Opinião

C’est fini, China?

Ritmo das exportações de carne bovina pode cair devido ao menor crescimento da economia chinesa, mas ainda não é o caso de se pensar em queda brusca

Como esperado, o Banco Mundial cortou nesta semana a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China. A previsão anterior era de 5,6% ante os atuais 5,1% para 2023. Para 2024, a instituição arriscou apontar 4,4% de expansão.

Os principais motivos apontados são o fraco desempenho da reabertura daquele mercado, a explosão da bolha imobiliária no país, o baixo nível de confiança dos empresários locais e, o mais preocupante para qualquer economia, o envelhecimento da população.

Em contraste às políticas antigas, a nova base do crescimento chinês tem sido o consumo e a inovação, mas a transição está sendo difícil, segundo o Banco Mundial. Algumas escolhas e mudanças políticas exacerbaram a incerteza para consumidores e investidores e provocaram perda de confiança, como reflexo do aumento do endividamento e derrocada dos preços imobiliários. E as implicações do envelhecimento levaram a um novo aumento da já elevada taxa de poupança para 33%. Isso significa menos dinheiro circulante.

Sempre que se fala em redução do crescimento chinês todos os setores econômicos que fazem comércio com a China ficam agitados, preocupados com uma possível redução de demanda.

Portanto, a pergunta que faço aqui é: o que isso significa para o comércio brasileiro de carne bovina para o gigante asiático? Estaria o Brasil em risco?

Um ponto importante é que a história nos mostrou que uma redução do crescimento do PIB chinês não necessariamente representaria queda de consumo de carne bovina. Uma contração do PIB, sim, mas uma redução na taxa de crescimento, que ainda seria crescimento, não representaria necessariamente queda de consumo.

O motivo é simples: toda vez que a economia do país se expande acima de seu crescimento populacional, existe uma forte correlação com a retirada de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. E isso, por si, já representa um forte motor de sustentação ao consumo doméstico de alimentos mais seguros e com maior qualidade nutricional, como a carne bovina.

Protagonismo brasileiro

Nesse contexto, o Brasil entra como protagonista, já que representa o maior exportador de carne bovina do mundo. Não que não tenhamos que nos preocupar com a concorrência, mas certamente continuaremos sendo páreo duro por um bom tempo.

Em 2020, por exemplo, enquanto o PIB chinês cresceu apenas 2,2% (um resultado bem diferente dos 6,0% registrados em 2019), o consumo doméstico chinês de carne bovina aumentou 7,5% e as exportações brasileiras para o país subiram 75%. O movimento é explicado pelo surto de Peste Suína Africana e seus efeitos deletérios sobre o rebanho suíno chinês, que chegou a perder 43% do seu continente.

Assim, o chinês tomou gosto pela carne bovina ao mesmo tempo em que conseguiu acessá-la.

Dito isso, o ritmo de crescimento pode cair e podemos até mesmo ter chegado a um patamar de consolidação após resultados estrondosos nos últimos anos, mas ainda não é o caso de se pensar em queda brusca para um mercado que segue apresentando crescimento, mesmo que menor.

Por enquanto, a carne brasileira ainda terá espaço na mesa do chinês.