Ecos da Selic

O Plano Safra está caro? Especialista destrincha o custo por hectare

Cálculos de Luiz Cláudio Caffagni, professor da pós-graduação da FGV, mostram o efeito do crédito mais caro sobre o custeio da lavoura de soja e milho

Recuperação de crédito Plano Safra

Que o Plano Safra ficaria mais caro, ninguém tinha dúvidas. A situação fiscal do País e a Selic já falavam por si. Mas, afinal, o que isso significa na ponta do lápis? Qual é o custo dos juros por hectare?

Luiz Cláudio Caffagni, professor da pós-graduação da FGV e um dos maiores especialistas na dinâmica do crédito rural, fez as contas. A depender da cultura agrícola, o agricultor brasileiro pode gastar um montante semelhante ao necessário para comprar alguns dos principais insumos.

Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do País, o produtor de milho pode desembolsar R$ 878,80 por hectare com juros (um acréscimo de 13% na comparação anual) — um montante que considera a linha de crédito de custeio a 14% ao ano. Nessa conta, Caffagni incluiu um custo adicional de 3%, embutindo ainda as despesas que costumam vir acompanhadas na tomada do financiamento.

Quando consideradas as linhas direcionadas, de destinação obrigatória para a agropecuária, mas juros livres, a conta fica ainda mais salgada. A partir da média das taxas de juros divulgadas pelo Banco Central — 17,4% ao ano — nesse tipo de linha de crédito, Caffagni chegou a um gasto de R$ 1.054,5 por hectare em juros no cultivo de milho em Mato Grosso.

Para se ter ideia do que isso representa, o especialista comparou os dados à tradicional planilha de custos de produção do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). Atualmente, a conta dos fertilizantes está em R$ 1.324,6 por hectare no caso do milho, enquanto os defensivos custam R$ 720,74 por hectare e as sementes, R$ 751 por hectare.

Na soja, as contas também são salgadas. Pelos cálculos de Caffagni, o produtor de soja de Mato Grosso vai pagar R$ 1.048 por hectare para financiar o custeio, considerando a linha do Plano Safra a 14% ao ano. No crédito direcionado a juros livres, a despesa financeira seria de R$ 1.258 por hectare.

“No agro, a taxa de juros é um mal silencioso. Quando sobe o preço do fertilizante, o produtor consegue saber, na relação de troca, se está caro ou barato. Com os juros, também tem como fazer a conta, é claro, mas não é tão visível quanto o aumento dos insumos”, comparou Caffagni, durante uma apresentação virtual realizada pelo Agrolink.