Apesar da Selic

Bradesco espera aumento de 10% a 15% na carteira agro em 2025

Instituição aumentou sua base de clientes após a compra de 50% do banco John Deere; escalada da taxa de juros impede novo ciclo de investimentos, diz Roberto França

RIBEIRÃO PRETO (SP) – A escalada da Selic, que tem esmorecido os ânimos do produtor rural e colocado as instituições financeiras em ritmo de cautela, não foi suficiente para desanimar o Bradesco. O banco, maior financiador privado do agronegócio, projeta aumento de 10% a 15% na carteira de crédito do setor em 2025. 

Hoje, essa carteira é de R$ 130 bilhões, considerando todas as linhas voltadas para os clientes do agronegócio (não somente as operações diretas para o produtor). Do total, os recursos subsidiados à agricultura familiar (Pronaf) e ao médio produtor (Pronamp) somam R$ 5 bilhões. 

“O estoque de negócios deve ficar maior, nós vamos financiar mais clientes do que financiamos hoje. Crescemos porque aumentamos a nossa base de clientes, de olho em todos os segmentos do agronegócio, seja na pessoa física ou na jurídica”, afirmou Roberto França, diretor de Agronegócios do Bradesco, ao The AgriBiz durante a Agrishow, feira de máquinas que termina hoje em Ribeirão Preto (SP).

Em agosto, o Bradesco aumentou a sua base de originação ao comprar 50% do banco John Deere, que tinha uma carteira de crédito de aproximadamente R$ 17 bilhões antes da união com a instituição financeira, sendo R$ 10 bilhões em crédito para pessoa física.

Apesar de esperar crescimento este ano — e de frisar que a rentabilidade do produtor é positiva—, França reconhece que o setor está longe de um novo ciclo de investimento.

“Com taxas para financiamento com recursos livres entre 18% e 20% ao ano, não se cria um ciclo de investimentos novo. Mas a gente vai ter que acomodar”, disse o executivo, lembrando que o crédito com taxas subsidiadas, do Plano Safra, atende a cerca de 30% da demanda do produtor.

Com os recursos da União cada vez mais limitados, o crédito com recursos livres vem aumentando a participação no financiamento ao setor — tendência deve ser reforçada este ano. “Não é a melhor taxa de juros, mas também não impede a atividade agropecuária.”

A principal ferramenta para essa expansão continua sendo a CPR (Cédula do Produtor Rural), tanto para custeio como para investimento. Em geral, os prazos nesse tipo de operação variam de um ano a cinco anos. 

Inadimplência

O momento de expansão não significa, entretanto, que o Bradesco tenha passado imune pelos efeitos do aumento das taxas de juros. No último ano, a inadimplência na carteira do agronegócio ficou acima da média histórica, e a instituição financeira vem, aos poucos, trazendo a taxa de volta à normalidade.

Hoje, 1,2% da carteira total de crédito apresenta atrasos superiores a 90 dias. A taxa, explica França, já incorpora as mudanças da nova norma de provisionamento dos bancos (resolução 4966 do Conselho Monetário Nacional). No último ano, os atrasos da carteira de agronegócio do Bradesco chegaram a um pico próximo a 2%. 

Na trajetória de retomada aos patamares históricos, o Bradesco, assim como os demais bancos, tem alongado prazos de créditos já concedidos. “Muitas vezes, o produtor quer alongar uma taxa subsidiada, algo que não é possível de ser feito por uma instituição financeira tradicional”, frisa França. 

Em relação às recuperações judiciais, o executivo acredita que o uso desse instrumento ainda não foi esgotado, mas aposta em uma conscientização maior neste ano. “Nós vimos situações que não precisavam disso ou que foram vítimas de oportunismo, uma indústria tentando vender que esta é a melhor solução”, explica.