Biomassa

Enebra levanta R$ 100 milhões para fazer a usina de etanol da 3tentos rodar

Fornecedora de cavacos de madeira para indústrias de etanol de milho acaba de emitir um CRA para fortalecer o capital de giro

Os cavacos de madeira que abastecerão as caldeiras da usina de etanol de milho que a 3tentos está construindo em Porto Alegre do Norte, na porção nordeste de Mato Grosso, já contam com um fornecedor — capitalizado.

A Enebra, uma companhia criada há cinco anos pelo empresário Guilherme Elias, acaba de levantar R$ 100 milhões em um CRA lastreado no contrato de fornecimento de madeira firmado com a companhia da família Dumoncel.

Os recursos fortalecem o capital de giro da Enebra, que precisará investir em um módulo processamento de madeira em uma região em que ainda não atuava. Até então, as operações estavam concentradas em Nova Mutum (MT), onde a companhia fornece cavaco à Inpasa, a líder em etanol de milho no País.

Tipicamente, um módulo de processamento de madeira inclui máquinas como picador, escavadeira, pás-carregadeiras, além da operação logística. A Enebra trabalha com uma frota própria de caminhões.

A estrutura do CRA

Ao levantar recursos, a Enebra também alonga o perfil de vencimentos dos passivos. O novo CRA terá vencimento em cinco anos, remunerando os investidores a CDI + 4% ao ano.

Assim, a companhia ganha tempo para performar os contratos e reduzir o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), que estava em 2,8 vezes. O contrato prevê um covenant de 3,5 vezes.

Como garantias, a operação conta com o aval dos dois sócios da Enebra (Elias e Nedil Junior), além da cessão fiduciária dos contratos de take or pay firmados com a 3tentos e a Icofort, uma processadora de caroço de algodão que possui já fábricas na Bahia e, em breve, em Nova Mutum.

“É um perfil de risco muito interessante, com um offtaker gigante. A 3tentos desponta como uma das maiores vencedoras da crise que atingiu a agricultura nos últimos dois anos”, disse uma fonte que participou da operação.

Ao todo, 80% das garantias do contrato estão lastreadas no contrato de fornecimento com a 3tentos. O restante fica com a Icofort, uma companhia menos conhecida, mas que já fatura cerca de R$ 800 milhões.

Para levantar o CRA, a Enebra contou com um trabalho feito em parceria pela área de banco de investimentos da Galápagos e pala EQI, gestora e assessoria de investimentos que tem entre seus executivos na área de agronegócio Jonatas Couri — ex-Syngenta e Ecoagro.

“Existe um grupo considerável de agentes de fornecimento de biomassa no Centro-Oeste, só que poucos ainda preparados pra acessar mercado de capitais, algo que demanda gestão profissionalizada, balanços auditados”, ressaltou Couri.

A emissão foi distribuída a investidores profissionais (aqueles com mais de R$ 10 milhões em patrimônio aplicado). A Galapagos tomou parte da dívida, por meio do GCRA11 — o Fiagro listado da casa. Esse fundo, aliás, já estava exposto à Enebra desde o início do ano passado, quando investiu no primeiro CRA levantado pela companhia mato-grossense.

O potencial do eucalipto

Em entrevista ao The AgriBiz, o fundador da Enebra disse que atua para resolver um gargalo relevante para as indústrias de etanol de milho.

“O etanol de milho está em alta, todo mundo pensa nas usinas novas e lembra muito do milho. Só que o milho, apesar de ser o maior custo, nunca foi e nunca vai ser problema para essas usinas. Se você plantar, em 120 dias vai ter. Para ter floresta, você precisa de pelo menos sete anos”, ressalta Elias.

Não à toa, nem toda a madeira usada pelas usinas de etanol de milho como cavaco é oriunda do eucalipto.

Uma parte importante da oferta ainda é originada como subproduto da abertura de áreas (em localidades onde a supressão de vegetação é permitida). Mas esse volume que tende a ficar cada vez menor com as restrições ambientais, o que explica a urgência de cultivar eucalipto ou bambu.

Nesse cenário, a Enebra se estruturou para fornecer eucalipto, especialmente no médio e longo prazo. Para isso, a companhia quer se tornar referência no fornecimento de biomassa a partir de florestas plantadas, o que vai exigir um investimento substancial.

Nas contas do fundador da Enebra, Mato Grosso tem potencial para plantar cerca de 300 mil hectares de florestas, o que demandaria um investimento próximo a R$ 7,5 bilhões. O principal alvo são áreas arenosas, pouco aptas ao cultivo de grãos como soja e milho.

A Enebra não está sozinha nesse mercado. A FS, segunda maior indústria de etanol de milho, já havia percebido o gargalo dos cavacos de madeira e criou a FS Florestal, uma companhia que levantou R$ 600 milhões com um CRA em meados do ano passado e conta com mais de 50 mil hectares plantados (41 mil em eucalipto e 12,6 mil em bambu).

Diante do imenso potencial e da concorrência, o CRA de R$ 100 milhões é praticamente um rascunho das ambições da Enebra. Atualmente, a companhia possui 2 mil hectares arrendados — já com o plantio de eucalipto realizado — e vislumbra chegar a 30 mil nos próximos anos. “Estamos buscando mais contratos para assegurar o funding dessa expansão”, contou Elias.

Por enquanto, a Enebra tem um backlog de contratos estimado em R$ 4 bilhões, com um prazo médio que gira em torno de seis anos.