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O fundo da Folio e Traive para financiar os bioinsumos — que já atraiu a IFC

FDIC vai financiar empresas de diferentes portes, com cheques a partir de R$ 10 milhões; ambição é fazer os primeiros desembolsos em setembro

Crédito: Silvia Zamboni

O mercado de bioinsumos pode crescer 13% ao ano daqui até 2028 — falta regulamentar. Mas não só. Falta, também, dinheiro para que as empresas possam percorrer esse caminho. É nesse ponto (o crédito) que uma parceria entre o Instituto Folio e a Traive vão atuar neste ano, por meio de um fundo de investimento dedicado ao setor. 

A parceria entre o instituto criado por Luís Barbieri (um dos fundadores da Raiar) e a fintech fundada por Fabrício e Aline Pezente foi anunciada há pouco mais de um ano, mas ganhou contornos mais claros em um evento realizado na última quinta-feira em São Paulo. Por lá, estiveram produtores, pesquisadores e outros financiadores do setor, como a SP Ventures.

“Estou com um sentimento de festa de Natal, sabe? Em que você encontra a família inteira. Encontrar o Sérgio Pimenta [da 360 Consult], o Paulo Buffon [produtor], o pessoal da Labor Solo, do Instituto Biológico… É uma alegria muito grande estar aqui”, brincou Barbieri, no habitual tom descontraído.

Na apresentação, ele e Mauricio Quintella, diretor de negócios da Traive, explicaram que o novo fundo será um FDIC que vai investir em CRAs de oito a 12 empresas do setor de bioinsumos, incluindo insumos biológicos, fertilizantes especiais e sementes de planta de cobertura. 

Os CRAs serão estruturados pela Traive e poderão atender tanto a parte de venda direta para o produtor quanto os compromissos de venda com a cadeia de distribuição. As operações podem ter um prazo máximo de cinco anos — a duração do fundo em si — mas tudo vai depender do porte e do tamanho dos cheques.

 “Nós quisemos montar programas separados para cada empresa, por isso a estruturação de CRAs para cada uma delas, que vão variar conforme o tamanho do cheque, que vai de R$ 10 milhões a R$ 50 milhões”, explicou Quintella. 

O custo dos empréstimos ainda não foi divulgado — mas pelo mix entre capital catalítico e investimentos de mercado, o produto final deve ter um arranjo mais competitivo do que as taxas de mercado. 

O fundo será dividido em três cotas. A sênior deve levantar US$ 35 milhões, a mezanino, US$ 10 milhões e a subordinada, US$ 5 milhões. A intenção é ter na cota sênior os investidores comerciais, na mezanino, os investidores de impacto e, na subordinada, outras instituições de capital catalítico e doadores filantrópicos. 

Por enquanto, o veículo tem uma carta de intenção assinada com a IFC (International Finance Corporation), agência do Banco Mundial que foca em investimentos no setor privado em países em desenvolvimento. O próximo passo, agora, é uma due diligence do fundo.

“Nós queremos apoiar a agricultura regenerativa. Essa é uma das estratégias que nós temos como instituição no mundo inteiro. Agora, vamos começar um processo de análise mais profunda do fundo, definindo pontos estratégicos como o próprio regulamento do veículo”, explicou Miriam Abe, oficial de investimentos da IFC. 

Com a confirmação do investimento por parte da IFC, Folio e Traive esperam que uma porta se abra para destravar os demais investimentos, principalmente aqueles atrelados a investidores comerciais. O fundo tem como meta fazer os primeiros desembolsos a partir de setembro deste ano. 

A visão do setor — e da Folio

Trazer mais uma alternativa de financiamento para o setor foi um ponto visto com bons olhos por parte dos diferentes elos dessa cadeia presentes no evento. 

“É muito importante esse tipo de iniciativa, porque há muita coisa boa na academia que não consegue ser executada no setor privado por falta de capital para investimento. Se nós pudermos participar disso, será muito bom também”, afirmou Rose Monnerat, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Solubio. 

Do lado da academia, Ana Eugênia de Carvalho Campos, diretora-geral do Instituto Biológico, também ressaltou a importância do investimento. Hoje, o instituto fornece matéria-prima para as empresas que produzem compostos a partir da Beauveria Bassiana e de Metarhizium anisopliae (ambos são fungos que agem como parasitas em insetos, eficazes no controle biológico de pragas). 

“É o papel do pesquisador buscar essas soluções. A gente precisa do investimento para pesquisa, mas também das empresas que têm interesse em acelerar todo esse conhecimento. A gente precisa dessa parceria”, ressaltou Campos, mencionando brevemente a perspectiva de estruturar um CCD (centro de ciência para o desenvolvimento) com o Instituto Folio e Fapesp.

Eduardo Martins, presidente do GAAS (Grupo Associado de Agricultura Sustentável) completou com os avanços regulatórios recentes capazes de fomentar o setor. 

“O bioinsumo é a principal alternativa que esse país tem para inovar e suportar uma mudança no agricultor. É algo que o Brasil conquistou e avançou muito com uma lei específica de bioinsumos, que inovou nas possibilidades de modelos de negócio. Será muito interessante o fundo fazer uma escolha de empresas com diferentes modelos, mitigando riscos e avançando no setor”, destacou.