FIDC

ACP Bioenergia levanta R$ 150 milhões com o governo de SP e BTG

FIDC exclusivo para ACP Bioenergia terá metade dos recursos vindos da Desenvolve SP e a outra metade, da BTG Asset; taxas de juros não foram divulgadas

ACP canavial

No meio do pacotão de R$ 600 milhões em investimentos anunciados pelo governo de São Paulo na semana passada, constava a criação de um fundo de R$ 120 milhões a R$ 150 milhões para o setor de biocombustíveis. Um breve comunicado informava que a ACP Bioenergia seria uma das tomadoras dos recursos e, a gestora do dinheiro, a BTG Pactual Asset. Quase uma semana depois, a operação começa a ficar mais clara.

Trata-se de um FIDC exclusivo para a ACP Bioenergia, que fechou sua captação em R$ 150 milhões. Metade dos recursos virá da Desenvolve SP — a agência de fomento do estado de São Paulo — e, a outra metade, da própria BTG Asset. Uma típica operação de blended finance, jargão usado para transações que levantam recursos públicos e privados, no intuito de chegar a taxas mais atrativas aos tomadores.

O veículo terá um prazo total de quatro anos, sendo um de carência, e é uma estrutura independente do FIDC de R$ 500 milhões anunciado pelo governo há pouco mais de um ano. As taxas de juros da operação não foram divulgadas. 

“Essa é uma informação super sensível, mas são juros abaixo dos de mercado, numa taxa competitiva com nível atrativo”, disse Caio Marchini, diretor financeiro da ACP Bioenergia, ao The AgriBiz.

O fundo vai comprar um título de crédito da empresa — no caso, uma nota comercial — lastreada em direitos creditórios que a ACP tem a receber a partir da venda de produtos agrícolas.

Hoje, 85% da receita da empresa vem de contratos de longo prazo de fornecimento de cana-de-açúcar e o restante da produção de grãos, principalmente soja e milho.

Ao longo do tempo, o fundo pode ficar maior do que os atuais R$ 150 milhões. “Nada nos impede de novos aportes por parte da Desenvolve SP e do BTG. É inclusive um desejo da companhia que esse fundo consiga trazer conforto para todos os credores e possa crescer lá na frente com novos aportes”, explicou Marchini.

O uso dos recursos

São Paulo tem uma participação relevante nos resultados da ACP. Das seis milhões de toneladas de cana a serem comercializadas pela empresa em 2025, uma tonelada será produzida no estado. 

“É o nosso polo produtivo mais maduro. Com os recursos, nós conseguimos trazer mais desenvolvimento social, além de fomentar uma agricultura mais responsável e sustentável”, disse Marchini. Nesse caminho rumo à sustentabilidade, a ACP captou, no fim do ano passado, R$ 100 milhões com Rabobank e Agri3. 

O dinheiro tomado junto à Desenvolve SP e à BTG Asset será usado, primeiro, para irrigação, dando fôlego a um projeto iniciado em 2022 e que vem ganhando forma ao longo dos últimos três anos. 

Além desses aportes, o dinheiro também será usado em ativos biológicos, com formação de lavoura e renovação do canavial. Para o estado de São Paulo, o volume de recursos é suficiente para atender à demanda da companhia nos próximos anos. 

A ACP espera que o modelo criado pelo governo paulista possa se estender para outros estados em que a companhia atua.  Hoje, a empresa também opera em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins.

“Para nós, essa é mais uma avenida de construção de funding e de uma nova parceria com outras agências de fomento no País”, completou Marchini.

O balanço da ACP

A ACP fechou 2024 com uma dívida líquida de R$ 1 bilhão, sendo R$ 400 milhões em CRAs distribuídos ao mercado. As operações junto ao mercado de capitais começaram há cinco anos, com o BTG sendo inclusive responsável por estruturar a última emissão que foi a mercado — o banco foi quem apresentou a operação da Desenvolve SP para a ACP.

No último ano, o Ebitda da empresa foi de R$ 512 milhões — com a expectativa de chegar a R$ 811 milhões neste ano. “Nós fizemos investimentos em formação de lavoura bem relevantes. Vamos ter os resultados de aportes feitos há 18 meses na formação da lavoura de cana”, afirmou Marchini.