
Goiás ganhou um FIDC para chamar de seu. Depois de iniciativas estatais capitaneadas por São Paulo e Paraná, o Estado comandado por Ronaldo Caiado montou uma estrutura que usa a liberação de créditos de ICMS como incentivo para atrair investimentos a um custo de capital abaixo da Selic.
Na prática, serão vários FIDCs ligados à iniciativa. Os diferentes fundos serão para investir em frentes que o governo quer fomentar, incluindo a ampliação das agroindústrias. Bioenergia, mineração (especialmente os investimentos em verticalização, beneficiando o minério) e infraestrutura elétrica também fazem parte das áreas prioritárias.
A base dessa estratégia é disponibilizar os créditos retidos às empresas exportadoras que tenham esses montantes acumulados no Estado. Esse repasse será feito por uma espécie de carta de crédito que será concedida às companhias que tiverem projetos aprovados para formarem seus próprios FIDCs.
Essa carta de crédito poderá ser vendida para empresas que tenham débitos de ICMS a serem abatidos — com os recursos provenientes dessa venda sendo alocados obrigatoriamente no FIDC que financiará o investimento, na cota subordinada do fundo.
“Esse dinheiro será remunerado a inflação, por exemplo”, diz Erik Figueiredo, diretor executivo do Instituto Mauro Borges, um dos idealizadores da iniciativa.
Atualmente, Goiás tem R$ 314 milhões em créditos de ICMS a serem liberados. “Na ordem, você tem empresas de proteína animal, carnes e aves, depois ferro e ligas, depois etanol e açúcar. São esses setores os maiores detentores de créditos”, explica Sérvulo Nogueira, secretário da Fazenda de Goiás.
Junto com esses recursos, serão aportados recursos de mercado. Podem ser desde recursos da própria empresa — que seriam usados para capex, por exemplo — até dinheiro de mercado de capitais, captado junto a investidores ou proveniente de outros fundos. Esse dinheiro irá para a cota sênior do fundo, com um mínimo de 50% de subordinação.
Segundo Figueiredo, a expectativa é captar o mesmo montante que existe hoje em créditos de ICMS junto a esses públicos, o que significa mais R$ 300 milhões, chegando a cerca de R$ 600 milhões em investimentos. O recurso privado alocado no fundo será remunerado a juros de mercado — que vão variar, dependendo de cada tomador.
No mix entre os recursos, a cobrança de juros para esses FIDCs será de 10% ao ano, estimou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, durante uma cerimônia na sede de B3. “Esse é o parâmetro que nós queremos usar, limitar em 10% esse repasse a vocês, para que seja possível fazer todos esses investimentos em Goiás”, disse.
O interesse nesse tipo de iniciativa, ao menos à primeira vista, é alto. Na cerimônia, estiveram presentes nomes como Zé do Garrote, fundador da goiana São Salvador Alimentos, Rodrigo Siqueira, CFO da também goiana Jalles Machado, além de Tchequinho, presidente-executivo da Adial (Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás).
Os interessados já estão se articulando. The AgriBiz apurou que há fundos em estruturação. A expectativa é a primeira leva deles sejam oficializados dentro de 60 a 90 dias.
Por não envolver dinheiro do Tesouro, o governo não vai selecionar as gestoras que vão compor os fundos — essa tarefa cabe a cada empresa tomadora de recursos.
Nessa corrida, a XP está bem posicionada. Não por acaso, o diretor institucional Rafael Furlanetti e o gestor de agro Gustavo Almeida marcaram presença no evento realizado na B3.
A XP, aliás, foi mencionada nominalmente pelo presidente da FIEG (Federação das Indústrias do Estado de Goiás), André Rocha, como uma das responsáveis idealizar um modelo capaz de atrair mercado de capitais.
Além da XP, Rocha citou o trabalho de Octaciano Neto, fundador da Zera.Ag e um dos arquitetos do Fiagro do governo do Paraná.