
Mais do que desafios logísticos e um mergulho na biodiversidade. Sediar a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, é uma oportunidade para o Brasil apresentar ao mundo as tecnologias tropicais e regenerativas que o fazem produzir alimentos cada vez mais e melhor. Para isso, o País vai inovar, em um movimento liderado pela Embrapa.
“Na COP30, que acontecerá em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro, além das tradicionais Blue Zone [área restrita, de negociações] e Green Zone [área de conexões, aberta ao público], haverá também a AgriZone, uma área de demonstração do modelo brasileiro de produção de alimentos, energia e fibras sustentáveis, tudo baseado em ciência”, explica Walkymário de Paulo Lemos, chefe da Embrapa Amazônia Oriental.
Não por acaso, a Embrapa Amazônia Oriental — unidade com 3 mil hectares de área verde, situada a 2 quilômetros da Blue Zone — será a sede da AgriZone, uma espécie de hub que vai abrigar entidades, parceiros e empresas do agro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, despachará de lá durante a COP.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que representa 5 milhões de produtores brasileiros, estará na AgriZone e na Blue Zone.
Enquanto na zona temática as ações serão voltadas à divulgação de conteúdo e de ciência, o espaço da CNA na Blue Zone será dedicado ao debate de ações relevantes mais relacionadas às negociações, com a presença de parlamentares e membros de organizações internacionais, explica Nelson Ananias, coordenador de sustentabilidade da CNA.
Para a entidade, a COP é uma oportunidade de mostrar o agronegócio brasileiro não só como pilar da segurança alimentar. “Muito mais do que garantidor de cadeias alimentares, o setor figura como solução para mitigação e adaptação às mudanças climáticas com uma forma de produzir eficiente, que fixa carbono e resulta em alimentos saudáveis e sustentáveis”, diz Ananias.
Desde a COP do Egito, em que foi estabelecido o Diálogo de Sharm El-Sheikh — um grupo de trabalho que discute e elabora planos de ação para a agricultura e segurança alimentar, integrando essas questões à agenda global de ação climática —, a delegação do Brasil tem focado na tropicalização da agricultura.
“Aquela que tem três safras ao ano, que faz Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que tem tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que implementa sistemas de cultivos agroflorestais (SAFs). Isso será o carro-chefe das discussões sobre soluções para mitigação climática”, diz Ananias.
Como vai funcionar a AgriZone?
A AgriZone será uma vitrine das tecnologias do agro dentro da Embrapa Amazônia Oriental. Haverá diferentes “espaços”. No pavilhão de entrada, os visitantes terão uma imersão virtual nas tecnologias das unidades da Embrapa e de outros parceiros e empresas vinculadas às temáticas da conferência, mitigação, neutralização, adaptação e segurança alimentar.
De forma similar ao que acontece na Green Zone, a AgriZone abrigará eventos. “Para isso, lançamos um edital e recebemos cerca de 450 propostas de diferentes países e entidades, públicas, privadas, científicas, comunidades tradicionais e estamos fazendo a seleção”, diz Walkymário de Paulo Lemos, chefe da Embrapa Belém.
“Não podemos privilegiar ninguém, os parceiros que quiserem estar conosco terão que adquirir cotas, como ocorre em qualquer evento”, esclarece. Entre os parceiros, estão CNA, IICA, SENAR, Sebrae, Bayer, Nestlé, muitos deles com parcerias consolidadas com a Embrapa, como a Bayer, com a soja carbono neutro e a Nestlé, com o leite carbono neutro.
Haverá ainda a área da sociobiodiversidade, direcionada a agricultores familiares, extrativistas, comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhos. “Será uma feira, exposição tanto de produtos, quanto de tecnologias voltadas para este público. Temos dialogado com a OCB e Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social para que estejam presentes”, explica Lemos.
Por fim, o “camarão do tacacá” da AgriZone serão as Vitrines Vivas, espaço para o visitante ver in loco as tecnologias sociais, tais como o 1) Sisteminha Embrapa, produção integrada de alimentos para uma família de até 5 pessoas; 2) Diferentes tipos de compostagem; 3) Fossa séptica; 4) Jardim Filtrante, 5) Alimentos Biofortificados, etc.
Outra área de vitrines será voltada às tecnologias da Embrapa internacionalmente reconhecidas, como a 1) Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o 2) Boiteca, sistema que integra a pecuária à produção de madeira Teca; 3) Sistema Guaxupé, que intensifica a atividade pecuária com menor investimento econômico e benefícios ao meio ambiente; 4) Sistema Bragantino, que combina rotação e consórcio de culturas, recuperando a fertilidade do solo e eliminando a queima; e 5) Sistemas Agroflorestais, café robusta com árvores nativas, cacau consorciado com o açaí, entre outros.
Além disso, quem passar pela AgriZone poderá ter uma imersão no que é a Amazônia, fazendo trilhas num fragmento de floresta, com todas as espécies identificadas e ver e experimentar o mel de meliponários de abelhas nativas.
Olhem para nós, as pessoas da Amazônia
Dentro da AgriZone, também será apresentado o projeto “Olhem para nós, as pessoas da Amazônia”, idealizado pela produtora rural Antonielly Rottolli e abraçado pela CNA e Aprosoja MT.
“A iniciativa nasce da necessidade de dar voz e rosto a essas comunidades de produtores que conciliam a força da produção com cuidado ambiental e preservação cultural”, diz Antonielly, que produz grãos e cria Aberdeen Angus em Rondônia. “Amazônia não é apenas floresta, tem gente que reside ali, que inova, que pratica sustentabilidade no seu dia a dia e alimenta o mundo”, explica.
Os produtores rurais da Amazônia têm de preservar 80% da área como reserva legal e vivem driblando entraves de quem vive na região, como os problemas logísticos que dificultam a chegada de insumos. Além disso, esses agricultores e pecuaristas vivem na defensiva.
“Temos que estar atentos, porque a primeira paulada é sempre em nós. É uma batalha dia a dia para dar visibilidade a quem faz certo. Aqueles que fazem errado, oportunistas que nem podemos chamar de produtor rural, têm visibilidade instantânea”, diz.
Para humanizar o produtor e mostrar que por trás de cada produto amazônico há famílias, valores e sonhos, o projeto está produzindo vídeos com histórias de produtores da região. Se a infraestrutura do local permitir, a Inteligência Artificial será usada para quem estiver assistindo ao vídeo se ver como um produtor da Amazônia.
“Queremos mostrar nesta COP a potência agroambiental do Brasil e o produtor que cumpre as leis, preserva e produz, porque há muitas pessoas de cidades grandes, que compram uma visão maligna do produtor rural sem conhecer a realidade”, finaliza.