
BELÉM (PA) – Eu vejo um museu de novidades. E — alerta — o tempo não para.
A menção à letra da famosa canção de Cazuza foi irresistível para este repórter após quase uma semana cobrindo a COP30 em Belém (PA) e visitando a AgriZone, o polo da Embrapa na Conferência do Clima.
O lugar é um showroom de inovações em agricultura tropical com foco no bioma amazônico. E por todos os lados avisa: o relógio está ticando, e o Brasil e o mundo precisam aprender com aquele palco. E, de preferência, investir mais nele.
A AgriZone tem 40 hectares e foi construída para abrigar a programação da Embrapa na Conferência do Clima, com painéis e debates. A infraestrutura ficará como um legado para a população de Belém após o fim do evento.
Aberto ao público durante toda a COP30, o espaço fica na entrada de uma área muito maior, de mais de 3 mil hectares, que é a sede da mais relevante base da empresa pública na região Norte do País.
A Embrapa Amazônia Oriental é uma das 42 unidades da Embrapa no País. O centro foi criado em 1975, herdando a estrutura do IAN (Instituto Agronômico do Norte).
Em seu imponente todo, o local é uma demonstração da pujança da pesquisa científica da Embrapa e de sua contribuição para o agro brasileiro.
Ali estão expostas diversas vitrines sustentáveis — melhorias potencialmente disruptivas para a produção agrícola tropical com foco na transição ecológica e na adaptação às mudanças climáticas.

Por exemplo, o Meliponário Iratama, um espaço onde são criadas abelhas nativas sem ferrão para produção sustentável de mel. Vizinho de lavouras experimentais, o projeto demonstra também a importância para a agricultura de ter matas contíguas abrigando polinizadores.
“Tem uma colega aqui, a Márcia Maues, cuja pesquisa mostra o impacto das florestas próximas — com sua riqueza de polinizadores — na produtividade de lavouras de açaí”, explica Joice Nunes Ferreira, uma das pesquisadoras da Embrapa Amazônia Oriental.
Outra vitrine é o Laboratórios de Frutíferas (LABFRUTI), que pesquisa temas como a superação de dormência em sementes. Ali também são testados melhoramentos de espécies visando a recomendação de genótipos mais adaptados às condições de cada região do País.
Outra atração da Embrapa Amazônia Oriental é a Fazenda Álvaro Adolpho. Referência em sistemas integrados e agricultura sustentável, ela exibe diversos protocolos de baixo carbono em culturas como soja, trigo, milho, sorgo, carne e leite, além de trabalhos com bioinsumos.
A ampla estrutura inclui 14 laboratórios, 15 bancos de germoplasma, oito campos experimentais e seis Núcleos de Apoio à Transferência de Tecnologia (NAPT).
A Fazenda tem ainda duas unidades de pesquisa animal, uma delas voltada a estudar a redução de emissões na pecuária, além de uma estação de piscicultura e de projetos de integração lavoura-floresta.

O local abriga ainda o Núcleo de Responsabilidade Socioambiental, voltado à agricultura familiar. Lá, as pesquisas incluem inovações como cultivares de arroz sem inundação e sem emissão de metano.
A sede da empresa pública em Belém (PA) também abriga o Sisteminha Embrapa, um conjunto de tecnologias para a produção de alimentos em ambientes urbanos, garantindo a segurança alimentar a partir de tanques de peixes, frango de postura, compostagem, minhocário e produção vegetal.
A cereja no bolo é a Capoeira do Black, uma área que no passado foi de mata nativa, mas que depois foi derrubada para a instalação de uma fazenda com um engenho. O fragmento florestal, como é chamado, vem sendo regenerada desde 1940 — com 8,5 hectares, o espaço tem mais espécies vegetais do que toda a Inglaterra.
Visitantes embasbacados
As vitrines sustentáveis encantaram visitantes ilustres que estiveram no local nos últimos dias. Por exemplo, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, que definiu o que viu como “sensacional”.
“Sempre espero surpresa positiva com a Embrapa, mas aqui superou”, afirmou. Segundo ele, o modelo de agricultura tropical brasileiro é uma contribuição ao mundo, e a visita à AgriZone é “obrigatória”: “Vale a pena vir a Belém só para vir aqui”.
Além dele, teceram elogios durante visitas o governador do Pará, Helder Barbalho, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o deputado federal Arnaldo Jardim — uma das lideranças do agro no Congresso — e o ex-ministro da agricultura e professor emérito da FGV Roberto Rodrigues.

Na terça-feira, o espaço recebeu a visita da rainha da Dinamarca, Mary Donaldson, que conheceu os tanques da tecnologia Sisteminha, o meliporinário e o projeto Capoeira Black. Entre equipes de outros países, também teve destaque a visita do diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Qu Dongyu, além de uma comitiva de empresários japoneses e outra de membros da americana Fundação Gates.
Pesquisadora cobra mais recursos
Ferreira afirmou ao The AgriBiz que o local — e a entidade como um todo — precisam de mais orçamento.
Ela informa que a participação pujante da empresa pública na programação da COP30 foi possível graças a uma verba não-recorrente — recursos da linha Pró-Amazônia, do CNPq, com duração de três anos. E relata preocupação com o que pode acontecer após esse prazo.
“O que a gente precisa é de recursos. Estamos vendo a Embrapa ser valorizada na Conferência, autoridades falando bem, mas ainda não vemos reflexo em orçamento. Não vou entrar no mérito de que setor tem mais ou menos verba, mas não teríamos todas essas vitrines para mostrar não fossem os cem pesquisadores e os 60 bolsistas de pós-doutorado. E isso só se faz com dinheiro.”
Segundo ela, as verbas do CNPq permitiram fazer contratações importantes: “Como vai ser quando passar esse prazo?”