
Pensar em vencimento antecipado de um título de crédito é quase sempre pensar em problemas financeiros. “Afinal, que raios uma empresa fez para ter de liquidar os títulos antes do prazo original?” Nem sempre dá para se deixar levar por primeiras impressões. In a shocking turn of events, a Solubio passou por esse processo na semana passada — e está satisfeita com o resultado.
A liquidação antecipada de dois CRAs emitidos pela empresa entre 2021 e 2022 é a solução para um problema que já durava dez meses dentro da companhia comandada por Ernesto Cavasin. Essencialmente, um labirinto de burocracias— que remonta ao início do acesso da companhia ao mercado de capitais.
A Solubio, empresa de biológicos on-farm controlada pelo Aqua Capital, emitiu seu primeiro CRA em 2021, com uma emissão de R$ 100 milhões. No ano seguinte, ainda em meio ao ciclo de alta, fez outra, de R$ 150 milhões. Em 2023 o mercado virou e, em 2024, a companhia foi obrigada a renegociar dívidas com credores.
Nessa renegociação, o mercado de capitais foi incluído. Em agosto do ano passado, a Solubio propôs trocar esses dois papéis — que tinham vencimento em 2025 e 2027 — por um novo CRA, a ser emitido, que teria vencimento em 2029.
A proposta teve a adesão de 63% dos credores do CRA 1 e de 70% dos credores do CRA 2, numa troca que trouxe a mercado o CRA 3, com cerca de R$ 130 milhões. Entre os credores desse papel, estão fiagros de casas como JGP, Capitânia, XP e AZ Quest.
Feita a operação, a Solubio ficou com os CRAs antigos em tesouraria. A expectativa era cancelar os papéis dos CRAs 1 e 2, mas essa tarefa se provou bem mais árdua do que os planos iniciais sugeriam.
O cancelamento não era expressamente previsto na escritura dos papéis — o que tornava a tarefa possível, mas sob determinadas condições difíceis de serem atingidas.
Ficou determinado, por exemplo, que a Solubio precisaria do aval de 90% dos cotistas dessas emissões para fazer isso, sem poder votar (por estar conflitada no assunto).
“Como o nosso papel foi muito popular no mercado, uma série de investidores começou a comprar em custódia. Isso trouxe uma dificuldade de acessá-los. Tentamos diversas vezes, mas conseguíamos chegar até 80% no CRA 2, por exemplo”, explicou Cavasin, ao The AgriBiz.
A companhia estudou outras medidas, como quitar o CRA entregando o ativo subjacente (no caso, as debêntures) como forma de quitação da dívida. Até mesmo considerou vender os ativos a um terceiro, com desconto, para poder aprovar o assunto. Nada disso vingou — e lá se foram dez meses.
O grande motivo de a companhia se dedicar a resolver essa situação tinha a ver com a saúde de seu próprio caixa. Enquanto a situação não se resolvia, a Solubio pagava todos os eventos de amortização e de juros do fundo.
“Vamos dizer que eu pagava R$ 18 milhões do caixa em juros. Amanhã, a securitizadora confirmava o recebimento, depois de amanhã ela me mandava R$ 12 milhões de volta. Só que tem um problema, eu pagava os juros integral e o dinheiro voltava para mim com os descontos”, destacou Cavasin.
A alternativa, então, foi reunir os crazistas depois de todo esse tempo e pedir a liquidação antecipada dos títulos — que foi aprovada na última sexta-feira. Nesse processo, a empresa vai desembolsar R$ 70 milhões.
Na prática, a Solubio recolhe da B3 os papéis dos clientes, liquidando 100% dos terceiros pagando o preço do ativo e juros, sem nenhum deságio, destacou Cavasin. A partir daí, sendo o único detentor dos papéis, a empresa pode anulá-los.
Como o vencimento antecipado de uma dívida acarretaria o cross-default de outras dívidas, os credores também tiveram de votar nesta semana o não vencimento antecipado do CRA 3. Além disso, a empresa também negociou uma dívida com um banco, também de olho em evitar um vencimento antecipado.
Mais dinheiro em caixa
O vencimento antecipado dessa dívida traz outro efeito benéfico aos credores: parte dos contratos retidos nessas emissões canceladas vai reforçar as garantias do CRA 3, chegando a 150% do valor da dívida.
Do lado da Solubio, a vantagem, além de parar de pagar juros, está no acesso ao fundo de reserva das emissões, o que vai injetar quase R$ 15 milhões no caixa da empresa, às vésperas do período mais importante de geração de receita no ano.
Cerca de 70% da receita da empresa de bioinsumos é gerada de julho a dezembro. Cavasin vislumbra um horizonte promissor para a companhia.
“As expectativas iniciais eram gerar um Ebitda de R$ 32 milhões para o ano, mas agora estamos pensando em algo próximo a R$ 40 milhões a até R$ 45 milhões”, explicou o CEO, reforçando que a empresa teve o melhor primeiro semestre de sua história. No ano, a dívida líquida deve ser de R$ 200 milhões.
Mesmo com uma alavancagem na casa de 4 vezes o Ebitda, a Solubio quer voltar a acessar o mercado com a emissão de dívida de R$ 40 milhões para reforçar capital de giro. O martelo ainda não foi batido sobre o formato da operação.
“Não vamos pegar tudo em um lugar só. Estamos estudando com muita tranquilidade, até porque a taxa de juros está muito alta. Podemos ter captação usando processos de FDIC, renovações de linhas de crédito etc.”, ressaltou Cavasin.
No final do ano passado, a companhia teve uma injeção de capital de R$ 100 milhões, já considerando nesse cálculo um mútuo conversível de R$ 59 milhões. Dessa forma, acessar os controladores novamente atrás de dinheiro não está nos planos de curto prazo.
De olho no futuro, a Solubio contratou uma nova CFO e segue investindo em pesquisa e desenvolvimento.
Nesse sentido, Cavasin vê como chamariz para a empresa o lançamento de uma nova tecnologia a entrar no mercado em 2026, capaz de trazer estabilidade de até 120 dias para o manejo completo de bactérias usando biofábricas. Hoje, a estabilidade dessas bactérias é de cerca de 15 a 30 dias.