A AgriZone recebeu cerca de 25 mil visitantes de diferentes lugares do mundo durante a COP30 | Crédito: Saulo Coelho/Embrapa
A AgriZone recebeu cerca de 25 mil visitantes de diferentes lugares do mundo durante a COP30 | Crédito: Saulo Coelho/Embrapa

Voltei de Belém com uma sensação clara: algo mudou. A COP30 não foi apenas mais uma conferência climática — foi um marco na percepção global sobre a agricultura tropical e sobre o papel que o Brasil desempenha no enfrentamento da crise climática.

Foram mais de 30 eventos com minha participação como moderador ou painelista, além do lançamento de novas iniciativas do Instituto Equilíbrio que reforçam nossa missão de promover conhecimento técnico, diálogo e impacto sobre agro, clima e transição verde.

Durante duas semanas, ouvi em diversos pavilhões a mesma mensagem, repetida por negociadores, cientistas e parceiros internacionais: “O agro brasileiro não é parte do problema. Ele é parte essencial da solução.”

E essa mudança não aconteceu por acaso. Foi fruto de diálogo, ciência, transparência e do esforço de pessoas e instituições que acreditam no poder transformador da agricultura.

AgriZone: a ciência brasileira encontra o mundo

A AgriZone, organizada pela Embrapa e entidades do setor privado, foi um dos espaços mais emocionantes que já vivenciei em conferências climáticas. Ali, a agricultura tropical ganhou rosto, números, evidências e, principalmente, credibilidade internacional. Mais de 25 mil pessoas passaram por lá!

Conversando com delegações de vários continentes, pude reforçar a mesma ideia:
nossas tecnologias não são teorias — elas já estão no campo, funcionando, reduzindo emissões, aumentando produtividade e garantindo renda ao produtor.

A reação sempre era a mesma: surpresa seguida de interesse genuíno. A AgriZone se tornou, na prática, um novo padrão de como o agro deve dialogar com o mundo.

Narrativa sólida

Ao lado de instituições parceiras, levamos a Belém uma narrativa sólida e coerente.

Para além do simbolismo de sediar a conferência no coração da Amazônia, o Brasil mostrou ao mundo que possui modelos escaláveis de produção tropical capazes de reduzir emissões, aumentar a eficiência e promover adaptação climática.

Em debates na Blue Zone e em pavilhões internacionais, sempre defendemos o mesmo ponto: o Brasil domina a tecnologia da agricultura tropical. E isso importa — e muito — para o futuro do planeta.

Políticas públicas para caminhos reais

Outro avanço essencial da COP30 foi demonstrar a articulação e a relevância de programas que fortalecem o papel do agro sustentável:

• Caminho Verde Brasil: programa de recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens degradadas ao longo de 10 anos, convertendo essas terras em sistemas produtivos mais eficientes, sem desmatar novas áreas. Esses programas conversam diretamente com o que defendemos na COP30 — e com o que o mundo espera de nós.

Programa Raiz: fomento direto à agricultura regenerativa e ao manejo conservacionista de solos em todo o mundo.

Financiamento verde: materialização e escala

Não existe transição sem financiamento. Um dos pontos centrais que destaquei em diversas entrevistas foi: não basta só tecnologia, é preciso afinidade entre projetos e fundos concretos. A partir da COP30, precisamos manter a agricultura tropical na pauta como solução para os problemas climáticos e atrair investidores.

A FAO levantou um alerta fundamental: os sistemas agroalimentares, responsáveis por uma parte expressiva das emissões globais, recebem uma fração ínfima dos fluxos de financiamento climático. Apesar de representar cerca de 40% da população ocupada e 10% do PIB mundial, o setor recebe menos de 5% dos fluxos financeiros. Mesmo sendo solução, o agro ainda está subfinanciado — um paradoxo que precisamos resolver com urgência.

Os dados importam

Tive muito orgulho de poder falar sobre o estudo que o Instituto Equilíbrio patrocinou ao lado da Agni, apoiado pela ABAG e SRB e que foi lançado no final de outubro. O documento aponta que o potencial combinado na adoção de tecnologias sustentáveis para o campo chega a aproximadamente R$ 94,8 bilhões por ano em PIB, além de criar mais de 700 mil empregos diretos nos setores de agricultura, agroindústria e energia, até 2030.

E mais: deixa evidente que o produtor rural brasileiro tem muito a ganhar com tecnologias sustentáveis. Emissões menores, produtividade maior, novas fontes de renda — e tudo isso sem perder competitividade.

O estudo reforça algo que fundamenta o nosso trabalho: quando colocamos ciência, política pública e incentivos no mesmo eixo, o agro brasileiro acelera a transição climática e proporciona crescimento socioeconômico.

O legado: o Brasil está pronto para liderar

O que fica desta COP é uma mensagem simples, porém poderosa: o agro brasileiro amadureceu. Estamos preparados para mostrar resultados, apresentar dados, influenciar negociações e liderar a transformação de sistemas alimentares.

O Brasil saiu da COP30 com uma agenda sólida e uma narrativa crível — e isso abre portas. Se na COP30 pudemos mostrar quem somos, na COP31 faremos parte da agenda sobre o futuro dos sistemas alimentares. O mundo discutirá:

  • Saúde do solo
  • Resiliência climática
  • Segurança alimentar
  • Métricas tropicais e padronizadas
  • Menos perdas e desperdícios
  • E novas formas de produzir, consumir e financiar alimentos, fibras e bioenergia.

Não estamos esperando 2026 chegar. Todos esses pontos já estão em debate, no Brasil. Agora, precisamos fazer ecoar nosso potencial de transformação. O produtor brasileiro, apoiado em tecnologia tropical, políticas públicas estruturantes, ciência robusta e financiamento adequado, pode fazer essa transformação acontecer.

Com isso, o Brasil não vai apenas participar da construção de soluções climáticas e dos sistemas alimentares do futuro. Nós vamos liderar essa agenda — com ciência, com gente, com resultados e com a força da agricultura tropical.