
Uma fazenda de 6 mil hectares úteis em Minas Gerais. Esse é o ponto de partida da joint-venture Jacurutu Coffee, formada pela Santos e Dias (maior produtora independente de florestas de Minas Gerais) e pela Ruiz Coffees, segunda maior produtora de café do País.
O casamento visa a produção de café irrigado na propriedade, localizada no noroeste de Minas Gerais, no município de João Pinheiro. A fazenda pertence à Santos e Dias há vinte anos. Por lá, foi produzido principalmente eucalipto — com alguns experimentos recentes na soja.
“Me formei em 2017 e, no ano seguinte, a gente começou um projeto agrícola. Iniciamos com 420 hectares de soja e viemos com soja até 2023, totalizando 1,7 mil hectares”, conta Leonardo Costa, da segunda geração dos fundadores da Santos e Dias, hoje diretor na empresa.
Em 2023, a Santos e Dias encerrou o plantio de soja e começou a buscar opções de culturas perenes. Algumas alternativas — como a produção de laranja — foram estudadas, mas o negócio fechou mesmo com a Ruiz, para a produção de café. O acordo teve o apoio da Eldorado Terra, advisor focada no agronegócio.
“Todo o trâmite começou em setembro do ano passado, para formar a joint-venture. Agora em outubro deste ano fizemos o CNPJ e estamos começando com o viveiro de café. Devemos colocar sementes para germinar agora em dezembro, com o intuito de, em junho do ano que vem, começar o plantio de café”, explicou Costa.
Na fazenda, deve ser plantado 100% café arábica, totalmente irrigado.
“O Felipe Santinato [da Santinato Cafés] está nos dando consultoria e tem nos indicado algumas cultivares melhores. Hoje nosso plano é plantar as variedades Asa Branca, Acauama, Guará e Graúne, com foco em exportação”, destaca Costa.
Na mecânica da joint-venture recém-criada, a firma vai arrendar a fazenda, numa divisão de custos meio a meio para investimentos em irrigação, ativo biológico e beneficiamento do café. Na prática, a Santos e Dias ficará com a responsabilidade de fazer os investimentos mais básicos de infraestrutura, enquanto a gestão agrícola será feita em conjunto pelas empresas.
Compra da fazenda
Além de compartilharem meio a meio os lucros e despesas, a joint-venture tem um compromisso também de comprar a fazenda da Santos e Dias. Hoje, 100% da fazenda pertence à família de Costa e, ao longo do tempo, toda essa propriedade deve ser vendida para a Jacurutu Coffee.
Como a joint-venture é, na prática, formada por 51% da Santos e Dias e por 49% da Ruiz, a propriedade muda de dono no CNPJ, mas continua, na prática, sendo controlada pela família de Costa.
A opção de compra vai ser precificada em sacas de café e não tem, hoje, data específica de exercício. “É mais uma promessa de compra e venda já firmada, porém a conclusão depende da geração de caixa do projeto para amortizar a fazenda”, explica Gustavo Ribeiro, CEO da Eldorado Terra.
O plano é que, ao longo do tempo, a geração de dividendos da companhia fique vinculada à amortização da compra da fazenda. Tudo depende, no fim das contas, da produtividade e do preço do café ao longo do tempo — para um projeto que tem um cronograma longo.
Serão cinco anos para implantar o café em toda a área irrigada da fazenda. A expectativa é que a geração de caixa comece a partir do oitavo ano — lembrando que o café demora três anos para começar a produzir.
Na conta total, da aquisição da terra e dos investimentos na lavoura, o investimento deve ser de R$ 1 bilhão, com a ambição de produzir 2,6 milhões de sacas em até dez anos.
O dia a dia do negócio
Nesse plano de cinco anos de plantio, começando a partir de junho do ano que vem, a meta é começar 2027 com 600 hectares plantados. A conta considera 100 hectares por mês, um ritmo que deve se manter no ano seguinte — totalizando, portanto, 1,2 mil hectares.
Para essa primeira fase, a joint-venture fez um empréstimo-ponte de R$ 50 milhões para ter uma folga para avaliar alternativas de funding.
Além de dívida, a entrada de um eventual novo sócio na combinação de negócios não está descartada. É um plano inicial, que pode ser colocado em marcha a partir do momento em que a empresa estiver em fase operacional.
“Isso ainda é muito preliminar. Mas temos um relacionamento grande com fundos institucionais estrangeiros, já participamos da estruturação de joint-venture com endowment de Harvard. Então existe uma sondagem inicial, que desperta bastante interesse”, afirmou Ribeiro.
Por enquanto, a joint-venture está fazendo a aquisição de pivôs, de equipamentos de maquinário e de implementos.
Nas vantagens do projeto, Ribeiro ressalta que a fazenda reúne alguns pontos positivos. Além da escala, a região em que a fazenda está instalada, com irrigação, traz um custo de produção menor, principalmente em função da maior produtividade em sacas de café que é possível obter em relação a outras regiões, como o sul de Minas, por exemplo.
“O custo por hectare de uma fazenda no Sul de Minas fica em torno de R$ 15 mil a R$ 18 mil. Quando vai para a Jacurutu, isso fica em torno de R$ 25 mil por hectare, considerando irrigação e a fertilização mais pesada. Porém, você colhe 45 sacas por hectare, ante a média de 25 a 30 no sul de Minas”, explica Ribeiro.