
O café sinaliza entrar em 2026 com o pé direito — mas é importante combinar com o clima.
A commodity chega ao fim de 2025 com preços em queda: a inflação acumulada em 12 meses chegou a bater em 80% no início deste ano, mas caiu pela metade agora. E isso pode influenciar a demanda, atualmente em declínio.
“A inflação do café caiu para 40% nos 12 meses até outubro. Isso é um alívio do ponto de vista do consumo, pois as vendas no varejo caíram 5,4% no ano até agosto”, diz Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado de café da StoneX.
Segundo ele, por causa dessa queda na inflação do café no último trimestre, os números de consumo no ano tendem a ser “um pouco menos preocupantes”. Por outro lado, pontua, o índice atual ainda é alto na comparação com os 20% de inflação do produto na União Europeia.
Guilherme Morya, analista de café do Rabobank, esmiúça o comportamento da demanda doméstica, que, segundo ele, ainda enfrenta desafios — mas pode se recuperar conforme a indústria repasse os preços atenuados às gôndolas.
“Embora o consumo fora do lar compense parcialmente, revisamos nossas projeções para uma retração de 0,9% em 2024/25, totalizando 21,4 milhões de sacas”, diz Morya. “Já para 2025/26 projetamos uma alta de 1,2% no consumo nacional, para 21,7 milhões de sacas, puxada por melhoras dos preços ao consumidor e das condições macroeconômicas.”
Otimismo com a oferta
Do lado da oferta, a florada na primavera foi positiva, e o clima segue ajudando.
“Mesmo com um período seco em setembro, logo depois as chuvas chegaram e mantiveram regularidade, e com temperaturas mais amenas. Os modelos mostram uma condição dentro da normalidade nos próximos meses”, diz Maximiliano.
Segundo ele, até aqui a estimativa da StoneX é de um crescimento de 13,5% na produção do País em 2025/26, chegando a 70,7 milhões de sacas.
“A chegada da próxima safra tende a trazer um grande alívio. Esperamos que comece a reconstruir alguma coisa de estoque. Vamos voltar a campo no início do próximo ano para atualizar essa estimativa, mas, até aqui, o cenário é de otimismo”, afirma.
Morya, do Rabobank, reforça essa percepção: “Nas últimas semanas, as condições climáticas têm sido favoráveis ao desenvolvimento das lavouras, o que alimenta expectativas positivas”.
Ele destaca os bons resultados preliminares do café robusta em Rondônia, como auferido pelo banco em seu último balanço, em outubro. “Em fevereiro e março, faremos o segundo Crop Tour nos principais estados produtores (São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia), o que nos permitirá ter uma estimativa mais precisa.”
Os analistas ressalvam dois fatores que podem mudar o jogo da oferta no Brasil: a sazonalidade e, claro, o clima.
“O primeiro trimestre é um período de entressafra para nós, e esse é um fator que geralmente dá um suporte altista aos preços. E o clima tem sido muito imprevisível, qualquer pequena coisa que aconteça já pode reduzir o potencial da próxima temporada”, diz Maximiliano.
A volatilidade continua
Nas principais bolsas que negociam contratos futuros, o café teve comportamentos distintos em 2025.
Em Nova York, onde são negociados os contratos do arábica, o preço subiu 6% no ano. Enquanto isso, em Londres, onde são comercializados os do robusta, o preço caiu 18%.
“No caso do arábica, a valorização é por conta da menor produção que a gente teve neste ano. E, no caso do robusta, a queda é pela maior produção no Brasil, além do Vietnã e da Indonésia, que se recuperaram”, explica Maximiliano, da StoneX.
“No apagar das luzes de 2025, o mercado de arábica até tomou uma trajetória mais baixista, ligada à retirada das tarifas no fim de novembro. Mas os preços ainda estão em um patamar alto”, acrescenta o analista.
Nos últimos dias, os contratos futuros ganharam um novo fôlego em meio a preocupações com o tempo quente e chuvas abaixo da média em algumas regiões de Minas Gerais, maior produtor de arábica do Brasil. Em sete dias, o contrato com vencimento em maio subiu 4,7% na Bolsa de Nova York, sendo negociado a US$ 3,44 por libra-peso nesta terça-feira.
E 2026?
Para 2026, a perspectiva é mista. Os analistas avaliam que a oferta deve se recuperar, com um efeito de baixa nas cotações. Mas ressaltam que o cenário ainda é muito vulnerável a mudanças no clima e a fatores regulatórios.
Entre os fatores de baixa estão a expectativa de aumentos nas ofertas regionais: na Ásia, graças à relativa fartura nos principais produtores da região, e nas Américas, graças à América Central e à Colômbia.
“De forma geral, se as condições climáticas forem favoráveis, esperamos uma recuperação da oferta global, movimento que já vem pressionando as cotações para baixo”, detalha Morya, do Rabobank.
Segundo ele, embora o adiamento da EUDR — a lei europeia antidesmatamento, que impõe duras regras de compliance e rastreabilidade para a cadeia do café — tenha sido um alívio, a aproximação do novo deadline pode motivar uma aceleração nas compras por parte dos europeus.
“E isso pode favorecer uma alta sobre preços, especialmente no segundo semestre”, explica.
Outro fator de alta são os estoques em níveis “não confortáveis, lembra Maximiliano, da StoneX.
Morya, do Rabobank, reforça essa visão. “Apesar da recente queda nos preços, os estoques globais seguem em níveis pouco confortáveis. Qualquer evento climático adverso em regiões produtoras pode reacender preocupações sobre a oferta e, consequentemente, aumentar a volatilidade dos preços.”