BELÉM (PA) — A principal contribuição da COP30 para o agronegócio foi conscientizar o mundo de que é preciso remunerar o agricultor por produzir alimentos com uma pegada reduzida de carbono, segundo Márcio Santos, CEO da Bayer no Brasil e presidente da divisão agrícola da companhia no País.

Para ele, as discussões e painéis que marcaram as últimas duas semanas em Belém, assim como as experiências e ferramentas compartilhadas pela Embrapa na Agrizone, vão contribuir para uma evolução desse debate.

“Fazer uma intervenção no processo produtivo — e eu também sou produtor rural — custa dinheiro. De alguma forma, todos nós vamos compensar quem está fazendo esse investimento porque isso vai trazer um benefício para a sociedade. A COP está sendo um marco muito grande nisso por estar gerando essa consciência”, disse Santos ao Raiz do Negócio, videocast realizado em parceria por The AgriBiz e InfoMoney.

Para remunerar, é preciso medir adequadamente as emissões — uma outra temática da COP levantada, inclusive, pelo grupo de sistemas alimentares da SB COP, iniciativa global empresarial liderada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) que levou propostas para os negociadores.

A multinacional de origem alemã é uma das empresas mais envolvidas na elaboração e defesa da adoção de um modelo de medições adaptado à agricultura tropical.

Os modelos reconhecidos internacionalmente foram desenvolvidos para a agricultura temperada, que tem características completamente diferentes da produção agrícola em países tropicais. Ao ser replicado na agricultura brasileira, por exemplo, esse modelo criado no Hemisfério Norte acaba mostrando uma pegada de carbono maior do que ela realmente é.

“Desenvolver ferramentas que possam refletir a realidade da pegada de carbono da agricultura tropical é essencial, porque definitivamente a lógica não é a mesma de uma agricultura onde se planta após o gelo. A diferença é tão gritante quanto isso”, disse Santos durante a entrevista gravada na Casa Bayer, em Belém.

Em um projeto apoiado pela Bayer, a Embrapa desenvolveu uma calculadora para emissões de acordo com os parâmetros da agricultura tropical. Depois de cinco anos de trabalho, que envolveu cerca de dois mil produtores no País, a calculadora mostrou que a pegada de carbono na produção de soja no Brasil é aproximadamente um terço da média global.

“Temos uma pegada de carbono entre 650 e 700 quilos de Co2 por tonelada de soja produzida, contra uma média mundial acima de 2 toneladas”, afirmou o CEO.

Entre as particularidades da agricultura brasileira está o cultivo de duas safras por ano, a ampla adoção do plantio direto — que já atinge quase 90% da área no País — e de outras técnicas que minimizam o impacto ambiental, como a inoculação.

Nova tecnologia

A adaptação às mudanças da natureza também estará no centro do lançamento de uma nova tecnologia da Bayer, marcado para a próxima semana. “Vamos anunciar uma tecnologia muito importante para o nosso País para lidar com desafios que vão aparecendo, essa é a natureza da agricultura tropical: você resolve um problema e, no outro ano, aparece um novo desafio. A natureza se adapta, então a gente tem que se adaptar também”, disse Santos, sem dar mais pistas sobre o novo produto.

Com origem no setor de biotecnologia, a Bayer, que se uniu à Monsanto em 2016, continua tendo como parte central de seu negócio o melhoramento de sementes. A empresa também vem investindo no mercado de biológicos e tem produtos com posição de destaque no mercado, como o Serenade, um fungicida microbiológico com múltiplos modos de ação.

“Vemos os biológicos como um mercado crescente, super relevante e parte da agricultura tropical. A Bayer investe nele individualmente e acreditamos muito em parcerias nesse mercado. Vamos seguir aumentando a nossa participação nele”, afirmou.

Além da calculadora de carbono, a companhia vem se dedicando ao desenvolvimento de outras ferramentas que ajudem os agricultores a minimizar os problemas climáticos por meio da agricultura regenerativa.

Uma delas é o programa ProCarbono, que, por meio de um trabalho com aproximadamente dois mil produtores, mostrou como técnicas de manejo e melhoria de solo, rotação de culturas e formação de matéria orgânica, por exemplo, ajudam a mitigar os impactos do clima.

Propriedades com práticas regenerativas conseguiram uma produtividade entre 25% e 30% maior do que a média da região após um período de seca. Em períodos com condições relativamente favoráveis, ela foi 11% maior. “Não é que você vai estar preparado só para quando der mal. Quando tudo for bem, você vai estar melhor também. Acreditamos muito nisso.”

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A Casa Bayer fica numa área histórica de Belém. A companhia restaurou um casarão centenário, preservando as características do imóvel, para abrigar eventos paralelos à COP. Depois, o casarão será utilizado como um centro cultural e educativo aberto aos moradores da capital paraense sob administração da Embrasesc (Empresa Brasileira de Produtos e Serviços Culturais).