Degradação

BELÉM (PA) – A restauração de áreas degradadas — uma iniciativa que tem o Brasil como principal defensor e exemplo — acaba de ganhar a adesão de mais sete países.

Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Peru e Reino Unido também farão parte da RAIZ (sigla em inglês para Resilient Agriculture Investment for net-zero land degradation). Liderada pelo Brasil, a iniciativa internacional foi lançada nesta quarta-feira em um evento durante a COP30, em Belém.

O objetivo do programa é mobilizar recursos financeiros (públicos e privados) e escolher a melhor forma de alocá-los, visando a restauração em larga escala de áreas agrícolas degradadas. Como consequência, os participantes buscam fortalecer a segurança alimentar, enfrentar as mudanças climáticas e proteger a biodiversidade.

A iniciativa capitaneada pelo Brasil foi inspirada no programa como o EcoInvest, que destinou, no segundo leilão, R$ 30 bilhões para o programa Caminho Verde Brasil, destinado à recuperação de até 3 milhões de hectares de pastagens degradadas.

Na prática, a RAIZ oferecerá assistência técnica para ajudar os governos dos países participantes em tarefas como: mapeamento de áreas degradadas buscando aquelas com maior potencial produtivo, identificar e estimar custos dos programas de restauração; desenhar mecanismos de co-investimento, reunindo recursos públicos e privados na mesma solução financeira; e fomentar a colaboração e troca de conhecimento em todo o ecossistema interessado na temática da restauração.

1 bilhão de hectares degradados

O desafio é grande: estima-se que mais de 20% das terras agrícolas em todo o mundo, aproximadamente 1 bilhão de hectares, estejam degradados, segundo estimativa da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

Se 10% dessas áreas fossem recuperadas, seria possível produzir 44 milhões de toneladas de alimentos por ano, o suficiente para alimentar 154 milhões de pessoas, disse a RAIZ em um comunicado à imprensa distribuído nesta quarta.

O volume de recursos disponíveis é pouco para o tamanho do desafio. Por ano, cerca de US$ 105 bilhões deveriam ser investidos em recuperação de terras agrícolas, de acordo com uma estimativa do Center of Global Commos, da Universidade de Tóquio.

O setor privado poderia responder por quase a totalidade desse valor, mas enfrenta dificuldade para levantar recursos devido aos altos custos iniciais dos projetos, prazos longos de retorno e rentabilidade variável.

“Com base em iniciativas como o EcoInvest, podemos liberar bilhões globalmente para restaurar terras degradadas. Escalar esses modelos é fundamental para promover uma restauração que funcione para agricultores, comunidades e para o planeta”, disse Bruno Brasil, diretor do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura e Pecuária, no comunicado.

A iniciativa será implementada por membros do Grupo de Ativação do Objetivo-Chave 8 da agenda de ação da COP30 — relacionado à recuperação de áreas degradadas e agricultura sustentável. O Ministério da Agricultura do Brasil hospedará o grupo, em parceria com a FAO, a Iniciativa Global de Terras do G20 (UNCCD) e a Food and Land Use Coalition (FOLU).

O grupo também conta com parceiros nacionais, como a Agroicone, e internacionais, como o Banco Mundial.