Vox Capital levanta US$ 50 milhões para transição da agricultura, o que inclui projetos de integração lavoura-pecuária-floresta | Crédito: CNA

Depois de dois anos quebrando a cabeça, a Vox Capital conseguiu colocar de pé um fundo de investimento que nasce com potencial para alavancar US$ 1 bilhão para financiar a transição para uma agropecuária de baixo carbono no Brasil.

A gestora de impacto fez o primeiro closing do veículo, captando US$ 50 milhões com o governo da Noruega e fundações filantrópicas para dar início ao fundo. Ao todo, o objetivo é levantar US$ 200 milhões, num esforço de captação que deve se estender por mais um ano.

Com os primeiros US$ 50 milhões captados, a gestora prevê realizar os primeiros investimentos até o início de 2026, contou Daniel Brandão, diretor de soluções baseadas na natureza da Vox Capital, ao The AgriBiz.

O novo fundo vai investir em três teses: a expansão do cultivo de soja em áreas degradadas no Cerrado; a intensificação da pecuária, com projetos de integração lavoura-pecuária-floresta nos biomas do Cerrado e Amazônica; e agroflorestas de cacau.

“Se eu intensifico a área, crio capacidade produtiva, evitando a expansão da produção sobre áreas de florestas. Ao mesmo tempo, garanto o crescimento da produção agrícola alinhado à agenda da segurança alimentar”, disse Brandão.

Para estarem aptos a receber os recursos do novo fundo da Vox Capital, os projetos precisam se comprometer com desmatamento zero, além da adoção de práticas agronômicas mais saudáveis para o meio-ambiente (plantio direto, uso de biológicos, entre outros).

Quem estrutura?

Desta vez, a Vox vai atuar exclusivamente como gestora, deixando a estruturação dos projetos a cargo de terceiros, uma diferença em relação aos projetos anteriores que não avançaram — o CRA da Rio Capim e um Fiagro para recuperação de pastagens degradadas.

Tipicamente, a gestora será a investidora subordinada de operações do mercado de capitais trazidas de bancos e outros estruturadores. Com isso, a Vox mitiga os riscos para incentivar a entrada dos demais investidores.

“Ao diminuir o risco, o que eu espero? Dar espaço para o capital comercial povoar esse instrumento com risco atenuado. Isso é muito importante. Minha tese é alavancar recursos para essa agenda”, explicou Brandão.

Considerando uma subordinação média de 20%, o fundo da Vox seria capaz de alavancar US$ 1 bilhão — essa estimativa leva em conta que o veículo vai concluir a captação total almejada, atingindo os US$ 200 milhões.

Além do mecanismo de mitigação de risco, o fundo nasce com um prazo de 12 anos, capaz de abarcar o período necessário para viabilizar projetos de longo prazo.

“Estamos entrando com melhores preços e capital paciente, que é o que precisa para fazer a conversão de áreas degradadas”, citou.

Brandão não abriu as taxas de remuneração do novo fundo da Vox, mas disse que o veículo foi estruturado em duas cotas, sendo que uma delas vai devolver apenas o principal corrigido.

Entre os investidores do fundo, estão dois âncoras: Fundação Moore e NICFI, uma iniciativa do governo da Noruega para proteger as florestas tropicais; e entidades filantrópicas como Margaret A. Cargill Philanthropies, Instituto Arapyaú e a Porticus (organização filantrópica fundada pela família holandesa que controla a C&A).