperando e, aos poucos, foi ganhando descontos graduais. As empresas foram reduzindo os preços, e os híbridos de alta tecnologia ficaram mais atraentes”, disse Rubin ao The AgriBiz.

A relação de troca entre os preços do milho e dos fertilizantes também foi bastante positiva para o produtor, especialmente no caso dos fosfatados, que contribuem positivamente para o enchimento de grãos, observou a Veeries.

Por fim, a ajuda de São Pedro. As chuvas se prolongaram até o início de maio em importantes regiões produtoras, permitindo que as lavouras expressassem seu potencial máximo.

“O resultado está se consolidando numa safra espetacular”, resumiu Rubin. “Estamos muito seguros de uma safrinha muito boa”, reforçou, destacando que as estimativas foram realizadas após uma série de roteiros de crop tour, entre 29 de abril e 16 de maio, pela equipe técnica da Veeries nos principais estados produtores.

Para chegar ao número de produção, a Veeries também considerou um crescimento de 7% na área plantada. Com o atraso na safra de soja e, como consequência, no plantio do milho safrinha, parte do mercado esperava que o produtor colocasse o pé no freio diante do maior risco climático — o que não se confirmou.

“Os ruídos de mercado apontavam para uma safrinha de baixo investimento, sem expansão de área. Mas capturamos desde cedo uma intenção de um aumento de área bem robusto”, disse o CEO.

Mato Grosso desbanca Argentina

Em Mato Grosso, principal estado produtor do País, os agricultores devem colher 58 milhões de toneladas de milho. Se o peso dos grãos surpreender positivamente, há potencial para chegar a 60 milhões de toneladas. “Só o Mato Grosso vai superar a safra de toda a Argentina”, observa Rubin. O país vizinho deve colher aproximadamente 50 milhões de toneladas.

O número impressiona e gera preocupações quanto à infraestrutura, tanto de transporte como de armazenagem. “O Mato Grosso vai desafiar tudo o que já vimos sobre logística desde que existe agricultura”.

Enquanto o Brasil ainda escoa a safra recorde de soja, de aproximadamente 172 milhões de toneladas, os produtores vão começar a colher outros volumes recordes de milho. Sem capacidade de armazenagem suficiente para guardar os grãos — e dificuldades para aquisição de silos bolsa —, o preço dos fretes deve voltar a subir e o valor do milho, a cair.

“A logística de armazenagem vai ser estressada ao máximo em julho e agosto. Este vai ser um ano de fotos de pilhas de milho armazenadas a céu aberto”, afirmou Rubin.

A queda já começou

Os preços do milho já começaram a cair nas últimas semanas, à medida que o tamanho da safrinha foi ficando mais claro. Em 30 dias, o preço do milho recuou 12% na B3. Em Mato Grosso, o preço do milho disponível desabou 27% em pouco mais de 30 dias — exatamente desde 14 de abril, quando atingiu a máxima do ano aos R$ 74 a saca, segundo dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).

O diferencial de base entre os preços na origem e no mercado internacional também já começou a recuar, o que pode abrir espaço para um crescimento das exportações no segundo semestre. Durante boa parte do primeiro semestre, o preço do milho em Mato Grosso ficou acima dos valores praticados na Bolsa de Chicago, diminuindo a atratividade do milho brasileiro para os importadores.

“Com esse volume todo, vamos ter excedentes maiores de exportação. O que precisa acontecer para a o Brasil performar esses embarques é o preço voltar para a paridade de exportação”, ressaltou Rubin, lembrando que a taxa de câmbio também tem um peso importante nessa relação. “Tem vários ângulos em que a conta precisa fechar.”