
RIBEIRÃO PRETO (SP) — Num momento em que a disparada da Selic inibe o crescimento do crédito rural, estrangulando as possibilidades do próximo Plano Safra, as cooperativas de crédito querem navegar contra a maré, mostrando que podem ir além do crédito subsidiado.
Depois de crescerem mais de 15% nos últimos anos, as principais cooperativas de crédito do País esperam manter o ritmo de crescimento de dois dígitos na safra 2025/26, contornando a escassez de recursos subsidiados.
“O produtor procura primeiro as linhas que têm algum subsídio. Para o grande produtor, especialmente, as linhas desse tipo não duraram quatro meses no último Plano Safra. Então, ele acaba tendo que recorrer a outras linhas para ter liquidez”, disse o superintendente comercial de agronegócio do Sicoob, Luciano Ribeiro.
Atualmente, o Sicoob possui uma carteira de crédito de R$ 82 bilhões no agronegócio. Metade disso vem de recursos subsidiados (linhas do Plano Safra) e a outra metade tem como funding o crédito captado no mercado (via LCA, ou RDC, um título similar ao CDB, por exemplo).
No Sicredi, maior cooperativa de crédito ao agronegócio, o volume de recursos liberados na safra 2024/25 teve um crescimento de 17%, somando R$ 43 bilhões. Atualmente, a carteira de crédito ao agro soma R$ 103 bilhões.
Para manter esse ritmo de crescimento na safra 2025/26, o Sicredi está apostando em linhas que não precisam de subsídios, mesmo porque poucos esperam um crescimento do crédito disponibilizado pelo Plano Safra.
“O próximo Plano Safra vai seguir uma fórmula muito similar à do último. A dotação orçamentária do governo para equalizar as datas de juros permaneceu em R$ 15 bilhões”, lembrou Silas Souza, gerente de regulações Agro do Sicredi.
Como a Selic ficou bem mais alta, os mesmos R$ 15 bilhões em recursos para equalização dos juros significarão um volume de recursos mais limitado na ponta, exigindo criatividade dos financiadores.
Nesse cenário, o Sicredi vem expandindo a oferta de crédito em dólar — o que é também mais barato, mas só faz sentido para os clientes expostos a exportação de commodities.
Durante uma entrevista na Agrishow há duas semanas, Souza mencionou que um produto de crédito em dólar cresceu 41% em relação ao ano passado, somando R$ 5 bilhões. Ao que tudo indica, esse crescimento pode continuar em 2026.
Para o gerente do Sicredi, as cooperativas conseguem crescer mesmo nos momentos de crise do cadeia de grãos porque estão próximas do produtor. “A gente conhece a história, a atividade produtiva. Quando começa alguma situação adversa, conseguimos ter uma percepção mais clara”.
Em boa medida, a proximidade ajuda também as cooperativas médias. Fundada no Paraná, a Cresol se expandiu para o Centro-Oeste no últimos anos, e vem crescendo bem acima da média do mercado.
Atualmente, a carteira de crédito da Cresol está em R$ 32 bilhões, com um crescimento de 30% em relação ao ano passado, um patamar que tem se mantido ao longo dos últimos cinco anos.
Desse montante, 55% vêm de recursos próprios, captados pela Cresol (usando as vias que bancos tradicionalmente usam, como letras financeiras) e os demais 45% são de repasse de recursos subsidiados, principalmente destinados ao crédito rural por meio de ferramentas como o Pronaf.
“A Cresol é para todos, mas a agricultura é nossa vocação”, resume Cledir Magri, presidente da cooperativa.