Adaptação climática (metade da nossa sobrevivência) será prioridade na COP30

“A adaptação climática deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação das emissões; é a primeira metade da nossa sobrevivência”. A declaração é do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em sua oitava carta à comunidade internacional sobre a conferência, divulgada nesta quinta-feira.

Numa comunicação oficial totalmente dedicada ao tema da adaptação climática, algo inédito, o presidente da COP30 deu a ênfase que espera que a conferência direcione a esse debate — especialmente em relação ao financiamento para ações de adaptação, hoje concentradas no poder público.

Em viagens pelo mundo nos últimos meses, Corrêa do Lago disse que uma mensagem ecoou em todos os lugares: “urgência e resultados concretos em adaptação na COP30”, pois os efeitos das mudanças climáticas já provocam perdas irreparáveis, incluindo colheitas perdidas, ressaltou o embaixador.

“Só uma sociedade resiliente é capaz de dar o próximo passo em termos de ação climática e mitigação. Não podemos esperar que a sociedade consiga descarbozinar se ela não consegue sequer sobreviver. Temos que fazer ambas as coisas”, complementou Ana Toni, diretora-executiva da COP30, durante um webinar para jornalistas promovido nesta quinta-feira pelo Pulitzer Center.

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30: “Adaptação climática é a primeira metade da nossa sobrevivência” | Divulgação

Embora os termos pareçam semelhantes à primeira vista, há uma diferença fundamental entre mitigação e adaptação climática. A primeira refere-se a ações para reduzir ou evitar a emissão de gases de efeito estufa, como a transição energética para fontes renováveis, reflorestamento e mudanças para reduzir as emissões em vários setores, incluindo a agropecuária.

Já a adaptação climática busca minimizar os danos do aumento da temperatura e aumentar a resiliência climática. Como exemplos, estão o planejamento urbano para ondas de calor ou enchentes, o monitoramento climático e o uso da irrigação no caso da agricultura.

Classificando a adaptação como “o cerne do desenvolvimento sustentável”, Corrêa do Lago diz que ela fortalece a estabilidade fiscal, reduz riscos de investimentos e aumenta a produtividade.

“Temos que mudar a perspectiva. Queremos demonstrar que as finanças de adaptação não são caridade, são uma forma de evitar custos a mais no futuro”, disse Toni.

Segundo ela, os investimentos em adaptação podem proporcionar um retorno de 25% sobre o capital. Mesmo assim, os recursos para projetos de adaptação representam menos de um terço do total do financiamento climático, segundo Corrêa do Lago, que classificou o volume como “muito abaixo das necessidades”.

“Ouvi repetidamente que acelerar o financiamento da adaptação é essencial para proteger comunidades e assegurar ganhos de desenvolvimento – e que o financiamento deve ir além da duplicação, talvez até triplicar, para atender às necessidades urgentes”, disse o embaixador na carta.

Cadê o dinheiro?

Em sua conversa com jornalistas, Ana Toni destacou a agricultura como exemplo de um setor que vem se adaptando às mudanças climáticas diariamente.

“Os agricultores se adaptam todos os dias. Com sementes mais resistentes ou através do aumento da irrigação, já estão se adaptando”, observou Toni, elencando outras atividades que têm sido obrigadas a se adaptar, como o de seguros e construção civil.

Mas as finanças para a adaptação ainda engatinham. Pouco se sabe sobre os recursos necessários para financiá-la. “Existe uma demanda dos países em desenvolvimento por triplicar a finança da adaptação. A partir de que? Qual é a base dos números que nós temos?”

A presidência da COP30 espera que esse novo ecossistema de economia da adaptação apresente estimativas concretas durante a conferência. “Esperamos ter na COP números que mostrem quanto as cidades estão gastando, o quanto as comunidades e os setores estão gastando, para mostrar que tipo de investimentos nós precisamos”, afirmou Toni.

Segundo ela, estimativas de 2022 apontaram que são necessários cerca de US$ 350 bilhões para projetos de adaptação, dos quais US$ 200 bilhões seriam necessários a partir de recursos públicos.

Para aumentar o papel do financiamento privado, abordagens inovadoras, como blended finance, serão necessários para atrair capital para garantir segurança alimentar, segurança hídrica e infraestrutura resiliente, acrescentou o embaixador no comunicado oficial.

Outra inovação que poderá ajudar os países com restrição de acesso a capital são swaps de dívida entre bancos de desenvolvimento e bilaterais. Mais um avanço concreto almejado pela presidência da COP refere-se à divulgação de planos, por parte dos bancos multilaterais de desenvolvimento, para os financiamentos com essa finalidade.

Metas globais

Além de compromissos para o financiamento à adaptação, a presidência da COP30 vai buscar a definição dos indicadores das metas globais de adaptação (GGA, sigla em inglês para Global Goal on Adaptation).

Uma lista com milhares de indicadores foi refinada para 100 critérios, que serão validadas durante a CO30. Métricas para avaliar a resiliência da produção agrícola, por exemplo, estão entre eles.

“Quando essas metas forem adotadas, vai ficar mais fácil ver quem está se tornando mais resiliente e quem está sendo deixado para trás. Isso é fundamental”, afirmou Toni. “A GGA não é apenas um item de negociação — é uma bússola econômica e moral”, finaliza Corrêa do Lago.